Sandra Lorenz: a mais-valia de ser portuguesa

Entrevista

27-07-2022

# tags: Turismo , Turismo de Portugal , Passaporte Português

Passaporte Português: Sandra Lorenz, PR and Media Relations do Turismo de Portugal na Alemanha, fala do seu percurso e do orgulho em representar Portugal nos mercados de língua alemã.

Dos tempos felizes em que, enquanto hóspede, se sentia fascinada com hotéis, até aos dias de hoje, em que, com a capacidade de improviso tão tipicamente portuguesa, consegue surpreender o rigor germânico, o percurso de Sandra Lorenz foi feito com determinação, mas também com paixão pela área. Só assim ultrapassar os desafios de mudar de vida e de país em pleno lockdown. 

Berlim é a sua casa desde fevereiro de 2020. Olhando para a data, é fácil perceber que, sem saber, a sua função como Product Manager do Turismo de Portugal para Alemanha, Áustria e Suíça teria desafios adicionais e inesperados.

“Cheguei a Berlim no final de fevereiro de 2020 e o mundo entrou em lockdown a 17 março! Costumo dizer que se quisesse ter ganho o Euromilhões devia ter apostado nessa altura”, diz, brincando com o timing do assumir de novas funções no preciso momento em que o turismo e os eventos são travados pela pandemia. 

Sandra Lorenz admite que foram tempos desafiantes: “Foi a minha primeira experiência fora, tudo o que eu tinha pensado que ia ser não aconteceu! Ficar dois anos sozinha, quase sempre em home office, numa cidade nova em total lockdown e sem conhecer ninguém… acho mesmo que não é para toda a gente! Foi muito difícil. Confesso que pensei algumas vezes em desistir e voltar. Por outro lado, pensava: ‘nem pensar eu não vou desistir assim, foi isto que eu quis, por isso vou aguentar. Afinal, a verdadeira experiência está a começar agora’”.

E foram muitos os desafios desses tempos: “Desde logo sair de casa, deixar a minha filha, a minha família, os meus cães, o meu Porto! Sair totalmente da zona de conforto. Viver pela primeira vez fora e sozinha! Costumo dizer que vivo com saudades!”, confessa.

Planear em alemão, improvisar em português

Ainda assim a adaptação não foi tão difícil, até porque tem várias vantagens: “O facto de falar alemão – aliás as minhas origens são 100% germânicas – e conhecer a cultura alemã ajudou e ajuda muito, consigo compreender e adaptar-me, sei como pensam!”.  

E se alguns aspetos da cultura germânica podem ser mais difíceis – como alguma brusquidão e frieza –, outros já começam a tornar-se “normais”: “Aqui tudo é planeado com imensa antecedência, não só em termos profissionais, mas também a nível pessoal; um simples jantar ou um programa qualquer, por exemplo ir ver uma exposição numa tarde de inverno num fim semana, é tudo programado imenso tempo antes! Eu não sou nada assim, mas agora lá me vou habituando!”. 

Este “intercâmbio” de formas de estar tem sido igualmente importante em termos profissionais. Sente mesmo que ser portuguesa é “uma enorme mais-valia'': "Pela nossa maneira de ser ‘tão portuguesa’, autêntica e genuína; ser simpática, disponível, humilde, nunca nada é impossível, mesmo estando a queimar todos os prazos!  Esta capacidade de adaptação, de, em pouquíssimo tempo conseguir organizar todo um programa de visita a Portugal e no final conseguir fazer as coisas acontecerem e tudo correr bem é algo que ‘baralha’ e ‘stressa’ o rigor germânico. Mas no final reconhecem o nosso trabalho, o profissionalismo e, acima de tudo e mais importante, ganham confiança! E a relação está criada”. 

De hóspede a coordenadora de eventos

A forma como Sandra Lorenz fala do seu trabalho revela, desde logo, uma grande paixão pelo que faz. Uma paixão antiga, que começou em criança, quando ia de férias com os pais e avós: “Ficávamos em hotéis e eu sabia que um dia ia trabalhar num hotel. Fascinava-me todo o ambiente, a ‘vida de hotel’, as diferentes pessoas, imaginar as suas histórias e vivências, a ‘máquina’ que estava montada com os vários serviços prestados, as festas organizadas, a música ao vivo no bar no final da tarde, os programas e atividades, os maravilhosos pequenos-almoços, as decorações, toda a harmonia que havia. Conhecer as pessoas, poder falar diferentes línguas. Era feliz!”, recorda.

O caminho profissional adivinhava-se e seria mais tarde conformado. “O meu pai achou que se era isso que eu queria, devia então experimentar e sentir tudo na pele, para ter a certeza”, lembra. “Aos 19 anos comecei como estagiária num hotel de 5 estrelas e com um plano intensivo de um ano de estágio, passando por todos os departamentos e secções. Tive a sorte de o fazer numa verdadeira escola naquele tempo – o Hotel Sheraton, no Porto”, sublinha. 

Sandra Lorenz lembra que “nessa época só havia três hotéis de 5 estrelas no Porto” e recorda a experiência “num hotel com uma marca e gestão internacional, com todos os seus standards e procedimentos, mas acima de tudo com pessoas maravilhosas e profissionais, em que tudo o que faziam era com uma enorme entrega e paixão”. “O ambiente entre todos era incrível e ainda hoje – o ´núcleo duro´ da altura – somos amigos”, salienta.

Tinham decorrido sete meses de estágio quando o diretor geral – que era alemão – quis falar-lhe: “Chamou-me e pensei que me ia chamar a atenção por alguma coisa que teria feito menos bem! Para minha enorme surpresa era um convite para deixar de ser estagiária e passar a ser colaboradora do hotel como coordenadora de banquetes e eventos. Imaginam a minha felicidade e excitação!” 

“E assim comecei na área de organização de eventos – desde simples reuniões de meia dúzia de pessoas, a congressos médicos com 350 pessoas (a máxima capacidade do hotel), a festas de anos, batizados e casamentos. E o meu trabalho era maravilhoso: tinha as duas vertentes – a parte da venda, o contato com o cliente e depois toda a parte da coordenação interna dos serviços com todos os departamentos do hotel”. 

A honra e o enorme orgulho de representar Portugal

O percurso profissional, iniciado em 1989, passou ainda por outros hotéis e pela Associação de Turismo do Porto – Convention & Visitors Bureau, até chegar a Berlim e ao cargo que ocupa atualmente e que a leva a dizer que “é uma honra e um enorme orgulho poder representar Portugal”: “Este sentido de missão e de tão grande responsabilidade é o que me faz acordar todos os dias e trabalhar com paixão, poder fazer mais e melhor. Poder – sei que sou uma ínfima gota num oceano – contribuir para o nosso crescimento, para o crescimento das nossas empresas e poder fazer parte do Portugal com mais e melhores oportunidades e cada vez mais competitivo”.

Sandra Lorenz sublinha que a perceção da marca Portugal nos mercados da Alemanha, Áustria e Suíça “é excelente, sem dúvida nenhuma”: “Somos o país do sol, do bom tempo, do mar, das pessoas de sorriso pronto, da ótima gastronomia, da segurança – isto logo em primeiro lugar! Claro que há muito a fazer (e ainda bem, assim continuo sempre motivada para fazer mais e melhor)”. 

“Estes mercados são ‘gigantes’, quer em volume quer na diversidade de produtos que procuram e nós em Portugal temos isso tudo e tanto para oferecer. Temos a prestação de todos os serviços – por parte de toda a cadeia do turismo – super bem preparados, excelentes infraestruturas e um ótimo serviço e orientação para o cliente! Mas como nós, há outros destinos, que são também gigantes. Assim, temos que nos diferenciar! É aliás o que estamos a fazer e a trabalhar a meu ver bem e de forma sustentada! Acredito que comunicar – com todos os players em todas as suas vertentes e integrada – é um dos fatores chave de sucesso”, explica.

Esta “descoberta de Portugal” está longe de ter terminado. O que falta ainda dar a conhecer de Portugal que possa gerar interesse de outro tipo de público? A resposta de Sandra Lorenz deixa novas pistas para o futuro: “Quando levamos as pessoas a descobrir Portugal, ficam absolutamente rendidas. Estamos no caminho certo e a fazer um trabalho fantástico – e quando digo estamos somos todos os que trabalham e se dedicam ao turismo, direta ou indiretamente. Tudo o que é sustentável é muito valorizado nestes mercados e temos que mostrar tudo o que se faz, cada vez mais, e em todo o território, nesta vertente. Tantos novos projetos, novos produtos…”.

© Olga Teixeira Redação

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