Álvaro Covões: o que esperar de 2023?

Reportagem

02-01-2023

# tags: Espetáculos , Açores , Cultura , APAVT , Congressos , Turismo de Negócios

Durante o 47º Congresso da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT), que se realizou nos Açores, ouvimos Álvaro Covões sobre as expectativas do promotor para 2023.

O que esperar de 2023? Estas são as impressões do promotor de espetáculos Álvaro Covões, que ouvimos à margem do Congresso da APAVT, realizado em São Miguel, nos Açores, entre 8 e 11 de dezembro.

Começando por aquilo que mais preocupa Álvaro Covões, o promotor destaca “o desfoque total dos líderes europeus para fazer face à crise. Quando ouvimos notícias como ‘Taxar os lucros excessivos das empresas de energia’ alguma coisa está errada, porque isso significa que, no caso da energia, da eletricidade e do gás, as empresas estão a ter uma margem superior, e portanto toda a economia, desde o cidadão individual às empresas, está a ser altamente penalizada”. E acrescenta, que “os Estados vão aparecer depois a dizer ‘Mas eles não vão ficar com o dinheiro, o dinheiro vem para nós’. Afinal, quem está a especular com os preços são os Estados!”

O responsável da Everything Is New (EIN) defende que é necessário “encontrar de uma vez por todas um mecanismo de fixação de preços da energia que seja real, que tenha a ver efetivamente com o mercado”. E dá o exemplo do Campo Pequeno, onde o preço da energia subiu “quatro a cinco vezes”. “Mas espera aí, então se 80% da nossa energia vem das barragens, das eólicas, o que se anda aqui a passar?”, garantindo que estamos a assistir neste momento “a um liberalismo selvagem”, curiosamente “numa Europa que ainda é de esquerda, e que receia o liberalismo”. “O que vemos é que os preços sobem, e não há controlo nenhum. O liberalismo não defende isso, prevê mecanismos para impedir a especulação. Devíamos estar já com medidas que tivessem um impacto direto nas famílias – não são 125€ que vão resolver o problema –, e nas empresas”.

Álvaro Covões destaca ainda o que se passa com a banca. “É uma vergonha”, afirma. “Todas as operações de crédito dos bancos aumentaram de preço, em função da Euribor, mas se fores lá pedir um depósito a prazo dizem que não te remuneram ou que te dão muito pouco”. O que nem todas as pessoas sabem, garante, “é que os bancos colocam o excesso de liquidez – e quase todos eles a têm –, a 1,5% ao dia, no Banco Central Europeu. Isto até estaria certo se do outro lado as taxas não subissem, do lado do crédito, mas sobem. Estão a aumentar drasticamente as margens, e ninguém está a fazer nada. Isto obviamente preocupa-me, porque vai afetar mais uma vez as empresas e as famílias”.

Dinheiro no bolso


Uma promotora depende do dinheiro que os seus clientes têm disponível. E é uma luta, reconhece o responsável da EIN, porque a concorrência é muita: são as viagens, são os livros, são os restaurantes… e se o dinheiro disponível diminuir, pode ser um problema. Apesar de não ter “uma bola de cristal”, Álvaro Covões tem a noção de que o produto que vendem é dirigido a “uma faixa estreita da população”, o que os deixa menos expostos a estas flutuações nos bolsos dos consumidores.

Disponíveis para trabalhar


Para uma promotora de espetáculos, os custos essenciais são a renda de um escritório e salários, descreve Álvaro Covões, “durante a pandemia esse apoio mínimo foi garantido: apoio às rendas, lay-off… por isso, as empresas, mesmo a sofrer, não entraram em colapso. Não é a mesma coisa que uma empresa de palcos, que não alugou um palco durante dois anos, e que tem um investimento intensivo, dívidas ao banco, que tem que pagar. Essas empresas é que eram o meu foco, enquanto representante de uma associação de promotores de espetáculos (a APEFE). Por isso, durante a pandemia, estava sempre a falar nos técnicos, nas empresas de audiovisuais, nas salas de espetáculo… Porque, apesar de nós estarmos a sofrer, como promotores, uma coisa era certa: a nossa salvação, das nossas empresas e de todo o setor, só poderia acontecer se, no dia em que nos dissessem, ‘Podem trabalhar’, todos estivessem disponíveis para trabalhar. Isso, no nosso setor, aconteceu. Claro que houve pessoas que saíram, mas muitas ficaram e as empresas sobreviveram. E ao contrário de outros setores, como o turismo, conseguimos manter os padrões de serviço”.

De uma maneira geral, para os eventos, 2022 foi um bom ano, garante o responsável da EIN. “Isso significa que já recuperámos? Não! Por exemplo, para o Nos Alive eu vendi bilhetes durante quatro anos civis diferentes, 2019, 2020, 2021 e 2022. Vendi durante quatro anos bilhetes para 2022. E este empurrar das coisas para a frente acabou por ter um efeito muito positivo, porque as coisas aconteceram – em termos contabilísticos, só há proveitos quando o espetáculo se realiza. Agora voltamos à normalidade: estamos a anunciar o Alive do próximo ano mas já só são nove meses de venda, não são 48”.

A subida dos custos


Ninguém sabe como vão subir os custos, mas ter que lidar com essa imprevisibilidade “faz parte da natureza das empresas”, acentua Álvaro Covões. “No meio disto tudo também aparece quem pensa, ‘Estivemos parados dois anos, vamos recuperar três num’, mas de uma maneira geral as pessoas querem consolidar trabalho, e os fornecedores também precisam de clientes”.

Afinal, o que podemos esperar de 2023, Álvaro Covões? “Acho que vai correr bem. Tenho alguma expectativa positiva. Já levámos tanta pancada neste século XXI! Crises, pandemia, guerra na Ucrânia…”


*A Event Point viajou a convite da APAVT