Expectativas em alta para 2022

Reportagem

09-02-2022

# tags: DMC , Agências , Eventos , Turismo de Negócios , Meetings Industry

Depois de um 2021 desafiante marcado sobretudo pela instabilidade característica destes últimos dois anos pandémicos, o setor de eventos e congressos olha com otimismo para o ano que agora tem início. 


Adaptação e resiliência. Estes foram alguns dos atributos que caraterizaram a atuação diária das empresas de organização de eventos e congressos durante o ano de 2021. Perante os contínuos desafios provocados pela instabilidade incessante das restrições da pandemia e das suas variantes, os players do setor tiveram de se reinventar para responder e fazer ressurgir os tão aguardados eventos e congressos presenciais.

Apesar das adversidades, é unânime afirmar que foi possível assinalar um início da retoma no ano que findou. Para 2022 existe um sentimento de otimismo generalizado, mas cauteloso. Isto, porque a pandemia pode voltar a trocar as voltas.

“Foi um ano de gestão a curto prazo”, começa por dizer Marjolaine Diogo da Silva, managing partner da Fórum d’Ideias PCO & DMC. A empresária descreve que a equipa se deparou com as mais diversas situações ao longo do ano, desde a ausência de resposta por parte dos clientes às propostas apresentadas, ao adiamento de eventos próximo da data, ou à decisão da realização de eventos em cima da data. Já para não mencionar “as constantes alterações das medidas de prevenção do contágio da covid‑19 e o surgimento de novas variantes”. No entanto, comparando com 2020, onde foi imperativo que a equipa tivesse formação e se reinventasse, a responsável assinala que houve, sim, necessidade de se manterem resilientes. 2021 foi também o ano em que a Fórum d’Ideias retomou a organização de eventos presenciais, importantes para “recuperar a conexão entre as pessoas e as emoções que as ligam às empresas e associações, bem como proporcionar o bem‑estar físico e psicológico”, destaca. O impacto que o confinamento teve nas pessoas tornou “imperativo” o regresso de momentos de “partilha de experiências para que fosse possível encurtar o distanciamento, fortalecer laços, relembrar a cultura da empresa, os seus valores e restaurar a confiança”, afiança Marjolaine Diogo da Silva.

Na Abreu Events também se registou “uma ligeira retoma” dos eventos quando as restrições foram levantadas, afirma Jorge Coelho, managing diretor. Esta recuperação verificou‑se especialmente nos eventos de lazer, com destaque nos destinos da Madeira e Açores, mas também na vertente associativa que teve “muitos eventos virtuais e alguns presenciais híbridos de pequena dimensão”. Até esta retoma, a Abreu Events teve de lidar com a “incerteza da viabilidade operacional, dadas as restrições e regras impostas para os eventos corporativos e associativos”. A par destas dificuldades, Jorge Coelho aponta alguns constrangimentos que se verificaram, por exemplo, na contratação de serviços aos fornecedores. “A pouca flexibilidade e capacidade de adaptação à nova realidade, com prazos extremamente curtos e condições de cancelamento que penalizam o cliente, levou ao adiamento da confirmação de eventos que podiam ter acontecido no segundo semestre de 2021”, sublinha. A “permanente incerteza foi de todos o maior desafio”, assinala por sua vez Rui Calapez, CEO da Buzz Portugal DMC. No entanto, isso não impediu que a Destination Management Company (DMC) não tivesse “um ano de sucesso”, tanto na operação em Portugal como em Espanha. A recuperação da atividade fez com que a equipa da Buzz Portugal tivesse de, “em tempo recorde, se adaptar duma situação de quase parking para full speed”.

Também a equipa da agência de eventos Prestígio se adaptou à nova realidade, seja ao nível da “comunicação, criatividade, operação e logística” num ano em que a operação foi “bastante turbulenta e atípica”, como descreve o seu CEO, Pedro Santos Costa. Vários desafios impactaram a operação da Prestígio ‑ que criou e produziu o maior evento corporativo para o Novo Banco para 3.500 pessoas‑, especialmente a “gestão da escassez de fatores de produção e, consequentemente, um aumento do valor destes, a gestão de datas e disponibilidades para a realização dos eventos, como também a gestão cirúrgica das expectativas dos nossos clientes”.


Marjolaine Diogo da Silva

A tão esperada retoma?

Depois da árdua gestão e resiliência que as empresas experienciaram em 2021, o início de um novo ano traz uma energia renovada para encarar as adversidades, mas também um otimismo moderado com as reservas a apontarem para um melhor ano no setor.

A Prestígio conta com alguns eventos adjudicados para 2022, que “não são nem em valor, nem em número, semelhantes à pré‑pandemia”, refere Pedro Santos Costa. Porém, ainda com os eventuais ajustes no primeiro trimestre e a incerteza da evolução da pandemia, o responsável afirma, “com algum otimismo, que as perspetivas não são más”.

Também na Buzz Portugal as previsões são melhores para 2022 do que “tínhamos em 2019 para 2020”, indica Rui Calapez, que prevê um ano semelhante a 2021, “com muitas dúvidas, mas, sendo talvez um pouco otimista demais, acredito na retoma e que possamos ter mais negócio”. Na empresa, os pedidos têm‑se sucedido, bem como as confirmações e visitas de inspeção, o que leva o empresário a acreditar “que faremos um bom 2022”. No entanto, o responsável não deixa de apontar algumas condicionantes que podem afetar estas previsões, como sejam as incertezas sobre possíveis restrições, a situação da TAP e das constantes alterações dos horários dos voos, mas também “as situações pandémicas nos países de origem dos nossos clientes”.

Devido à nova variante do vírus, a incerteza neste primeiro trimestre mantém‑se, mas na Abreu Events o número de eventos confirmados está “em linha com anos anteriores pré‑covid”. “Aguardamos expectantes, diz Jorge Coelho. Na Fórum d’Ideias existem alguns eventos também adjudicados para o ano que agora se inicia, especialmente do mercado europeu. Segundo Marjolaine Diogo da Silva, “acreditamos que nos próximos tempos vamos estar limitados à Europa”. “No entanto, estamos otimistas em relação a 2022, uma vez que a vacinação está muito avançada em Portugal e na Europa e já estamos todos mais adaptados à nova realidade com a presença do vírus”, ressalva. A previsão da Fórum d’Ideias aponta para um regresso dos eventos presenciais, com a responsável a prever que estes “se mantenham em 2022 e sem redução no número de participantes”, mas também com todo o tipo de funções de antigamente, desde jantares com ‘after‑party’, atividades, entre outras componentes.

Na Fórum d’Ideias existem alguns eventos também adjudicados para o ano que agora se inicia, especialmente do mercado europeu. Segundo Marjolaine Diogo da Silva, “acreditamos que nos próximos tempos vamos estar limitados à Europa”. “No entanto, estamos otimistas em relação a 2022, uma vez que a vacinação está muito avançada em Portugal e na Europa e já estamos todos mais adaptados à nova realidade com a presença do vírus”, ressalva. A previsão da Fórum d’Ideias aponta para um regresso dos eventos presenciais, com a responsável a prever que estes “se mantenham em 2022 e sem redução no número de participantes”, mas também com todo o tipo de funções de antigamente, desde jantares com ‘after‑party’, atividades, entre outras componentes.


Jorge Coelho

Eventos digitais ainda se mantêm, mas mercado anseia por atividades presenciais

A situação pandémica trouxe consigo um aumento do volume de eventos digitais e híbridos, que solucionaram a impossibilidade das pessoas se reunirem fisicamente. Apesar da maioria afirmar que estes vieram para ficar, é também unânime em afirmar que estes não substituem os eventos presenciais.

Como justifica Jorge Coelho, “o Homem é um ser que necessita de socializar, pelo que é nossa convicção que o presencial irá sempre sobrepor‑se ao virtual e híbrido”. No entanto, acrescenta ainda o managing partner da Abreu Events, “dadas as restrições e regras de segurança no controlo da propagação do vírus, haverá uma tendência para a adoção de eventos híbridos com vista a potenciar a participação nos eventos”.

Para Pedro Santos Costa, quer os eventos híbridos, quer os digitais “vieram para ficar”, seja para “colmatar alguma impossibilidade de presenças físicas, mas também, na grande maioria dos casos, aumentarem as suas audiências”. Porém, considera que os conteúdos dos eventos digitais “devem ser pensados de uma forma diferente para que a experiência de quem os assiste de forma remota seja o mais imersiva possível”.

Se, por um lado, os pedidos para eventos “100% presenciais” são um facto na Fórum d’Ideias, no que toca aos congressos Marjolaine Diogo da Silva já refere que se pedem orçamentos para presencial e híbrido. Ao contrário do que era inicialmente falado no mercado, aponta, não se têm registado orçamentos mais limitados. “Sentimos que há uma procura por qualidade superior, atenção ao detalhe e são valorizadas todas as atividades e momentos de convívio que permitam aos participantes ter uma experiência memorável e de interação”, revela a responsável, que assinala ainda o regresso dos pedidos de incentivos. A responsabilidade social e a sustentabilidade são as duas grandes tendências em destaque identificadas pela Fórum d’Ideias.

Rui Calapez também é da opinião de que estes últimos dois anos de confinamento fizeram com que os eventos presenciais se tornassem “ainda mais desejados”. Os pedidos pelos mesmos têm dependido de mercado para mercado, refere. Os incentivos, indica, “ainda que de menor dimensão”, estão a ser confirmados, enquanto nos congressos ou eventos existe a preocupação da realização dos mesmos de forma híbrida, algo que já era uma tendência antes da covid‑19. Atividades em plena natureza, ajuste da dimensão dos eventos aos espaços disponíveis, mas também uma maior aposta pela “diferenciação para obter eventos de valor acrescido” são as tendências que o profissional aponta para os eventos dos próximos tempos. Controlar orçamentos e negociar condições de contratação mais flexíveis e menos penalizadoras vão ser tarefas imperiosas para o sucesso dos eventos, refere Jorge Coelho. O responsável alude ainda à continuidade dos eventos híbridos que, “apesar dos custos acrescidos que implicam, serão uma tendência para colmatar a impossibilidade de as pessoas viajarem, assim como uma evolução para um ‘novo normal’ nas relações humanas”.

A par dos eventos digitais e híbridos, a flexibilidade já característica de quem os produz ganhou um novo ênfase e terá de continuar a ser comum em toda a cadeia de valor. Como refere a responsável da Fórum d’Ideias, “não há forma de trabalhar em eventos sem flexibilidade” e esta é crucial que exista em todos os intervenientes.

Para o managing partner da Abreu Events, flexibilidade é “a palavra de ordem e uma necessidade crucial para a sobrevivência do setor”. Da mesma opinião partilha Pedro Santos Costa, para quem a flexibilidade por parte das agências de eventos corporativos “sempre esteve em cima da mesa”. “Por muito planeamento, profissionalismo e organização que uma agência tenha, haverá sempre imprevistos e alterações de última hora e temos sempre que estar preparados e arranjar soluções para elas. A agência que não tenha esse ‘jogo de cintura’ é porque não está na indústria certa”, defende. Já Rui Calapez considera que vai ser essa flexibilidade que será um elemento “diferenciador entre a oferta nacional versus países onde essa flexibilidade historicamente não existe”.

No entanto, a flexibilidade pressupõe um custo acrescido e, para Jorge Coelho, este custo não pode passar na totalidade para o lado do cliente. “Terá de haver ponderação na contenção dos custos, sob o risco de deixarmos de ser competitivos”.

São as confirmações ‘last minute’ que, para a responsável da Fórum d’Ideias, podem aumentar o custo da flexibilidade, “uma vez que implica reforçar a equipa antes e durante o evento para garantir uma resposta eficaz”. Na generalidade, Marjolaine Diogo da Silva diz que ainda não se assiste a “um aumento significativo dos preços, mas acreditamos que será inevitável”.


Rui Calapez

Carência de capital humano

Com um setor marcado sobretudo por profissionais que trabalham a recibos verdes, não foi surpresa quando estes viram os seus rendimentos reduzidos a zero procurassem outras atividades menos afetadas pela pandemia e com remunerações mais estáveis. Com a retoma do setor dos eventos no horizonte, a dificuldade foca‑se agora em voltar a atrair os bons profissionais, sendo encarado como um dos principais desafios para os próximos tempos.

A ausência de recursos humanos, seja em hotelaria, venues, restaurantes ou outros, afeta diretamente a capacidade de resposta na área, aponta Rui Calapez. Para o CEO da Buzz Portugal a solução passa por uma melhor remuneração. “Infelizmente, a precariedade de grande parte dos trabalhadores na área de eventos, sobretudo na animação, ficou a nu com a covid, o que fez muitos procurarem outras formas de rendimento”.

A perda de profissionais qualificados implica uma duplicação do trabalho da agência, refere Marjolaine Diogo da Silva. “Não havendo estabilidade, nem previsibilidade na atividade, é difícil haver um investimento mais sério na área dos recursos humanos e sabemos que os bons profissionais têm o seu custo”, salienta. A profissional alerta ainda para o facto de que sem “um investimento mais sério na área dos recursos humanos” a qualidade dos eventos pode estar comprometida. Mas esta não é a única apreensão da responsável. “A missão (quase) impossível de gerir os recursos, com custos fixos elevados e receita baixa, imprevisível e inconstante”, suscita preocupação.

Jorge Coelho considera que a “difícil gestão dos recursos humanos”, e consequente “falta de pessoal qualificado”, é uma das duras tarefas que as empresas do setor vão ter pela frente. O managing partner da Abreu Events considera importante “voltar a passar a mensagem de que esta área, e o setor das viagens e turismo em geral é atrativa para o desenvolvimento de carreiras profissionais e de realização pessoal”. Aos recursos humanos, o responsável junta os desafios do controlo orçamental e de investimentos.

Investir mais em formação para atrair esse capital humano é uma das propostas de Pedro Santos Costa, algo que podia contar com o financiamento do Estado. O profissional considera ainda que a resiliência, propósito e transformação digital vão ser os desafios da operação durante este ano.


Pedro Santos Costa

Setor quer manutenção dos apoios públicos

Com a retoma no horizonte, as empresas do setor continuam a precisar do apoio do Estado para manterem as suas atividades e fazerem face à procura que há‑de vir. Para Marjolaine Diogo da Silva é “fundamental” que o Estado mantenha o apoio às empresas nos próximos meses de época baixa, para que “possam dar resposta à retoma da atividade provavelmente só na próxima primavera”. Rui Calapez salienta que apoiar a indústria não pode ser visto como um “ato de solidariedade”, mas sim “um ato de sobrevivência nacional”. E relembra que, dos apoios que, por exemplo, a Buzz recebeu, “não mais do que 20% foram dos impostos que a empresa entregou em 2019”.

Na perspetiva do CEO da Prestígio, Pedro Santos Costa, o Estado deve ser “mais interventivo” e ajudar a indústria “que tanto tem feito por este país”. “Até aqui nada disto se verificou, as ajudas foram miseráveis e só quem tinha uma boa estrutura conseguiu vencer a enorme crise que estamos a passar”, sublinha.

A necessidade da continuação de apoios ao setor das viagens e turismo é algo que Jorge Coelho também defende, relembrando que se trata de um setor “fortemente exportador e tem ainda muito para dar ao país”. Uma vez recuperada a atividade, Jorge Coelho acredita que o setor vai continuar a “potenciar riqueza e, consequentemente, melhores condições de empregabilidade”.


Raquel Relvas Neto