Do desperdício à inovação: Criar eventos sustentáveis

Opinião

12-06-2025

# tags: Festivais , Eventos , Sustentabilidade

Quando foi a última vez que participou num grande evento — seja um festival, uma feira, uma conferência ou um jogo de futebol? E o que mais lhe chamou a atenção?

Para mim, é impossível ignorar a quantidade de copos e garrafas de plástico descartados. O consumo massivo de eletricidade, como nos concertos, também é evidente. Não há dúvida: a indústria de eventos tem um impacto ambiental significativo, desde o desperdício até à sua pegada de carbono.

Mas o que tem isto a ver com criatividade e inovação? Muito. Os eventos são espaços férteis para a inovação e podem — e devem — ser motores de uma transformação sustentável. A grande questão é: como integrar a sustentabilidade sem comprometer a dimensão emocional e a qualidade da experiência vivida pelo participantes? A sustentabilidade não deve ser encarada apenas como uma obrigação, mas como uma oportunidade criativa.

Pensar criativamente significa explorar diversas possibilidades e encontrar novas perspetivas para resolver problemas. Se aplicarmos este pensamento ao design de festivais e conferências, podemos adotar estratégias circulares. Não se trata apenas de reciclar ou reutilizar materiais e equipamento. Podemos ir mais longe: utilizar apenas recursos locais, minimizar o desperdício e repensar modelos de negócio, através de novas parcerias. Um exemplo inspirador é a estratégia do Loop, onde os eventos aproveitam os desperdícios de outras indústrias e, por sua vez, disponibilizam os seus resíduos como recursos para outros setores. Outra abordagem inovadora é a utilização da gamificação e da tecnologia para sensibilizar e envolver o público. Suponho que já existem apps que permitem aos participantes medir a sua pegada ecológica durante o evento, incentivando comportamentos mais sustentáveis através de desafios divertidos e recompensas atrativas.

Um evento sustentável não significa uma experiência menos cativante a nível emocional — pelo contrário, pode ser ainda mais memorável ao criar ligações autênticas com o público. A cenografia composta por elementos naturais, instalações interativas com materiais reutilizados ou espetáculos movidos a energias renováveis são exemplos de como elementos imersivos podem alinhar-se a princípios ecológicos.

A gastronomia sustentável, destacando ingredientes locais e sazonais, enriquece a experiência sensorial dos participantes, enquanto a gamificação e pequenas escolhas conscientes aumentam o sentido de pertença e envolvimento do público.

Não há limites na geração de ideias. O essencial é a intenção de mudar a indústria dos eventos – por parte dos organizadores, mas também do público. Neste contexto, um caso exemplar é o Boom Festival, que tem vindo a implementar uma missão ambiciosa de autossustentabilidade, com um compromisso sério em não contaminar a natureza e em educar para a consciência ecológica.

As práticas sustentáveis do Boom Festival incluem o uso de energias solar e eólica, o tratamento das águas do evento através de biotecnologias, sanitários ecológicos sem produtos químicos e uma organização espacial baseada nos princípios da Permacultura. Desde 2012, o festival tem sido repetidamente premiado pelo seu esforço em tornar-se um evento totalmente sustentável. Outros eventos do mesmo caráter ou de outras indústrias podiam inspirar-se em eventos como este, adaptando soluções ao seu contexto.

A mudança começa claramente com os organizadores de eventos, mas as marcas patrocinadoras também devem envolver-se. Criar experiências memoráveis e sustentáveis significa transformar eventos em verdadeiros laboratórios de inovação para um futuro melhor. Sustentabilidade não é um obstáculo à criatividade - é um acelerador da inovação.

Os eventos podem ser espaços de transformação, inspirando os participantes a agir de forma mais consciente e responsável. Por isso, deixo aqui uma última reflexão: como criar eventos mais impactantes com menor impacto?

© Katja Tschimmel Opinião

Consultora em criatividade e embaixadora portuguesa da World Creativity and Innovation Week

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