A semiótica cultural, fronteiras e turismo como força para o bem

Opinião

21-05-2025

# tags: Açores , Eventos , Turismo , APECATE

As fronteiras culturais não são apenas divisões físicas, mas também psicológicas e semióticas (Yuri Lotman desenvolveu a semiótica cultural como um campo de estudo que examina os sistemas de signos e símbolos dentro de uma cultura).

Delimitam a identidade cultural, determinando o que é internalizado como parte do património cultural de um grupo e o que é rejeitado ou marginalizado.

O turismo, ao cruzar essas fronteiras, pode ter um impacto significativo. Pode ser uma força para o bem, promovendo o entendimento intercultural e a valorização do património cultural e natural. No entanto, também pode ameaçar a identidade cultural local se não for gerido de forma sustentável.

A influência do centro para a periferia

Lotman argumenta que as dinâmicas culturais são muitas vezes definidas pela interação entre o centro e a periferia. O centro é o locus de poder e autoridade cultural, onde os principais significados e valores são criados e disseminados. A periferia, por outro lado, é o local onde essas influências são recebidas, adaptadas ou resistidas.

Os Açores são um exemplo desta dinâmica na relação entre o continente português (centro) e as ilhas (periferia).

O isolamento geográfico das ilhas contribuiu para a formação de uma identidade distinta, mas também resultou em tensões entre a preservação das tradições locais e a influência das políticas e culturas do continente.

Essa tensão pode levar a uma “prisão identitária”, onde a necessidade de preservar a identidade cultural insular pode transformar-se numa resistência à integração e ao intercâmbio cultural, algo que o turismo pode tanto exacerbar quanto ajudar a aliviar.

Turismo e prisão identitária

O turismo, quando mal gerido, pode contribuir para a “prisão identitária”. Quando uma cultura se fecha em si mesma, as fronteiras semióticas tornam-se rígidas, dificultando a entrada de novos significados e a adaptação a novas influências. Isso pode resultar num ambiente cultural estagnado, onde a inovação é vista com suspeita e desconfiança.

No entanto, o turismo também pode ser uma ferramenta poderosa para superar essa prisão. Ao promover o diálogo intercultural e a troca de experiências, o turismo pode ajudar a abrir as fronteiras semióticas, permitindo que a cultura local se enriqueça com novas influências sem perder sua essência.

A cultura local não precisa ser vista como estática. Pode evoluir e incorporar novos elementos, mantendo a sua essência e significância enquanto se adapta às novas realidades trazidas pelo turismo.

Reflexões finais

A semiótica cultural de Yuri Lotman oferece uma perspectiva valiosa para entender o impacto do turismo na açorianidade e no conceito de prisão identitária. Ao reconhecer as suas fronteiras semióticas e as dinâmicas entre o centro e a periferia, os açorianos podem encontrar maneiras de preservar a sua identidade única enquanto se abrem para novas influências através do turismo sustentável. Isso não só enriquecerá a cultura local, mas também fortalecerá a capacidade dos Açores de se adaptar e prosperar num mundo globalizado.

© Carlos Picanço Opinião

Diretor da Futurismo Azores Adventures e coordenador da Plataforma Nacional de Turismo

LinkedIn