Enfrentar o inesperado: o que um apagão nacional nos ensinou sobre a resiliência nos eventos
30-06-2025
# tags: Europalco , Eventos , Audiovisuais
Na segunda-feira, 28 de abril, um apagão de grande escala apanhou Portugal e Espanha de surpresa. Tal como muitos profissionais do setor dos eventos, na Europalco, estávamos em plena operação – com vários eventos a decorrer em simultâneo na região – quando tudo ficou às escuras por volta das 11h30.
Nesse dia, tínhamos dois eventos já em curso e mais dois em fase de montagem. Nos eventos a decorrer ao vivo, ambos os clientes optaram por cancelar. Uma das montagens prosseguiu conforme planeado; a outra foi interrompida após o cliente considerar o cenário demasiado incerto. Em todos os casos, as decisões foram tomadas com rapidez e serenidade, tendo sempre em conta a segurança dos convidados e a qualidade do serviço.
Do ponto de vista técnico, estávamos relativamente bem preparados. Os nossos equipamentos principais estavam ligados a sistemas UPS que poderiam sustentar a operação durante cerca de duas horas. Mas um evento não é apenas audiovisual.
Em ambos os casos ao vivo, os serviços de catering não tinham soluções de contingência e, sem comida ou bebida, continuar deixou de ser viável. Esta foi uma das principais lições: a resiliência é tão forte quanto o elo mais fraco – e num evento ao vivo, todos os fornecedores fazem parte dessa cadeia.
Quando se confirmou que o apagão era mais do que uma falha momentânea, tomámos medidas adicionais: reduzimos as equipas no local ao pessoal essencial e diminuímos o consumo de energia sempre que possível. A logística e a preparação para eventos futuros continuaram com o apoio de geradores.
Mas a comunicação foi um desafio diferente. Quando as redes móveis e a internet falharam, ficámos praticamente isolados – sem conseguir contactar os clientes nem confirmar prazos ou mudanças nos planos.
Foi um momento estranho. Não houve pânico, mas houve um sentimento partilhado de estarmos a viver algo totalmente novo. Esse sentimento inicial deu lugar a algo mais construtivo: a consciência de que isto pode voltar a acontecer e de que temos de estar ainda melhor preparados.
Nenhum sistema é infalível – nem em Portugal, nem em nenhum outro país. Contamos com redundâncias e sistemas de backup, mas esta experiência mostrou-nos que falhas podem acumular-se quando certas condições se alinham. A verdadeira questão não é como evitar todas as interrupções possíveis. É como nos adaptamos e seguimos em frente quando elas acontecem.
Na Europalco, temos há muito planos de contingência para falhas técnicas ou logísticas. Ainda assim, este evento revelou pontos onde a nossa autonomia energética pode ser reforçada. Estamos agora a avaliar como prolongar a continuidade operacional em futuras situações semelhantes, sobretudo quando os eventos exigem atividades críticas ou com timings apertados.
Há também uma reflexão mais ampla a fazer – especialmente por parte dos organizadores. Para eventos com elevada responsabilidade ou visibilidade, recomendamos seriamente a avaliação da necessidade de apoio energético independente.
Não é uma decisão fácil – os sistemas de backup representam um custo adicional e os orçamentos são sempre uma preocupação. Mas o risco de cancelamento total pode ultrapassar qualquer poupança. No fim, trata-se de perceber o que está em jogo e planear em conformidade.
O apagão de abril foi um alerta, não apenas para a Europalco, mas para todo o setor. Mostrou-nos que a resiliência não é apenas técnica – é também logística, humana e colaborativa. Todos precisamos de fazer melhores perguntas sobre os sistemas em que confiamos e ser honestos quanto ao que faríamos se eles falhassem.
Porque, como agora sabemos, por vezes falham mesmo.

© Pedro Magalhães Opinião
CEO da Europalco