O Propósito não é mais suficiente*
14-07-2025
# tags: Eventos
Um director atirou assim, como que para o ar, que ao cliente não importavam conceitos, só resultados, palpáveis entenda-se.
Neste compasso, atravessaram-me ignomínias e outros tantos indizíveis, que no final me deixaram sem pé.
Que fazia ali?
Nem tanto tempo depois, o conceito, o propósito e outros que tais – a intenção também se usa – enformam o léxico banalizado de todos (ou quase) os que por aqui andamos.
A minha passagem longínqua – intermitente também – pela arquitectura converteu-se em palimpsesto, sobre o qual repousam os pressupostos do que lhe sucedeu.
E nesse tempo da arquitectura que não chegou a ser, no Convento de São Francisco, o adulto na sala fala do projecto que nasce e ganha forma em volta de uma singela árvore. Considerei entender no gesto a homenagem ao ser árvore, belo, palpitante e orgânico. Desenganei-me. No final o arquitecto mata a árvore, fá-la sumir-se.
No movimento do tempo, regresso a esta história aqui e ali
A coerência formal do que se desenvolve em volta da árvore sustenta-se para além desta, na medida em que o projecto seja capaz de estabelecer uma identidade própria.
A retirada da árvore nada mais representa do que o reconhecimento da importância da intenção no processo criativo.
Convertida tornei-me crente, depois activista. Interessam-me os conceitos que decorrem de um propósito (motivação de fundo e mais amplo), ou de uma intenção (que apoia o propósito e foca a ação). Nem mais.
Sendo tempo de uma pretensa maioridade…
Cresceu o ressoar. A ideia de um propósito que, “tangibilizado” em conceito, é capaz de se conectar emocionalmente com o seu público, gerando identificação e reconhecimento.
Chegar lá é como um dia de verão daqueles, uma vitória que se sente antes de se saber, um “na mouche” que transborda inspirado.
Para dizer a verdade é o ressoar que me salva: digo-me que há algo de bom no que fazemos, que participamos e contribuímos para esta movida do ser interior e social que somos e que passa por trabalhar mensagens que são maiores do que as marcas: Ele há marcas que são maiores porque feitas de pessoas que são grandes e admiráveis.
Grata, tanto tanto tempo depois.
*“O propósito não é mais suficiente. Precisamos de um propósito que faça sentido e que ressoe com os outros.” (Seth Godin)
A autora escreve segundo o antigo acordo Ortográfico

© Renata de Amaral Opinião
CEO da Couture Agency