Marta Gomes: Os eventos estão a sofrer uma profunda transformação

18-09-2019

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Nasceu no Porto, mas vive em Paris há vários anos, onde ocupa o cargo de diretora de vendas internacionais da Viparis, entidade que gere vários venues na capital francesa.

Atualmente é vice‑presidente da ICCA (International Congress and Convention Association) e partilhou com a Event Point os desafios, quer do setor, quer da associação.

Bilingue desde os três anos de idade, Marta Gomes frequentou a British School do Porto e a Escola Internacional de Lisboa. Na Escócia completou um mestrado em inglês e história, na Universidade de Saint Andrews, tendo daí seguido para Londres onde trabalhou durante algum tempo. “Sempre quis um emprego com conexões internacionais e comecei por querer ser diplomata. O meu francês não era fantástico na época, então encontrei um estágio em Paris na AICEP (Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal) e descobri a indústria MICE, organizando os pavilhões portugueses em exposições têxteis”. Desde então trabalha em vendas internacionais, assumindo sempre cada vez mais responsabilidade e gerindo equipas maiores.

“O que eu mais adoro no meu trabalho é conhecer pessoas fascinantes e apaixonadas, que são frequentemente as maiores especialistas mundiais na sua área, grandes cientistas, médicos, investigadores e executivos de alto nível, cujo evento é de grande importância e com quem trabalho de perto no meu dia a dia”, sublinha Marta Gomes, lembrando o esforço de equipa que é organizar e receber um evento, um trabalho que muitas vezes pode demorar anos e que exige uma estreita colaboração entre todos os envolvidos no sentido de alcançar o sucesso.

Ligada a vários venues da capital francesa, Marta Gomes acredita que os eventos empresariais estão a sofrer “uma profunda transformação”. “Os participantes, expositores e patrocinadores esperam experiências e conexões mais significativas e personalizadas e exigem mais inovação e criatividade em todos os aspetos da experiência do evento, desde a entrega de conteúdo, ferramentas de networking, ao bem‑estar, e mais preocupações de sustentabilidade”, sublinha a responsável. O desafio parece ser então “oferecer aos nossos clientes a infraestrutura e as soluções técnicas para viabilizar essa inovação: wi‑fi de alta densidade, áreas de networking com estações de carregamento de baterias, oferta de alimentos mais variada, autêntica e local, transporte mais ecológico, menos desperdício, melhor energia. Essas são todas as preocupações com as quais a Viparis trabalha para uma melhor experiência do cliente”, refere Marta Gomes.

Em 2018, Paris saltou para o 1º lugar do ranking da ICCA, apesar de uma série de tensões políticas que abalaram a cidade, nomeadamente a situação do movimento dos coletes amarelos. Marta Gomes elenca alguns dos argumentos que fazem desta a principal cidade para eventos associativos do mundo. “Paris não é apenas a Torre Eiffel. É a cidade mais bonita, mais romântica, mais na moda, todos têm a sua razão especial para amar Paris. Mas Paris também é uma cidade comercial dinâmica, com mais de 800.000 empresas, variando de setores, de alta tecnologia a atividades industriais tradicionais. É também uma cidade de inovação, com um ecossistema de start‑ups que é hoje um dos mais ativos do mundo. É uma cidade da ciência e da saúde, com mais de 100.000 investigadores e representando a principal região na Europa em termos de despesas de pesquisa e desenvolvimento”. É o contraste entre ser uma das cidades mais visitadas do mundo, e uma cidade onde vivem 12 milhões de pessoas, que tornam Paris atraente para eventos, até porque todas as infraestruturas necessárias para grandes eventos já existem. Quanto à situação política, a vice‑presidente da ICCA acredita que não impediu as pessoas de participarem em eventos na cidade. “Tenho orgulho do presidente e do governo da França, que têm uma forte visão de reforma do país para torná‑lo pronto para o futuro: gosto da sua atitude pró‑negócios com campanhas como #ChooseFrance, da sua visão para a Europa e da sua atitude proativa em relação a questões ambientais, bem como posicionar a França enquanto uma nação start‑up”, refere.

A família ICCA

O desafio de integrar o board da ICCA é fruto de uma participação ativa na associação já desde 2006. “Senti‑me imediatamente atraída por essa vibrante comunidade internacional onde a troca de conhecimento é aberta e amigável. Muitas mensagens nas redes sociais relacionadas com a ICCA são tagadas como #ICCAFamily, o que realmente reflete o espírito da associação. É a única associação verdadeiramente global na indústria de reuniões, dedicada a moldar o futuro e valor das reuniões de associações internacionais”, afirma. A carreira na ICCA começou quando se tornou presidente do Capítulo França‑Benelux, entre 2009 e 2015, e em 2016, no congresso da Malásia foi eleita para o board. Nesta condição, o objetivo de Marta Gomes é contribuir para “tornar a ICCA mais forte, mais global e mais sustentável a longo prazo”. Com mais de um milhar de membros em todo o mundo e escritórios em todos os continentes, “agora é hora de solidificar a posição desses escritórios regionais e oferecer mais serviços a todos os membros em todo o mundo e ajudar a integrar as gerações mais jovens nos nossos membros. O nosso novo CEO, Senthil Gopinath, que é ex‑diretor regional no Médio Oriente, foi contratado para cumprir as metas estratégicas da ICCA, aproveitando os talentos da nossa equipa global”.

Indagada sobre a escassa presença de profissionais portuguesas na liderança de associações do setor, Marta Gomes relativiza. “Posso pensar em alguns líderes portugueses na nossa indústria, como Ricardo Vieira, que acabou de deixar o cargo de presidente do capítulo ibérico da ICCA, Mónica Freire, que é membro do Conselho da IAPCO [International Association of Professional Congress Organisers], e Miguel Neves que é membro do board do MPI [Meetings Professional International]. Realmente não sei dizer por que não existem mais, mas também poderíamos dizer o mesmo sobre os franceses”, lembra. Da passagem pela ICCA, Marta Gomes espera poder encorajar mais membros e mais mulheres a participarem e concorrem a eleições dos boards e dos capítulos.

Já de Portugal o que sente mais falta, confessa, é do mar. “E tudo o que vem com ele: peixe fresco grelhado, sardinhas, sapateira, mariscos...A lista é interminável!”
 

Cláudia Coutinho de Sousa 

© Cláudia Coutinho de Sousa Redação