Congresso Mundial da ICCA: futuro colaborativo e sustentável
14-11-2025
# tags: ICCA , Congressos , Porto , Meetings Industry
O Congresso Mundial da ICCA reuniu 1.400 delegados no Porto e destacou diversidade, sustentabilidade e colaboração, com legado local e inovação global.
O 64.º Congresso Mundial da ICCA (International Congress and Convention Association) decorreu no Porto, reunindo 1.400 delegados de 81 nacionalidades. O futuro foi traçado no Porto e este inclui diversidade, inclusão, sustentabilidade, criatividade e colaboração, num pacto com os destinos e as comunidades locais, para uma inovação global com ação local. O Porto & North Forever Pact é um legado e um convite à cocriação da mudança, em busca de impactos positivos e duradouros.
No final do Congresso da ICCA, foram destacados o papel transformador do setor na economia, o espírito colaborativo que se fez sentir no evento e o facto de esta ter sido uma edição multi-venue, levando os delegados a vários espaços da cidade do Porto, Vila Nova de Gaia e Matosinhos.
Destaque ainda para as campanhas ‘Portugal Means Business’ e ‘Big Trend by Ofelia Souza’, apresentadas durante o Congresso da ICCA pelo Visit Portugal e pelo Turismo do Porto e Norte, respetivamente.
O futuro das cidades e a economia de destinos
Ao longo dos três dias de congresso, uma organização conjunta da ICCA e do Turismo do Porto e Norte de Portugal, houve muita partilha de conhecimento e experiências. Na palestra de Greg Clark, no arranque no evento, foi feita uma reflexão sobre o futuro das cidades e os desafios da urbanização. O mundo caminha para um pico populacional em 2080 e Greg Clark alerta para a necessidade de políticas integradas que combinem clima, tecnologia, economia e fatores sociais.
Apresentou o conceito de ‘economia de destino’, que funde turismo, eventos empresariais, investimento estrangeiro, mobilidade internacional, educação e migração num único quadro competitivo e sustentável – uma abordagem que propõe que as indústrias passem a ser compreendidas como elementos interligados.
Greg Clark sublinhou ainda o ADN singular de cidades, como Porto – “o ADN do Porto é de descoberta” –, Manchester e Macau, que, através da sua história e cultura, encontram na diversidade e na reinvenção a chave para a sua vantagem competitiva.
O papel dos eventos de negócios na transformação global
A sessão ‘Dialogue in Action – Shaping Solutions to Global Challenges’ destacou o papel dos eventos de negócios na resposta aos desafios globais e na criação de legados duradouros para comunidades e destinos. Os oradores apresentaram estratégias que combinam turismo, inovação e inclusão social.
Carlos Abade, presidente do Turismo de Portugal, lembrou que o país tem vindo a afirmar-se ao acolher eventos como o Congresso da ICCA no Porto, a Web Summit em Lisboa e o MotoGP no Algarve, e frisou que “o turismo é uma indústria de paz e tolerância”, onde é possível criar um futuro melhor. Defendeu ainda que o turismo deve ser um “pilar de prosperidade”.
O fortalecimento da colaboração entre governos, a indústria dos eventos e comunidades, no sentido de maximizar o impacto social e económico, foi algo defendido por todos os participantes do painel.
Do storytelling à gastronomia sustentável
Na sessão ‘The physics of human storytelling’, Peru Dharani abordou a origem do mundo e a essência humana de contar histórias – a viagem começou com o Big Bang e terminou com reflexões sobre o futuro da criatividade e da inteligência artificial, mostrando como a curiosidade e a narrativa moldam a nossa identidade coletiva e impulsionam a inovação. “A história da humanidade precisa que continuem a contá-la…”, afirmou.
Seguiu-se a sessão orientada pela chef tailandesa Tam Chudaree Debhakam, dedicada à sustentabilidade e inovação na gastronomia, tendo como exemplo o restaurante Baan Tepa, em Banguecoque, que conta com duas estrelas Michelin. A chef partilhou a sua jornada pessoal e o compromisso do restaurante com a redução do desperdício alimentar e a valorização dos ingredientes locais.
A chef alertou para a crise de desperdício alimentar em Banguecoque, onde quase metade do lixo diário (mais de 4.500 toneladas) é constituído por restos de comida e explicou a filosofia de circuito do Baan Tepa – desperdício, fornecimento e pessoas – que orienta práticas regenerativas, como compostagem, upcycling e produção artesanal de vinagres e óleos.
Transformar desafios em oportunidades
‘Leading through uncertainty: what’s keeping association leaders up at night – and how they’re turning disruption into opportunity’ reuniu Linda Pereira com representantes de grandes associações mundiais. O painel refletiu sobre estratégias inovadoras para enfrentar tempos de incerteza e reforçar a relevância institucional.
*A instabilidade geopolítica, a necessidade de reinventar modelos de negócio e o aumento das expectativas dos membros são desafios para as associações.
*As associações estão a criar novas abordagens para envolver as gerações mais jovens.
*As parcerias entre associações, destinos e locais de eventos são muito importantes.
*Associações e destinos devem promover relações sustentáveis, adotar inovação e contribuir para a construção da compreensão intercultural, através da realização estratégica de eventos.
Design universal e inclusão
A Copenhagen Denmark Lecture foi apresentada por Christian Bason. O especialista em inovação e design centrado no ser humano partilhou a experiência pessoal de educar o filho Christopher, que tem síndrome de Down e autismo, abordando os desafios de viajar e de adaptar ambientes para pessoas com necessidades especiais, sublinhando a mensagem de inclusão na vida quotidiana.
A palestra destacou o conceito de design universal, que visa criar ambientes acessíveis a todos, explicando os seus sete princípios (uso equitativo, flexibilidade, uso simples e intuitivo, informação percetível, tolerância para o erro, pouco esforço físico, e tamanho e espaço para abordar e usar), e ligando-os ao compromisso da ICCA com sustentabilidade e inclusão.
Christian Bason sublinhou a necessidade de destinos e venues avaliarem as suas práticas de acessibilidade, adotarem práticas inclusivas e colaborarem com parceiros especializados.
O Porto como centro de criatividade e inovação
O Porto transformou-se num centro criativo, de colaboração e inovação. Afinal, a indústria dos eventos está para ficar, mas é necessário evoluir… Na sessão ‘The sharing hubs are where it all comes together’ deu-se destaque aos trabalhos diários decorridos durante o congresso, dedicados aos temas: impacto e sustentabilidade; liderança e resiliência; modelos de negócio com propósito; inovação e tecnologia; e criatividade.
Impacto e sustentabilidade
O Terminal de Cruzeiros do Porto de Leixões acolheu a sessão de trabalho dedicada ao Impacto e Sustentabilidade. E antes de os delegados serem divididos em pequenos grupos com especialistas, vários oradores apresentaram exemplos de boas práticas. Alguns exemplos a ter em conta:
*A APDL está a implementar medidas para atingir a neutralidade carbónica em 2035, apostando em combustíveis alternativos, eletrificação das atividades portuárias, digitalização, rede elétrica, entre outras.
*A APDL pretende minimizar os impactos negativos da atividade, envolver os parceiros, promover a responsabilidade social corporativa e interagir com as comunidades.
*Os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Paris assumiram um compromisso de sustentabilidade. Por exemplo, houve uma redução de 60% de desperdício comparado com outros jogos e a maior parte do mobiliário foi reutilizado e doado.
*Para os Jogos, foram criados mais de 180 mil postos de trabalho, 100% dos autocarros e transfers foram adaptados, e os milhares de voluntários foram treinados em inclusão e acessibilidade, por exemplo.
*É necessária mais consistência nas medições de sustentabilidade: se os critérios medidos forem diferentes, não há como compará-los. E todos (organizadores de eventos, venues, participantes) têm responsabilidade.
*O Oman Convention & Exhibition Centre criou espaços para os pássaros, abelhas e outras espécies que habitam no local, e plantou árvores de fruto. A energia utilizada pelo centro de congressos provém dos painéis solares instalados nos telhados.
*No Congresso da ICCA, foram utilizados lanyards reutilizáveis, que os delegados puderam deixar no final do evento para terem uma segunda vida.
*Com o Porto & North Forever Pact, foi criado um impacto pensado e partilhado, que se espera duradouro. “Não é sobre perfeição, mas intenção”, frisou o Turismo do Porto e Norte, sublinhando a importância da inclusão, criatividade e bem-estar.
Liderança e resiliência
As Caves Ferreira receberam a sessão sobre liderança e resiliência. Sob a orientação de Taubie Motlhabane, CEO do Cape Town International Convention Centre, os participantes foram conduzidos por quatro etapas em termos de conhecimento.
A primeira parte, ‘Exploring Future Trends’, analisou as grandes forças que estão a moldar o mundo e o setor dos eventos, com base nas pesquisas do Future Meeting Space. Algumas ideias a reter: importância dos dados, a necessidade re-skilling, de criar eventos que sejam espaços seguros para conexões com propósito, ser resiliente, pensar que nem toda a gente trabalha da mesma maneira, abraçar as novas gerações, reconhecendo-lhes competências.
Na segunda etapa, ‘Immersive Scenario Experience’, Kurby Court, CEO do Calgary TELUS Convention Centre, partilhou um episódio de elevada pressão, onde demonstrou a necessidade de coragem e resiliência em momentos críticos.
Seguiu-se o momento ‘Inspiration Through Ideas’, com apresentações no estilo TEDx que exploraram diferentes dimensões da liderança e da resiliência. Lisa Schulteis, Elisabetta Degiampietro e Ross Steele partilharam histórias e estratégias de liderança em contextos de crise — desde desafios climáticos e disrupções geopolíticas até à transformação institucional.
A sessão terminou com discussões em pequenos grupos, conduzidas por especialistas, que abordaram temas essenciais para a preparação de líderes e organizações: gestão de crises, motivação de equipas em tempos de incerteza, autenticidade na liderança, bem-estar, envolvimento multigeracional e adaptação a cenários políticos instáveis.
Modelos de negócio com propósito
O Salão Nobre do Centro de Congressos da Alfândega acolheu a sessão ‘Purposeful Business Models and Start-ups’. Os participantes foram desafiados a parar e refletir sobre o que realmente impulsiona o crescimento de um qualquer negócio, com significado. E não é apenas o lucro ou o desempenho, mas o propósito.
Moderado por Amber Herrewijn, professora e investigadora sénior em Gestão de Eventos na NHL Stenden, o painel reuniu vozes de várias geografias: Hwabong Lee, professor na Hallym University; Sissi Lignou, presidente da IAPCO; Eduardo Chaillo, diretor-geral global para a América Latina da Maritz; e Tam Chudaree Debhakam, chef tailandesa reconhecida pela sua criatividade, resiliência e compromisso com uma gastronomia sustentável.
A conversa partiu do modelo dos quatro T’s — Tecnologia, Talento, Thrivability (a capacidade de prosperar) e Transformação — como base para preparar o futuro da indústria dos eventos de negócios. Mais do que modelos e métricas, o essencial foi compreender como o propósito alimenta a responsabilidade, o sentido de pertença e a verdadeira iniciativa.
Desde as histórias sobre o surgimento de pequenas cidades MICE na Coreia do Sul – onde as comunidades locais, muitas vezes sem saber o que significa o termo MICE, veem nos eventos profissionais uma oportunidade para melhorar a sua qualidade de vida e atrair visitantes que dinamizam os negócios locais – até ao testemunho de alguém que partilhou o seu percurso no mundo da restauração, feito de paixão, vontade de aprender e capacidade de resistir às adversidades, o fio condutor foi claro: o progresso começa com pessoas que acreditam no que fazem.
Num mundo onde a disrupção é a nova normalidade, esta sessão lembrou que a liderança orientada por propósito não é uma tendência passageira, mas uma verdadeira estratégia de sobrevivência – e talvez a mais poderosa de todas as “tecnologias”.
Inovação e tecnologia
O CEiiA, centro de engenharia e desenvolvimento de Matosinhos, acolheu a sessão dedicada à Inovação e Tecnologia. O centro deu a conhecer aos delegados o veículo de mobilidade sustentável que desenvolveu e que vai permitir anular a pegada da sua criação, e a plataforma, integrador virtual de sustentabilidade, que recolhe informação, analisa os dados e dá aconselhamento para a redução da pegada ecológica.
Dahlia El Gazzar, da Dahlia Agency, deixou exemplos de soluções com recurso à inteligência artificial que podem ajudar os profissionais a gerir melhor o seu tempo: a utilização de um notetaker, que permita gravar e transcrever ao mesmo tempo, como a Otter; a Gamma, uma solução que cria apresentações, documentos, conteúdo para redes sociais; e o Google Notebook, que pode criar vídeos e podcasts, por exemplo, baseados na informação adicionada.
No auditório do CEiiA, houve tempo para vários profissionais apresentarem exemplos práticos de como a tecnologia pode ser uma mais-valia, como o caso Swiss Tech Convention Center, onde um sistema tecnológico torna os espaços flexíveis, ajustados e personalizados a vários formatos e capacidades de eventos.
Vários especialistas frisaram a importância dos dados, referindo que com eles é possível fazer os ajustes necessários para ir ao encontro do que clientes e participantes procuram. E a IA pode ser uma boa ajuda.
Criatividade
A criatividade também esteve no centro da conversa no Congresso da ICCA. A sessão ‘Creative Edge’, realizada no WOW Porto, reuniu vozes inspiradoras de diferentes áreas para refletir sobre o poder criativo e o seu papel no futuro da indústria dos eventos. Conduzida por Timothy Simpson, Creative Chief Strategist da Maritz, a sessão destacou que a criatividade é uma força universal.
Para Miguel Guedes, presidente do Coliseu do Porto, “cada ser humano pode criar”. O músico e gestor cultural defendeu que todos temos potencial criativo, mas o que nos distingue é “o foco e a habilidade”. Liderando o Coliseu do Porto com uma visão criativa, é no dia-a-dia, nas múltiplas versões dele próprio, quer a comentar na televisão, a escrever nos jornais, ao falar de futebol ou a dar um concerto, que Miguel Guedes encontra a inspiração necessária.
Mariana Duarte, diretora da Griffin, trouxe uma perspetiva mais íntima: “Qualquer pessoa pode ser criativa, não precisa de ser artista.” Numa reflexão sobre o mundo atual, “conectado, mas profundamente desconectado”, sublinhou que as emoções são o motor da criatividade. Para criar, é preciso “preparar a base”. Isso faz-se observando tudo o que nos rodeia, em vez de apenas ver. Entre as suas ideias, destacou-se um princípio essencial: criar a partir da verdade, e não da aprovação.
A criatividade, defendeu, exige coragem, curiosidade e propósito. “Proteja a sua atenção”, aconselhou, sugerindo até a criação de um “segundo cérebro” — um espaço mental limpo, livre de distrações, onde a mente se abre e a criação flui naturalmente. “Criatividade não é sobre talento, é sobre coração”, concluiu.
Para Meg Williams, CEO da World of WearableArt, a criatividade floresce quando há espaço para o inesperado. “É preciso deixar espaço para a magia acontecer nos eventos”, afirmou. Já Max Oliveira, b-boy e diretor do MXM Center, defendeu que “os eventos precisam de entender a linguagem da contemporaneidade”, explorando para além da superfície e abrindo espaço para as novas gerações. “Temos de dar plataforma às subculturas e à sua expressão”, disse, lembrando que a criatividade vive também nas margens — nos movimentos urbanos, nas linguagens alternativas e na diversidade cultural.
Congresso da ICCA ruma ao Panamá em 2026
A edição do próximo ano do Congresso da ICCA vai realizar-se no Panamá de 8 a 11 de novembro. A cultura e a diversidade do país foram representadas no Porto pelas imagens, pela música e pela dança tradicional.
Gloria de León, ministra do turismo do Panamá, destacou a “cultura vibrante” do país, uma “nação de contrastes” e que tem na sua diversidade o seu “maior tesouro”. Além disso, realçou o facto de o Panamá ser ‘carbono negativo’ – “produzimos mais oxigénio do que o que consumimos”, afirmou.
© Maria João Leite Redação
Jornalista
© Cláudia Coutinho de Sousa Redação
Editora

