Sofia Rothes: “Estamos sempre a aprender e sempre a ensinar”

Entrevista

06-03-2023

# tags: Hotelaria , Vida de Eventos , Turismo de Negócios , Meetings Industry , Hotéis

Quando era pequena, o sonho de Sofia Rothes não passava por ser professora, médica ou veterinária. O seu sonho era ser guia de turismo, conta. Hoje trabalha nesse universo e é diretora de Vendas e Marketing no Crowne Plaza Porto.

“Acho que sempre soube que queria trabalhar ligada à área do turismo, das viagens e que envolvesse um contacto direto com muitas pessoas”, explica. Formou‑se em Gestão Hoteleira e, na sequência de vários trabalhos na área dos eventos quando era ainda estudante, viu despertada a sua curiosidade por este mundo.

O seu percurso profissional teve início numa das empresas do Grupo Ibersol, que tinha a concessão das unidades Exponor e Europarque, onde trabalhou na área dos banquetes e catering. “Foi um período muitíssimo enriquecedor, pois era uma empresa líder de mercado que se destacava completamente das demais na gestão rigorosa do F&B em eventos.”

Em 2003, juntou-se à equipa de pré‑abertura do Sheraton Porto Hotel & SPA, primeiro, como coordenadora de banquetes, depois, durante cerca de uma década, como coordenadora de Grupos e Eventos. Em 2014, mudou para a área de Vendas, “mas sempre acompanhando a gestão de grandes contas e mercados internacionais na área do MICE”.

Mais tarde, trabalhou no Hotel Dom Henrique, onde não esteve tão envolvida com os grandes eventos. “No entanto, foi determinante na minha progressão profissional e em fortalecer a minha convicção de que um serviço rigoroso, de atenção ao detalhe e com grande foco na qualidade são a única forma de nos mantermos fortes no mercado. As relações comerciais são muito importantes, mas não representam continuidade só por si”, esclarece.

E há menos de um ano, assumiu a direção comercial do Crowne Plaza Porto. “Não houve hesitação! Foi o primeiro hotel de cadeia da cidade do Porto e lembro-me de o vir visitar desde pequenina e de, na altura, ficar espantada com todo o seu glamour. Além disso, significava voltar a poder trabalhar num hotel com espaços de excelência para grandes eventos, reconhecido pela sua grande qualidade de serviço, pertencente à IHG Hotels & Resorts, e…na ‘minha’ Boavista.”

De um modo geral, Sofia Rothes considera ter tido sorte em se cruzar, ao longo do caminho, “com pessoas verdadeiramente inspiradoras, cheias de conhecimentos e paixão por esta área”, referindo-se a colegas, professores e clientes.

Motiva-me atingir os objetivos”

Os eventos sempre estiveram muito presentes no seu percurso na hotelaria. Esse contacto é uma mais-valia. “Ao longo dos anos, vamos acompanhando muitos eventos, diferentes pessoas e realidades, expectativas distintas…Acho que a minha experiência na gestão de grupos e eventos me trouxe uma grande capacidade de antecipação das necessidades e, sem dúvida, de eventuais problemas.

Esta é uma das chaves para o sucesso, no sentido em que conseguimos manter o cliente sereno, focado no seu papel de organizador, gestor dos seus convidados e… feliz!

E o melhor é que não funciona só no lado do cliente, mas também para as nossas equipas”, sublinha.

Na sua atividade motiva-a, desde sempre, a “possibilidade de conhecer e interagir com diferentes pessoas, de muitas áreas e backgrounds diferentes”, frisa. “Hoje em dia, e porque também gosto de números, motiva-me atingir os objetivos que são definidos para a minha equipa e para o hotel e sentir que, de alguma forma, contribuo para projetos mais alargados, como os da IHG ou dos proprietários.”

Na indústria dos eventos há várias coisas de que gosta. Embora “quase clichés”, Sofia Rothes realça “o contacto com pessoas, o não haver um dia igual ao outro, a satisfação que sentimos quando vemos finalmente tudo a acontecer e o poder partilhar também o meu conhecimento com outras pessoas – estamos sempre a aprender e sempre a ensinar”. Além disso, também gosta de divulgar o Porto e Portugal no estrangeiro. “Quando consigo trazer algum grupo para cá, sinto uma satisfação redobrada.”

Por outro lado, desagradam-lhe os “deadlines apertados, que limitam a capacidade de foco nos projetos e toldam a criatividade, eventos copy‑paste sem novidade nenhuma e a combinação das palavras low + budget”.

“Uma enorme coleção de amigos”

Sendo muitas as histórias que viveu profissionalmente, Sofia Rothes não consegue escolher uma. Em vez disso, realça o facto de, ao longo dos anos, “ter feito uma enorme coleção de amigos e pessoas que me são muito queridas”.

Destaca ainda o “ter tido a possibilidade de ver de perto ou até conhecer alguns ídolos ou personalidades que nunca imaginei ser possível”.

A Cimeira dos Chefes de Estado Europeus, que decorreu no Europarque, é para si o evento mais marcante, “talvez por ter sido o primeiro grande evento em que estive envolvida e, sem dúvida, ainda um dos maiores até hoje”, explica.

Um outro momento marcante, mas em que as coisas poderiam não ter corrido como planeado, aconteceu num evento VVIP.

“Fiquei presa durante 50 minutos num elevador monta-cargas, com toda a equipa de cozinha e… toda a comida para o almoço! Felizmente, as formalidades do evento levaram a que o programa se atrasasse e nem o protocolo, nem os clientes finais deram conta de nada.”

Muitos são também os episódios hilariantes. “Não consigo parar de rir quando penso na visita de inspeção da comitiva e protocolo de um chefe de Estado de uma das maiores potências mundiais.” Sofia Rothes relata que entrou na suite presidencial com elementos da comitiva, que se espalharam por todos os espaços a testar tudo repetidamente. “Abriram e fecharam cortinas (todas), interruptores (todos), sofás, televisões e sistemas de som (creio que em simultâneo e até ao som máximo), torneiras (incluindo as dos duches), o piano. O colchão da cama master foi testado por todos e não saíram sem puxar todos os quadros existentes no quarto, para terem a certeza de que estavam bem presos e que não haveria o risco de caírem acidentalmente em cima da cabeça do seu Nº1.”

“Eu estava em pânico”, afirma. “Perdi o controlo nos meus convidados e estava cheia de medo que estragassem alguma das valiosas peças existentes no espaço.” Sofia Rothes conclui: “Felizmente, e apesar do caos momentâneo, foram cautelosos e respeitadores e tudo correu muito bem. E o grupo confirmou!”

© Maria João Leite Redação