Protocolo da Visita Papal a Fátima

17-08-2017

A Peregrinação do Santo Padre a Fátima pela ocasião da comemoração do Centenário das Aparições atraiu as atenções do Mundo para este Santuário Mariano, tendo sido acolhidos, a 12 e 13 de maio, milhares de peregrinos, altas individualidades nacionais e estrangeiras, sob presidência de Sua Santidade.

Em Fátima estiveram, ainda membros do séquito Papal (comitiva Papal), bem como largas centenas de membros do clero que quiseram estar presentes nesta celebração.

Para que tudo decorresse sem incidentes, constrangimentos ou atropelos, que retirariam dignidade a este grandioso acontecimento, a preparação foi longa, multidisciplinar e coordenada pela entidade anfitriã das celebrações, o Santuário de Fátima, em conjunto com o Vaticano e o Estado Português, pois a Peregrinação Papal reveste-se de aspectos complexos, do ponto de vista da logística, da segurança e do Protocolo.

Este aspecto, o do Protocolo, desperta a instintiva curiosidade humana pela grandiosidade: a gestão protocolar de um acontecimento desta envergadura.

Cristina Fernandes, consultora de Protocolo, que foi convidada para apoiar a equipa de Protocolo do Santuário de Fátima na preparação da Visita Papal, a quem agradecemos disponibilidade e a entrevista que serviu de base para este artigo, falou-nos com grande emoção sobre os preparativos e os momentos partilhados com os colaboradores do Santuário antes, durante e após a visita, bem como sobre o privilégio que foi poder participar neste momento marcante da história do Santuário. Dessa entrevista resulta este limitado texto e uma enorme admiração pelo incansável trabalho das “gentes” do Protocolo.

O Papa Francisco veio a Fátima, a convite de sua Excelência Reverendíssima D. António Marto, Bispo de Leiria- Fátima, na qualidade de Peregrino entre peregrinos, no entanto o seu estatuto exige preparativos complexos.

Três entidades, em coordenação, foram responsáveis pela gestão protocolar desta visita. O Protocolo do Estado Português, o Protocolo do Santuário de Fátima e o Protocolo do Vaticano. Esta tríade protocolar, actuou em harmonia para alcançar um bem maior: o sucesso das Comemorações do Centenário das Aparições em Fátima, presididas pelo Santo Padre.

Em cumprimento da sua condição de Chefe de Estado do Vaticano, o Protocolo de Estado Português encarregou-se de organizar a recepção e a despedida do Papa Francisco, com as inerentes honras de Estado na Base Aérea de Monte Real, além de outros aspectos e momentos ao longo da estadia, apesar de esta ter sido uma Visita Apostólica e não uma Visita de Estado.

Da responsabilidade do Protocolo de Estado foi também a organização da audiência entre o Papa Francisco e o Presidente da República, imediatamente após a chegada a Portugal, bem como a gestão das altas individualidades do Estado Português e de outros Estados presentes nas Celebrações, que, de acordo com a Lei das Precedências do Estado, ficaram na plateia organizada na Colunata Sul do Santuário de Fátima.

Da responsabilidade do Protocolo do Santuário de Fátima, anfitrião desta visita, foram todos os momentos da Peregrinação desde que o Papa aterrou em Fátima até à sua partida para Monte Real com vista ao embarque para Roma, além de todo o cerimonial litúrgico que envolveu as celebrações, sendo também responsável pela gestão dos participantes convidados pelo Santuário, que igualmente ocuparam a referida plateia na Colunata Sul da Basílica.

Todo o cerimonial litúrgico, assim como o momento da Canonização de Jacinta e Francisco Marto, integram o Cerimonial das celebrações da Igreja Católica, universalmente reconhecido. No Vaticano coexistem duas formas de Cerimonial: o Cerimonial litúrgico, aplicável às celebrações religiosas que tem a sua primeira origem nos actos públicos de Jesus Cristo e que em sua memória se vão repetindo de geração em geração, e o Cerimonial de Estado, aplicável às demais cerimónias oficiais, que ganha maior visibilidade nos momentos de audiências concedidas pelo Santo Padre e nas Visitas Papais, sendo portanto o fio condutor para a organização deste tipo de efeméride.

Sendo a Igreja Católica uma instituição com quase dois mil anos de história, tendo uma hierarquia claramente estruturada e um cerimonial universalmente conhecido, a coordenação do Protocolo do Santuário e do Estado Português com o Protocolo próprio do Vaticano deu-se de forma muito natural, com uma ansiedade benéfica de quem prepara um acontecimento muito esperado e bem planeado.

Tudo o que se viveu nos dias 12 e 13 de Maio em Fátima teve uma ampla cobertura mediática, pelo que é do conhecimento geral cada momento público do Papa Francisco, em que o Protocolo esteve presente de mãos dadas com a logística e com a segurança. No entanto, houve momentos de beleza simples, que passaram quase despercebidos pela imprensa, mas que certamente contribuíram para que o Papa Francisco se sentisse bem acolhido em Fátima, como foram, por exemplo, a chegada do Santo Padre à Casa de Nossa Senhora do Carmo, recebido pelo Vice-reitor do Santuário, Senhor Padre Vítor Coutinho, e pela Irmã Maria do Carmo, responsável por esta casa de retiro, dando-lhe as boas vindas, ou ainda o momento em que o Santo Padre cumprimentou o sacerdote mais idoso de Portugal, Padre Joaquim Cunha, de 104 anos, e o momento em que cumprimentou os colaboradores do Santuário na sua despedida de Fátima.

A simplicidade dos gestos, a proximidade, a bondade, bem como a espontaneidade, fazem com que os gestos não previstos do Papa sejam comummente apelidados na imprensa mundial de “Quebras de Protocolo”, sem que nisso exista verdadeiramente nenhum desrespeito protocolar, pois o Santo Padre conhece muito bem os seus deveres, e respeita o Protocolo e o Cerimonial que são inerentes ao Seu estatuto. Além disso, a função do Protocolo não é limitar-lhe os movimentos, mas sim criar um fio condutor e organizado do cerimonial a que assiste ou preside, para que estejam à altura da dignidade do Seu papel, apoiando a sua posição de liderança, sem lhe diminuir a humildade inerente à personalidade humanista, nem lhe retirar o prazer de contactar diretamente com as pessoas, principalmente os mais fracos, os que mais precisam do seu consolo.
 

Andreia Nunes, Catarina Dionísio, Inês Querido, Joana Correia e Rúben Melgaço
Alunos do curso de Gestão de Eventos da Escola Superior e Turismo e Tecnologia do Mar, do Instituto Politécnico de Leiria

Trabalho efectuado no âmbito da temática "etiqueta e protocolo".