Nélia Marques da Fonte: “Cada evento é único e desafiante”

Entrevista

29-04-2024

# tags: Eventos , Vida de Eventos

Nélia Marques da Fonte integra o AIM Group. Mas para confirmar a sua paixão pelos eventos e chegar até aqui, teve de repensar a sua vida profissional.

“Embora tivesse uma profissão estável, comecei a sentir que não estava a aprender nem a ensinar nada de novo. Este sentimento levou-me a repensar a minha vida profissional. Nessa fase ia a muitos eventos como convidada, mas sentia sempre um grande fascínio pela produção. Como conhecia muitos profissionais na área, comecei a fazer perguntas para perceber como se planeava e organizava um evento”, começa por explicar Nélia Marques da Fonte, que decidiu aprender e perceber se esta era mesmo a profissão que queria abraçar.

Fez uma pós-graduação em Imagem, Protocolo e Organização de Eventos e chegou a assistir às reuniões de produção de um grande festival de música, onde até fez uma pequena colaboração. “Quando terminei, percebi que era impossível voltar à minha antiga vida profissional e que os eventos eram (e são) a minha paixão”, sublinhou.

Ainda Nélia Marques da Fonte não tinha terminado a pós-graduação, quando surgiu a oportunidade de estagiar numa agência de eventos, entrando para a equipa de teambuildings/outdoors. “O que queria era entrar para o mundo dos eventos e iniciar o meu percurso profissional na área.” E tal aconteceu. “Tenho tido, efetivamente, um percurso muito abrangente, que tem passado pela organização de vários tipos de eventos: teambuildings, ativações de marca, eventos corporativos, incentivos, publicidade e organização de congressos. Esta diversidade tornou a minha vida profissional num processo de aprendizagem e crescimento contínuos”, frisa.

Nélia Marques da Fonte gosta de “fazer acontecer”. “Cada evento é único e desafiante” e o trabalho tem sempre o objetivo final de “dever cumprido” e de “organizar um evento ou congresso que fique na memória dos participantes e que fidelize o cliente”. Nesta fase do caminho, “o que mais me motiva é o novo projeto do escritório da AIM Porto, que abriu em março de 2023 e do qual sou business manager, função que acumulo com a direção do departamento de Congressos da AIM Portugal. Tem sido um desafio apaixonante”, afirma.

Nélia Marques da Fonte gosta também da “relação com clientes e parceiros”, da “imprevisibilidade dos dias” – já que “nenhum dia é igual ao outro – e de “sentir que continuo a aprender todos os dias e que ainda consigo crescer”. Por outro lado, não gosta “da demora ou ausência de respostas”.

Um projeto apaixonante “desde o dia em que recebemos o briefing”

O evento mais marcante para Nélia Marques da Fonte é o Must – Fermenting Ideas, wine summit, evento que “marcou o meu regresso a Portugal e foi um grande desafio”. A profissional acrescenta que este “foi um projeto que me apaixonou desde o dia em que recebemos o briefing”.

Há projetos que fluem na perfeição e outros que precisam de uns ajustes pelo caminho. Quando, em 2010, estava em Luanda, Nélia Marques da Fonte organizou um evento, que precisava de mesas com umas características muito específicas. “Decidimos que o melhor era mandar fazer as mesas, até porque o evento era anual e iríamos necessitar delas mais vezes”. O problema surgiu uma semana antes do evento, quando o carpinteiro deixou de atender o telefone e desapareceu.

“O responsável pelo venue (onde o carpinteiro também trabalhava) telefonou-me e disse-me: ‘Temos um problema. Precisamos mesmo de um plano B’. Estávamos em cima da data do evento e sem solução à vista, quando, em conversa com um parceiro, decidimos que a nossa única solução seria utilizar estrados de palco… Não foi a solução perfeita, mas foi a solução possível”, refere, sublinhando que, no final, “funcionou e ninguém reclamou, mas podia ter corrido muito mal”.

Como é normal no universo dos eventos, são muitas as histórias que se vão somando. Nélia Marques da Fonte recorda um episódio, que ocorreu no segundo dia de um congresso que estava a ser organizado nos arredores de Lisboa. “Uma das nossas colegas telefonou de manhã cedo para avisar que ia chegar atrasada. Ao chegar ao carro viu uma cobra colorida a esconder-se numa das rodas do carro – ela mora numa zona residencial, onde não é provável encontrarmos este tipo de animais… Na altura, achámos estranho, rimos e pensámos: ‘impossível, ela não pode ter visto bem’.”

Quando a colega chegou, passado algum tempo, estacionou o carro na garagem do venue. “Vinha ofegante, porque estava com medo da cobra. Ninguém deu importância, toda a gente pensou que era impossível em Lisboa alguém encontrar uma cobra dentro da garagem do prédio, mas ela insistia que era mesmo uma cobra.”

O dia passou com todos focados no congresso. Mas à noite, na altura em que a equipa se preparava para sair, “o segurança do venue apareceu, vindo da garagem, com um ar muito assustado”. E todos pensaram que, afinal, a cobra deveria existir. Mas, apesar de toda a procura, “com a devida distância de segurança”, quer por elementos do staff, quer até pelos bombeiros, “ninguém encontrou a cobra”.

Após “horas de tentativas frustradas”, o carro foi estacionado na rua, onde passou a noite, porque “ninguém teve coragem de o conduzir de volta a casa”, conta. “Já passaram vários anos e ainda hoje falamos nisso. Sempre que entro no venue, olho para o estacionamento para ver se vejo a cobra. Esta história ficou marcada para todos. Hoje, quando falamos nisso, rimo-nos, mas, na altura, não foi muito agradável”, remata.

© Maria João Leite Redação