APQ: “Num evento desta dimensão há sempre muitos desafios”

Entrevista

08-01-2024

# tags: Eventos , Congressos , Porto , Vila Nova de Gaia , Associações , Associação Portuguesa para a Qualidade , Destinos

Organizado pela APQ – Associação Portuguesa para a Qualidade, o 64º Congresso Europeu da Qualidade decorreu em novembro no Grande Porto.

Foi a quarta vez que Portugal recebeu o Congresso Europeu da Qualidade, evento anual da Organização Europeia da Qualidade (EOQ), que representa as associações nacionais que se dedicam a essa área; no caso luso, a APQ. Desta vez, o evento saiu da Grande Lisboa e rumou ao Grande Porto.

“Achamos que era o momento de voltarmos a estar reunidos presencialmente, num mundo necessariamente diferente”, explicou Pedro Saraiva, presidente da APQ, que, mesmo com “algumas hesitações”, avançou com a candidatura. Depois de aprovada, seguiu-se um ano e meio de “muito trabalho” e, no final, o evento reuniu 500 pessoas, provenientes de 45 países, tendo sido a adesão dos participantes “muito acima das nossas melhores expectativas”.

O último evento europeu em solo nacional tinha decorrido em 2019, em Lisboa. A “experiência herdada” serviu para ultrapassar alguns dos desafios e imprevistos. Por causa dessa “imprevisibilidade”, que está associada “a coisas que nós não antevíamos todos que pudessem vir a acontecer, como a guerra Rússia-Ucrânia”, por exemplo, foi necessário “comprimir em 18 meses o que normalmente nos demoraria 24 meses a conseguir”, apontou Pedro Saraiva, destacando que “isso só foi possível com grande dedicação e esforço de toda a equipa da APQ e também beneficiando da curva da aprendizagem”.

“O grosso de todo o trabalho foi conduzido, e bem, pela APQ”


A organização do congresso europeu passou, então, pelas mãos da equipa da APQ, que conta com sete pessoas a trabalhar a tempo inteiro na associação, além da sua direção. “O grosso de todo o trabalho foi conduzido, e bem, pela APQ, com subcontratações muito pontuais: uma delas diz respeito ao site do congresso e outra diz respeito à gestão e à plataforma de inscrições”, indicou Pedro Saraiva, acrescentando: “Mas tem sido a imagem de marca da APQ ser ela própria a liderar todo o tipo de eventos, quer os nacionais, que não têm, naturalmente, toda esta dimensão e complexidade, quer os congressos europeus.”

José Carlos Pereira, vice-presidente da APQ, considera que “num evento desta dimensão há sempre muitos desafios”. O congresso juntou mais de 500 participantes e mais de 50 oradores, nacionais e internacionais, para dois dias de programa, que incluíram um jantar de gala com entrega de prémios. E o maior desafio foi trazer o evento para Portugal, “o que é uma honra para a APQ, para o nosso país e para a região do Porto e Gaia”.

“Acima de tudo”, complementou José Carlos Pereira, “é ter que fazer quase tudo com a equipa da APQ (exceto parte técnica e especializada, como audiovisuais e catering, entre outros)”. Ou seja, “o programa, temas e oradores foi desenhado dentro de casa. É um evento que obriga a muito planeamento, com quase um ano de preparação, para que se entregue tudo sem erros e a provocar uma experiência memorável a todos os participantes”.

Foram dois dias de trabalho intensos. “Nós também quisemos que o programa fosse muito preenchido”, com “momentos de partilha”, que também são “momentos de construção de algum desassossego positivo”, disse Pedro Saraiva.

E para quem não pôde estar presente, a APQ disponibilizou um canal complementar de transmissão online para as sessões plenárias e para uma das sessões paralelas. “Curiosamente, teve uma adesão muito reduzida, o que mostra bem a vontade que havia de estarmos todos uns com os outros”, adiantou o presidente da APQ.

“O Porto está no mapa mundo como destino de eleição”


A APQ constatou a vontade de muitos participantes em voltarem aos eventos presenciais, apesar das preocupações ao nível da sustentabilidade. “Evidentemente que é muito interessante termos interações à distância, mas o presencial é outra dinâmica de discussão e de interação”, frisou Pedro Saraiva.

Além disso, a APQ testemunhou também a atratividade que Portugal e o Porto têm enquanto destinos. “Muita gente optou por, depois, prolongar a estadia em Portugal”, aproveitando uma deslocação longa, “e usufruir um bocadinho mais da possibilidade de conhecer o país, de conhecer a nossa cultura, a nossa gastronomia”.

José Carlos Pereira confirma que, “pelos registos de avaliação que tivemos, o Porto está no mapa mundo como destino de eleição”. “E uma das razões do sucesso também se deveu a isso. Na realização de um evento desta dimensão o contexto/localização é muito importante e não tivemos uma única queixa quanto a dificuldades de ligação aérea”, avançou.

Contudo, de acordo com José Carlos Pereira, “o Grande Porto tem fortes limitações a eventos, no que diz respeito a espaços e auditórios, acima dos 500 participantes. Não é um problema de hoje. As alternativas disponíveis não são muitas e optamos pelo Hotel Hilton Gaia” para a realização do Congresso Europeu da Qualidade.

“No que diz respeito a ações paralelas, tivemos oportunidade de organizar pequenos tours antes e depois do evento com uma empresa especializada. A parte mais gastronómica, ponto alto com os APQ/EOQ Awards, ficou na Casa Ferreirinha que nos acolheu”, indicou o vice-presidente da APQ, acrescentando que a parte mais técnica também não foi um problema, “pois temos em Portugal empresas apetrechadas com o melhor que se faz pelo mundo”.

Segundo José Carlos Pereira, a associação tem alguma dificuldade em medir o impacto do evento na região, “principalmente de uma forma quantitativa em euros”. Já nos números para a APQ “foi muito positivo e acima das nossas melhores expetativas. Fomos avaliados pela própria EOQ como dos melhores congressos europeus até hoje, o que nos deixa muito felizes”, afirmou, sublinhando o apoio do Turismo de Portugal e do Turismo do Porto e Norte de Portugal e, por outro lado, lamentando a falta de cobertura mediática.

“A APQ está cá para as curvas”


A APQ não recebe qualquer tipo de apoio público. “Somos uma entidade que se autossustenta financeiramente, o que não tem mal nenhum. Agora, evidentemente, poderíamos fazer muito mais, se isso fosse alavancado em apoios públicos”, realçou Pedro Saraiva, que deu o exemplo da American Society for Quality, que recebeu um financiamento público “muito generoso para ajudar a enfrentar a pandemia”.

“Nós, infelizmente, não tivemos oportunidade de ter”, considerando que a Qualidade não é “bem tratada” nos vários instrumentos de política pública, como o Portugal 2030 ou o PRR. “Pode estar nos interstícios de outras coisas, mas acho que isso não é suficiente”. “A APQ continua a ser sustentável, também do ponto de vista financeiro. A isso não é indiferente a realização de eventos, incluindo o congresso europeu”, adiantou.

As principais fontes de receita da APQ, “que nos permitem ter as contas equilibradas”, são as quotas dos 1.080 associados e as atividades de formação promovidas pela associação, que têm tido “um sucesso tremendo e que está em crescendo, com novos projetos, novas ambições”. “A APQ está cá para as curvas. Adapta-se, faz o seu caminho, mesmo sem apoios públicos, e consegue impactar Portugal e o mundo”, concluiu Pedro Saraiva.