Hugo Nóbrega: “O impacto do nosso trabalho na vida das pessoas é um retorno emocional que me preenche imenso”

Entrevista

08-06-2022

# tags: Espetáculos , Eventos , Vida de Eventos

Desde sempre que Hugo Nóbrega se interessou por arte e cultura e, conta, já desde a adolescência seguiu festivais, mais até ligados ao teatro de rua e artes performativas. E é no meio da produção artística que se movimenta.

“Ainda antes dos anos 2000, já tinha feito viagens em jeito de turismo cultural sem saber sequer que o estava a fazer. Nessa altura, estudei Psicologia, novo‑circo, música e acabei por descobrir-me como produtor e curador na evolução natural do meu trabalho. Senti que aí é que era o meu palco, na ligação entre a criação e a entrega ao público, seja em que contexto for. As marcas e artistas começaram a convidar-me como elemento chave nessa criação e produção. Os projetos foram crescendo e aqui estou”, explica Hugo Nóbrega, fundador da H2N, agência que cruza talentos de todas as dimensões culturais para criar impacto social e de marca.

“A criação, a ideia e a capacidade de fazer, de entregar” são os seus grandes focos de motivação. “Um amigo da área, o Pedro Boucherie Mendes, uma vez chamou-me de ‘doer’ – nesse sentido de conseguir fazer acontecer. É um grande momento quando entendemos que vai acontecer.” E, além de tudo isso, acrescenta que “o impacto do nosso trabalho na vida das pessoas é um retorno emocional que me preenche imenso”.Do que Hugo Nóbrega mais gosta na área dos eventos é “da conexão e do impacto que criamos no público e colaboradores”. O fundador da H2N frisa que “estamos numa fase em que o público está a ir aos eventos com uma felicidade enorme, de regresso, de esperança que o futuro seja possível, nesta completude – phygital –, mas onde a experiência em si é realmente ao vivo. Os eventos geram resultados, é importante ter isto presente. Serem pensados com estratégia e avaliados no pós-evento”.

Por outro lado, “nesta nova realidade, em que a pandemia não acabou, mas em que os eventos se mostraram grandes criadores de conteúdo, o que me desaponta em 2022 é ainda assistir ao mercado ainda encolhido em termos de investimentos das marcas”. Para Hugo Nóbrega, “o scope of work anual das marcas deveria ter em conta os eventos agendados com níveis de investimentos mais claros, uma vez que os eventos geram impacto, relação, comunidade e resultados”, sustenta.

Resolver e acreditar na solução”

Um percurso no setor dos eventos faz com que na bagagem se acumulem muitas histórias. Hugo Nóbrega recorda um festival organizado em Portugal, para o coletivo Porta dos Fundos, em 2014; um festival em grande escala e com lotações esgotadas. Numa troca de mensagens com o grupo, recebeu uma mensagem a dizer “tou na tua” no sentido de ‘faz como achares’, explica.

“Programei, criei sessões, esgotámos tudo em três semanas...Quando os quinze elementos aterraram em Portugal, pela primeira vez enquanto grupo, e entenderam o que se estava a passar, ficaram tão impressionados que me disseram: ‘Para te ser sincero, esta escala de público, nem no Brasil nós temos...Jamais nos passou pela cabeça fazer um festival lá à nossa volta, quanto mais em Portugal.’ É uma história que guardo pela confiança total e loucura que este projeto teve (risos).”

Sendo esse um evento de um coletivo de humor, houve, por certo, muitas gargalhadas à mistura. Mas há vários outros momentos hilariantes na memória de Hugo Nóbrega. Um deles, reporta‑se ao Festival de Storytelling, criado para a Grant´s. “Foram sete anos de edições, onde grandes personalidades contaram e partilharam histórias inacreditáveis das suas vidas. O festival não se pretendia de humor, eram histórias reais, mas muitas delas levaram a plateia a cair de tanto rir”, lembra.Desafiado a escolher o evento mais marcante, o fundador da H2N destaca o Recreio, um evento cultural criado em 2021, em plena pandemia, “que foi mais do que um evento, foi um movimento da agência para o público”. O evento está nomeado para melhor Evento do Ano nos Prémios Marketeer, “após termos, também em 2021, sido nomeados com a peça que criámos com o ator Ivo Canelas ‘Todas as coisas maravilhosas’, que poderia também ter sido a minha escolha”, sublinha.

A terminar, Hugo Nóbrega recorda um evento em que as coisas podiam não ter corrido tão bem ou como planeado. “Existem sempre momentos destes quando criamos e produzimos ao vivo. Há que resolver e acreditar na solução (risos)”. A história que conta prende‑se com um evento “gigante” que a agência produziu para o Esporão, o Dia Grande – um evento na Herdade do Esporão, “com dez dias de montagem, mas com um detalhe e estética únicos”.

“Nessa discussão da estética do evento, todos os anos surgia o tema do transmitir e assistir ou não aos jogos de futebol da Seleção Nacional, uma vez que o espírito do evento não se coadunava com este tema. Tínhamos decidido com o cliente que, nesse ano, não existia transmissão”, refere.

Mas, já na tarde do evento, faltavam cerca de duas horas para o início da transmissão do jogo, o burburinho já se fazia sentir, pelo que a organização teve de improvisar a transmissão em larga escala para o público presente. “Estava um sol muito forte, um dia quente, típico do Alentejo nesta altura. Tivemos que construir uma parede de fardos de palha, com o esforço e desespero de todos...Até um camião da equipa técnica colocámos para fazer sombra face ao sol. Quando terminámos, já com toda a plateia a apostar se iríamos ou não conseguir, e a uns dez minutos do jogo, tivemos mesmo uma ovação de agradecimento do público (risos). Foi incrível”, conclui.

© Maria João Leite Redação