João Pinho: A emoção dos eventos… nas notícias e no terreno

Entrevista

02-12-2021

# tags: Festivais , Eventos , Vida de Eventos

João Pinho fundou e lidera a Press Link, agência que atua na área da consultoria de marketing e comunicação, sobretudo de grandes eventos na área da cultura e do entretenimento.

A empresa assume a ligação entre os promotores de eventos e a comunicação social, “com o objetivo de maximizar a visibilidade mediática, apostando, para isso, na identificação de aspetos com potencial interesse editorial”, esclarece, explicando as vantagens da presença dos eventos nas notícias: por um lado, a informação é veiculada através de notícias, sendo “incomparavelmente mais valorizada pelo público” e tendo “muito mais impacto”; por outro lado, “esta forma de aparecer nos media não tem custos diretos”. É, assim, também uma parte importante deste universo dos eventos.

Na comunicação de um evento, João Pinho tenta “sempre que possível” acompanhá‑lo do início ao fim. “Idealmente, até tentamos participar ainda numa fase mais inicial, quando ainda se desenha o projeto. É que, frequentemente, além de podermos contribuir com uma visão muito particular, baseada na experiência acumulada ao longo de anos a trabalhar em alguns dos maiores e mais relevantes eventos nacionais, há sempre detalhes no desenho do próprio evento em que, com alguns ajustes, se consegue tornar tudo mais apelativo para a imprensa”, refere. E é devido a tudo isto que, quando um evento que comunicou corre bem, sente que esse sucesso também passa pelo seu trabalho.

Foi através da Sonaecom que João Pinho chegou ao universo dos eventos. Primeiro, trabalhou no marketing no ponto de venda, “onde inventávamos e implementávamos a animação dos locais onde os nossos serviços de telecomunicações estavam à venda”; depois, passou a integrar o departamento de eventos, patrocínios e ativação de marca da Optimus, “que foi uma escola incrível, já com outra escala, e que me permitiu meter as mãos – e aprender muito – em muitos eventos dos mais espetaculares e extraordinários que já aconteceram no país, sobretudo festivais de música e outros vários formatos que fomos trabalhando com enorme e reconhecido sucesso ao longo de muitos anos”.

Deste contacto com o mundo dos eventos, do que mais gosta é de “viver o evento no terreno, em tempo real, com toda a adrenalina do ‘está a acontecer… não se pode parar nem pausar e agora temos de garantir que nada falha’”. Quando recorda festivais de música como os atuais Nos Alive e Nos Primavera Sound, lembra o seu entusiasmo, o envolvimento na produção e o trabalho no backstage, que raras vezes lhe permitiram ver mais de uma hora de concertos por dia. “É uma forma diferente de viver um festival, mas é claramente a minha forma preferida de desfrutar estes grandes eventos.” No sentido inverso, no prato da balança do que menos gosta constam a rotina e a “quantidade de propostas recusadas que temos de ‘engolir’, sem nunca poder desistir até conseguirmos as peças jornalísticas que nos parecem fazer sentido para cada projeto”. Contudo, nos grandes eventos e nos festivais de música, “o entusiasmo é gigantesco e, mesmo quando parece que estamos sempre a fazer as mesmas coisas em cada ano e para cada edição, acabamos sempre a concluir que é como se estivéssemos a começar tudo de novo… Cada vez com mais experiência, com mais vontade de ir mais além, de arriscar um bocadinho mais”, frisa.

Momentos de orgulho

“Tenho a felicidade e o privilégio de só trabalhar eventos de que gosto”, sublinha João Pinho, que adianta já ter estado envolvido no sucesso de vários eventos de referência, “do Happy Holi ao Mimo Amarante, do Artbeerfest ao Lumina, do Nos Alive ao Nos Primavera Sound, do Optimus Hype ao Optimus Bailes Optimus, do Festival Imaterial ao Artes à Rua, da Noite Branca de Braga à Bienal Ibérica do Património…”

E, deste percurso recheado, João Pinho destaca – “pela sua dimensão, nível de profissionalismo e pelo impacto planetário daquele que é o evento mais visto em todo o mundo” – a edição do Festival Eurovisão da Canção em Lisboa, para o qual foi convidado para gerir o programa de visitas aos bastidores. “Trata‑se de uma gigantesca máquina multinacional, uma máquina que aprende e está sempre a identificar oportunidades melhores e a otimizar processos e protocolos, e que nos dá lições de boas práticas em todas as áreas”, explica.

Um momento que guarda na memória prende‑se precisamente com o Festival Eurovisão da Canção. Sustenta que, por ser “o evento mais visto pela televisão em todo o mundo”, ali “nada pode falhar, todos os sistemas são redundantes, tudo é exaustivamente decidido, planeado e ensaiado e, portanto, não há grande margem para improvisos ou alterações de última hora”. Acrescenta que “o festival constitui também uma espécie de montra privilegiada das soluções mais avançadas dos diferentes patrocinadores técnicos”, que aproveitam para testar produtos e serviços em ambiente real, mostrando‑os às suas equipas e potenciais clientes.João Pinho conta que um dos grandes patrocinadores do festival é uma marca de equipamentos e sistemas de som, que, como era habitual, tinha convidado elementos‑chave da sua equipa em todo o mundo para estar no evento e ver ao vivo e a cores o que a marca ia lançar. Adianta que, já com tudo em andamento, descobrem que a Altice Arena, o venue do festival, detém características acústicas “únicas no mundo”, tornando esta “uma oportunidade irrepetível e imperdível para que os especialistas de todo o mundo vissem os equipamentos a funcionar em condições ótimas”.

Por isso, de repente, “somos chamados para uma reunião de emergência, porque tínhamos de preparar tudo para receber umas duas ou três vezes mais o número de convidados previstos. Em tempo recorde, foi necessário recrutar mais pessoas, dar formação, reformular percursos… Num evento destes não há margem para deixar ninguém desacompanhado nem por um segundo, nem para ajuntamentos ou cruzamentos de convidados não controlados”. Foi preciso “garantir que a receção e acompanhamento destas muitas dezenas de convidados extra não prejudicariam em nada tudo o que estava já previsto e planeado”. E a missão foi cumprida! “Passámos no teste com distinção”, afirma.

Um momento emocionante que vai também guardar na memória decorreu no então Optimus Alive. Uma jornalista de uma televisão ia realizar um direto e o promotor do evento não ia poder participar. “Ora, como uma das nossas abordagens passa precisamente por estar atento às necessidades dos jornalistas e fazer tudo para os ajudar, sugerimos avançar com o responsável pela comunicação do patrocinador que dava nome ao festival.” Proposta aceite e pormenores tratados. João Pinho deu um pequeno briefing sobre o perfil do entrevistado e tratou de garantir a sua presença à hora e no local previsto.

“Minutos depois, agora com um ar aflito, a jornalista dá‑nos conta que o direto tinha sido antecipado.” João Pinho correu para ir buscar o entrevistado e acompanha‑o ao local combinado. Mas, quando chegaram, a jornalista já estava em direto, porque “a antecipação tinha sido antecipada”, e já não havia margem para apresentações ou acertos de última hora. “Como sou otimista, decido arriscar” e, discretamente, para não aparecerem no plano, foram‑se aproximando.

“Posiciono o porta‑voz ao lado da jornalista de forma discreta para não perturbar o direto e, completamente a tremer de nervosismo, tento o contacto visual na esperança (improvável, mas possível) de que a jornalista conseguisse, pelo canto do olho e sem se atrapalhar com o direto, perceber que eu tinha chegado com o convidado – que ela não conhecia. E a magia aconteceu! Com uma naturalidade, segurança e sangue‑frio só ao alcance de quem conta com muita experiência, a jornalista aproxima‑se do convidado, lembra‑se do nome dele e da função e coloca a primeira pergunta, como se tudo tivesse acontecido como previsto.”

Um “brilharete” que todos fizeram. “A jornalista conseguiu um excelente direto e a marca conseguiu um momento de visibilidade extraordinário… Acho que até chorei de emoção”, conclui.

 

Maria João Leite 

 

© Maria João Leite Redação