Paula Fernandes: “A adrenalina dos eventos de grande escala… não há igual!”

Entrevista

14-12-2021

# tags: Eventos , Vida de Eventos

Paula Fernandes é Client and Production Manager na Eventors’Lab. Conta que sempre foi uma jovem “muito ativa e envolvida em projetos de cariz organizativo” e que sempre gostou de participar em várias atividades na escola.


E exemplifica: “Eu jogava voleibol e, no desporto escolar, houve um ano em que não podia participar como atleta por ser federada. Então, participava como apoio ao treinador para poder estar envolvida.” E numas férias de verão, em 1996, altura em que trabalhava numa esplanada na praia de Leça da Palmeira, ajudou a organizar um torneio de voleibol de praia, considerando‑o o seu “primeiro projeto na área de organização de eventos”.

Por influência da irmã Ana Fernandes (fundadora da Eventors’Lab) começou a participar como freelancer em alguns eventos no Grupo Realizar, agência onde a irmã trabalhava na altura. Corria o ano de 1999 e Paula Fernandes tinha 18 anos. “A união e espírito de equipa, a cumplicidade que se vivia na empresa era tão bonita e harmoniosa, que eu dizia ‘quando for grande quero fazer parte integrante desta equipa’.” E o certo é que chegou e se afirmou na indústria dos eventos desde então, nos primeiros anos como freelancer, enquanto frequentava o Ensino Superior, depois de forma intensa e a tempo inteiro. Hoje em dia, trabalha na Eventors’Lab, onde chegou em 2017.

Em alguns momentos no seu início de carreira, Paula Fernandes pensou em deixar os eventos e em trabalhar noutra área “mais de acordo com a minha formação académica”, a Gestão de Desporto. “Nem sempre acreditei em mim”, explica. “Mas depois, vendo o resultado dos eventos de que, felizmente, tive o prazer de fazer parte, a satisfação do cliente, do público e de todas as equipas envolvidas deu‑me motivação de continuar, de não querer deixar para trás este projeto que, cada vez mais, sinto que faz parte do meu projeto de vida.”

E são várias as coisas de que Paula Fernandes gosta nesta indústria. “Não existe um evento igual ao outro” e, além disso, todos os dias são diferentes, começa por dizer. “O simples facto de não termos de estar todos os dias no mesmo local, à mesma hora, sempre a fazer a mesma coisa…” Mas há mais coisas boas a apontar. “O prazer de ver o resultado dos trabalhos que realizamos”, sejam eles com meses de preparação ou pedidos de última hora, mas aos quais conseguem dar resposta rapidamente. Também a “aprendizagem contínua” proporcionada pelos diferentes eventos. E “a adrenalina dos eventos de grande escala… não há igual! No fundo, um número de sensações diferentes que num só evento, num só dia podemos sentir”, explica, salientando ainda como fatores positivos “a capacidade, a agilidade e a rapidez de resposta que ganhamos trabalhando neste tipo de atividade, pois temos de ser muito rápidos a dar resposta quando alguma coisa corre mal e tem de ser resolvida”. E acrescenta: “Os eventos têm data marcada e é nessa data que têm de acontecer e não dois dias depois, por isso temos de ter a capacidade de resolver imprevistos na hora.”

No sentido inverso, Paula Fernandes refere o tempo que esta atividade retira à vida familiar. “Quando era mais nova não me importava nada de estar 10 dos 12 meses do ano fora da minha área de residência, pois era bastante enriquecedor quer a nível profissional como pessoal. Conhecer novas gentes, novos países e culturas, conhecer Portugal de norte a sul, quando tínhamos os roadshows e durante dois meses seguidos só vínhamos a casa ao domingo, mas ao final do dia tínhamos de ir embora novamente para dormir já na cidade do evento do dia seguinte; por isso, nem 24 horas passávamos na nossa cidade… Chegar a nossa casa na madrugada de 24 de dezembro, após um roadshow de Natal, que mais parecia um ‘big brother’ ambulante, com 12 pessoas sempre juntas durante quase dois meses e que tanto nos divertíamos em conjunto como, ao mesmo tempo, não nos podíamos ver por alguns momentos…” Mas, agora, que a família está mais alargada, quando o trabalho a obriga a estar fisicamente longe das filhas por alguns dias, “já custa um bocado”, conta.

Neste lado menos positivo da balança há ainda a acrescentar todas as “horas de sono que alguns eventos nos tiram, por stress, por ansiedade, por alguma coisa não estar a correr tão bem como esperávamos”, adianta Paula Fernandes.

Inúmeros momentos gravados na memória

São muitos os eventos marcantes que Paula Fernandes poderia destacar: o ‘Maior Logótipo Humano’, em 1999, o primeiro grande evento em que participou e que apoiou a candidatura ao Euro’2004; a ‘Mais Bela Bandeira Humana’, que juntou 18 mil mulheres, em 2006; o Festival dos Oceanos, que coordenou de A a Z, entre 2009 e 2011; a AR&PA – Bienal Ibérica do Património Cultural, em Amarante, no ano de 2017, mesmo na altura em que nasceu a primeira filha; ou o LUZA – Festival Internacional de Luz do Algarve, no mesmo ano, do qual só foi ver o resultado, por estar de licença de maternidade.“Mas um dos que mais me marcaram foi em 2013, o Mundial de Hóquei em Patins em Angola, um país com uma cultura diferente da nossa. A gestora do projeto não podia estar presente, porque ia ser mãe, ficando a meu cargo a gestão e toda a coordenação das equipas presentes, quer na cerimónia de abertura, quer no encerramento. Deu‑me o maior orgulho de sempre do trabalho que faço. Foi realmente muito gratificante, com uma grande responsabilidade, mas, mais uma vez, com uma equipa sempre presente e que me apoiou na tomada de todas as decisões mais assertivas para que as duas cerimónias corressem com o sucesso que foi demonstrado”, lembra.

Nesse mesmo evento, Paula Fernandes viveu um dos momentos mais hilariantes do seu percurso. “Os eventos não são só recordados pelo momento do evento ou espetáculo em si, mas também por toda a sua preparação prévia”, frisa. “Eu sou uma pessoa muito descontraída e muito low profile, gosto pouco da ribalta, mas ali era eu que tinha de dar a cara e de falar nas reuniões com os responsáveis de todas as áreas do projeto. Foi marcada uma reunião e lá fui eu, completamente descontraída de calças de ganga e de top (estava muito calor) e, de repente, entro numa sala onde só estavam homens das mais altas patentes, todos de fato e gravata… Senti‑me muito pequenina naquele momento”, conta, ressalvando, no entanto, que quando começou a falar, “mesmo com o meu ar de descontraída, fui levada a sério e todo o planeamento mostrado foi seguido com todo o profissionalismo”.

Há ainda aqueles eventos que se recordam também porque poderiam não ter corrido bem, mas em que tudo se resolveu da melhor forma possível.

Neste capítulo, Paula Fernandes encaixa o Dia do Porto de Leixões, em 2019. “Estava tudo planeado para ser mais um evento de grande sucesso, com diversas atividades, espetáculos e animações. É um evento que tem sempre muita adesão de público. No entanto, nesse ano, 15 dias antes começamos a ver que as condições meteorológicas não eram favoráveis a fazer o evento”, explica. Todos os dias a equipa via se havia previsões de melhoria do tempo, mas, pelo contrário, as indicações eram de condições muito adversas, quer no dia anterior (o das montagens), quer no dia do evento. O cliente decidiu manter o evento e este foi reajustado de acordo com as condições previstas. “Fizemos todas as montagens possíveis no exterior, em espaço abrigado, e o restante no interior.” Chegou o grande dia e, apesar do tempo, já havia fila para entrar antes da abertura de portas. Paula Fernandes conta que estava tudo a correr bem e que até nem chovia assim tanto. Mas, “num abrir e fechar de olhos, começou a chover e o vento a soprar de tal forma que tudo voava pelos ares; estruturas que estavam preparadas para estar no exterior começaram a ser arrastadas de tal forma que nem dez pessoas da nossa equipa e seguranças estavam a conseguir controlá‑las… Foram logo desmontadas para que ninguém se magoasse.”Foi um dia de emoções fortes. “Não parei um segundo para verificar que tudo corria com a maior normalidade possível, mesmo não existindo normalidade nesse dia.

No final, até me emocionei, pois, mesmo tendo sido um dia muito stressante e com vários obstáculos que foram resolvidos imediatamente com a excelente equipa que estava comigo, o Dia do Porto de Leixões foi mais uma vez um sucesso”, com palavras do cliente agradecendo à equipa e destacando o profissionalismo de Paula Fernandes por ter conduzido o evento de forma exemplar. Palavras que ficam para sempre gravadas na memória.

 

Maria João Leite

© Maria João Leite Redação