Recursos humanos precisam-se!

Reportagem

23-02-2022

# tags: Recursos humanos , Eventos

O mote foi o “Estado atual dos recursos humanos”, mas a discussão do encontro online entre os empresários do setor dos eventos acabou por abordar outros temas fulcrais para atividade, como o aumento de custos e a união do setor.

Jorge Coelho (Abreu Events), Jorge Vinha da Silva (Altice Arena), Mariana Oliveira (Anetours), Miguel Ribeiro (Miguel Ribeiro Events), Pedro Magalhães (Europalco), Pedro Castro (Multilem), Pedro Rodrigues (Desafio Global) e Rui Goulart (Brand P) foram os convidados desta iniciativa.

A pandemia, e consequente congelamento dos eventos por tempo indeterminado, empurrou muitos profissionais para fora do setor dos eventos ou até mesmo para fora do país, ditando a fuga dos recursos humanos. Com remunerações no zero, foram muitos os que procuraram mercados com maior procura ou outras atividades que lhes provessem uma remuneração mais estável.

Agora, num ano em que as previsões apontam para uma retoma efetiva da atividade, importa saber voltar a atrair profissionais ou motivar os que se mantiveram nesta indústria. Os desafios são muitos.

Vida pessoal versus profissional

A situação pandémica trouxe novas prioridades para os profissionais no geral e a área dos eventos não foi exceção. Os vínculos laborais em regime de recibos verdes ou os trabalhos em horários que não se coadunam com a vida pessoal pesaram nestes últimos dois anos. Assim, a procura pelo equilíbrio entre vida profissional e pessoal tornou‑se uma premissa para alguns trabalhadores, muitos dos quais o conseguiram em outras áreas de trabalho e dele já não abdicam.

No entanto, não foram apenas outras atividades económicas, que não sofreram retração do negócio, que se tornaram mais atrativas. Lá fora as oportunidades foram surgindo e os portugueses, reconhecidos por serem bons profissionais, com conhecimentos técnicos e considerados mão‑de‑obra barata, não tiveram dificuldade em incorporar as equipas para a realização de um dos grandes eventos internacionais do momento, a Expo Dubai.

Não sendo também um problema exclusivo de Portugal, acredita‑se que a escassez de recursos humanos vai fazer aumentar a competitividade além‑fronteiras. Mercados mais atrativos, e com oferta de melhores condições, vão disputar os profissionais do setor, ampliando as dificuldades das empresas portuguesas em reter talento.

Aumento de salários

A inexistência de recursos especializados traz consigo duas questões cruciais: um aumento do valor do pessoal especializado e uma diminuição do grau de exigência.

Com a insuficiência de pessoal e o aumento da procura, os profissionais especializados vão requerer remunerações mais vantajosas. Muito mais do que “um bom salário”, as empresas precisam de ser imaginativas para segurar os seus funcionários. Estar mais presentes na vida das pessoas e dos seus problemas, criar incentivos que promovam o espírito de equipa e reforçar o departamento de recursos humanos para um melhor acompanhamento são alguns dos exemplos sugeridos.

Para complementar as necessidades das empresas, a solução pode passar por contratar pessoal sem formação na área. Algo que implica uma diminuição do grau de exigência e que pode refletir‑se na qualidade.

Urgente motivar

Estes dois anos de estagnação provocaram consequências também em quem manteve o seu posto de trabalho.

Lidar com a atividade em modo intermitente tem‑se refletido na motivação dos profissionais. Também a diminuição dos rendimentos, ausência de contactos sociais, o teletrabalho (e a gestão que o mesmo implica), gestão das restrições do vírus no dia‑a‑dia e a incerteza de quando toda esta situação vai terminar, têm‑se revelado desgastantes e provocado uma desmotivação generalizada das equipas.

Concorda‑se que o desempenho das pessoas diminuiu e, com isso, torna‑se mais difícil dar resposta às solicitações, acabando assim por se realizar menos eventos por dificuldades de resposta. Com o regresso ao ritmo normal de trabalho, acredita‑se que o ânimo das equipas também regressará.

A par da desmotivação, o comodismo. Admite‑se que a flexibilidade dos funcionários, para trabalhos aos fins‑de‑semana ou em horários menos tradicionais, não é ou será a mesma. Também a disponibilidade para ações de formação por parte dos funcionários saiu afetada deste período.

Levanta‑se ainda a questão dos subsídios de desemprego que têm contribuído para uma menor procura e interesse por parte dos desempregados em regressar ao mundo do trabalho.

Mais do que recursos humanos

A carência de profissionais é uma das problemáticas que o setor dos eventos enfrenta. Mas não é a única, nem a principal. Outros problemas despertam a atenção dos empresários, como os custos de contexto ou a diminuição dos preços por alguns concorrentes.

Ao previsível aumento de salários, juntam‑se fatores que contribuem para a subida dos custos fixos das empresas, concretamente os custos de contexto. Estes preocupam o setor, sejam eles energéticos, com fornecedores ou de produção. Porém, alertam, estes aumentos dificilmente vão refletir‑se no que o cliente pagará, pois este espera que os preços diminuam à boleia da crise.

Com o incremento dos custos (e a dificuldade em repercutir os aumentos no produto final), prevêem‑se margens de negócio mais apertadas para se poder subsistir. Os investimentos programados, seja inclusive ao nível do material, que ficou desatualizado e desvalorizado ao fim de dois anos com utilização quase inexistente, podem ser adiados e com isto afetar a competitividade das empresas no panorama internacional.

Apesar da inevitável subida dos custos, apela‑se ao bom senso e à união dos profissionais em prol de não se estragar a competitividade de um setor ao ceder à tentação da diminuição dos preços. Conduta que afeta a recuperação e sustentabilidade económica de todo o setor. “Deve‑se praticar preços adequados para o momento que se vive e aguardar, porque vai haver negócio para todos”, asseguram.


Raquel Relvas Neto