Eventos: Formar para o que é novo

Opinião

02-01-2023

# tags: Formação , Eventos

Grande atividade - é esta a fase que os eventos estão a abraçar com muito entusiasmo e igual necessidade de preparação.

Pode parecer uma questão já ultrapassada ou excessivamente discutida, mas não é: os efeitos do contexto pandémico no setor dos eventos não se limitaram às (graves) quebras económicas no setor nem às (impressionantes) adaptações alcançadas nos períodos de confinamento.

Essas poderão ter sido as repercussões mais diretas que, à semelhança dos outros setores, estão agora a ser ultrapassadas. Contudo, nesta fase pós-retoma, existem ainda múltiplas consequências indiretas perante as quais os profissionais dos eventos terão de continuar a provar o seu valor. Nomeadamente, o período pandémico reforçou a ideia de que os eventos têm duas dimensões, que passaram a ser inseparáveis e interdependentes: o presencial e o digital. Deixámos, em definitivo, de falar de acontecimentos limitados no espaço ou no tempo, passando a considerar eventos que beneficiam, entre outros, de mecanismos de check-in tecnológicos de público e equipas (longe ficou o tempo da acreditação em papel!), de informação disponibilizada digitalmente (com a renovada força dos QRcodes) e do conforto dos streamings.

De um modo geral, a já irreversível digitalização veio aproximar públicos mais distantes, potenciando o alcance dos eventos, ao mesmo tempo que desmaterializou processos para quem os organiza. Isto não significa, porém, que a tarefa dos profissionais tenha ficado mais simples. Pelo contrário, as necessidades duplicaram-se: um evento já não é pensado apenas para que as duas dimensões funcionem de forma articulada, sem sobreporem o potencial de cada uma delas.

Neste contexto, adensou-se a necessidade de formação especializada que a área dos eventos há muito identificava. Ou seja, quem integra este setor chega, tipicamente, de outras áreas tão diversas como a gestão ou comunicação, fazendo-se a formação específica em eventos quase exclusivamente com experiência, tentativa e erro, trabalho e muita partilha em equipa – essenciais para o crescimento profissional, sem dúvida.

O que começamos a identificar na oferta académica são formações que oferecem um intermédio entre estas duas fases. Isto é, após a base assegurada noutras áreas, surgem programas destinados a proporcionar aos profissionais uma visão abrangente e estratégica sobre o setor dos eventos, contando com exemplos das melhores práticas do mercado transmitidas por aqueles que melhor o conhecem.

Entre os objetivos destes programas, já não consta apenas a compreensão das fases de planeamento de um evento ou da sua gestão financeira, mas também uma forte componente de liderança e gestão de equipas (fundamental no perfil de um bom gestor de eventos), de trabalho de imagem e comunicação e, indispensavelmente, de compreensão da digitalização que o setor atravessa. Neste último campo, não falamos, claro, de uma formação excessivamente técnica, que permita descortinar o funcionamento de equipamentos, até porque não será esse o papel de quem gere um evento. Falamos, sim, de um conhecimento alargado sobre as possibilidades que o mercado oferece, sobre os mecanismos digitais que estão a ser aplicados em conferências, festivais, cimeiras e tantos outros.

Sem dúvida que as bases de conhecimento estratégico e especializado são fundamentais tanto no início de um percurso profissional como, mais tarde, para a atualização de competências. A elas, a experiência de “terreno” e os anos de partilha entre profissionais darão origem à construção de uma carreira longa e bem-sucedida, pronta para as inovações futuras.


Por Andrea Santos, Filipe Trindade e Gilda Mendes
Coordenadores da Pós-Graduação em Organização de Eventos do ISAG – European Business School