Como vão evoluir os preços dos eventos?

Reportagem

16-01-2023

# tags: Recursos humanos , Eventos , Meetings Industry , Eventos corporativos

Foi a pergunta-mote para o debate com Ana Fernandes, Eventors’ Lab, Carlos Furtado, Porto de Ideias, Gilda Mendes, No More, João Magalhães, Frontal360, e Rui Pinheiro, Mad4ideas.

A conversa – animada, como sempre - decorreu na AEVP – Associação das Empresas de Vinho do Porto, em Vila Nova de Gaia, no final de 2022.

Ponto prévio para fazer uma contextualização do que se vive atualmente na indústria: ‘loucura’ de trabalho. Desde o segundo trimestre do ano o setor vive “em processo contínuo”, proposta atrás de proposta, evento atrás de evento, prazos de execução cada vez mais curtos, sem hipótese de parar, descansar e refletir. O feedback que a Event Point tem do mercado confirma‑se assim também neste debate. Acresce a isto uma situação geral complicada: inflação, preços crescentes da energia e matérias‑primas, uma guerra que se arrasta, falta de recursos humanos. São desafios atrás de desafios, e note-se que saímos de uma pandemia devastadora, a que a indústria dos eventos respondeu com resistência, reinvenção, com força e otimismo.

Profecia autorrealizável

Hoje em dia, a palavra crise volta a pairar no ar. Apesar de a economia estar a funcionar, quando toda a gente começa a falar em crise, ela tende mesmo a acontecer. É uma profecia autorrealizável: de tantos falarmos, contribuímos para o resultado. E assim, quando 2022 chegar ao fim e as empresas começarem a projetar 2023, esse cenário pode eventualmente estar na cabeça dos decisores. Alguns dos convidados apontam já uma certa retração, alguma cautela e hesitação, por parte dos clientes para o próximo, mas nada que os assuste muito, porque a vontade de fazer eventos continua bem patente. A área dos eventos atravessa uma boa fase, há, apesar de tudo, marcações já para 2023, e nos últimos anos os profissionais habituaram-se a lidar com a incerteza. É um setor inerentemente flexível, e essa skill pode ajudar a ultrapassar os eventuais constrangimentos que virão. O sentimento dos participantes no debate é de otimismo e energia positiva.

Recursos humanos: o maior desafio

Os eventos vão ser mais dispendiosos, sobretudo se incluírem itens que obrigam ao uso de energia intensiva, transporte intensivo, matérias-primas, produtos alimentares. Mas os salários podem ser o busílis da questão. “Se a inflação se mantiver alta, os trabalhadores vão perder poder de compra e os empresários vão ter de subir salários, e isso fará com que os preços disparem globalmente”, sublinha um dos nossos participantes. Note-se que a duração desta inflação alta é uma incógnita, porque está muito ligada aos preços da energia.

Os recursos humanos foram o tema de um dos últimos debates da Event Point, o panorama é complicado. É sobejamente conhecida a situação de falta de profissionais para trabalharem na hotelaria e catering, bem como a falta de técnicos nas empresas de audiovisuais (muitos saíram durante a pandemia), e os freelancers não têm mãos a medir, porque as empresas estão a recorrer a este grupo o mais possível.

A pandemia colocou a vida pessoal num lugar central e, por isso, os recursos humanos são agora mais exigentes, naquilo que cobram, nas expetativas que têm. Têm mais poder de negociação. Isso implica uma grande mudança para este setor, conhecido pela falta de horários, pelos picos de trabalho, pelo compromisso total. A dificuldade de fidelizar recursos humanos é uma realidade, também neste setor. Bem como a regeneração dos profissionais, uma vez que não estão a chegar pessoas novas aos eventos. Todo este contexto poderá levar, eventualmente, a uma nova filosofia de contratação.

E se a pandemia deixou marcas nos hábitos de trabalho, que ainda não foram recuperados, e no mindset, isso obriga atualmente a outros timings de execução dos eventos. O número de horas de trabalho influencia também o preço dos eventos e essa necessidade tem de ser explicada ao cliente.

Com todas as incertezas atuais, ter uma relação de grande transparência com o cliente torna-se cada vez mais importante. Importa que ele perceba o que aumentou e porquê e o que lhe pode ser imputado.

O setor deve ter orgulho na sua capacidade de resistência, de adaptação, de flexibilidade, de resolução de problemas, e estas mesmas habilidades vão permitir ultrapassar as situações que se lhe depararem no futuro. O sentimento é de confiança. Um brinde a isso!

AEVP: Centro de eventos em Vila Nova de Gaia

A AEVP é uma associação que reúne 18 empresas de vinho do Porto e tem como missão a “representação e proteção do interesse dos seus associados e na promoção e defesa da Indústria e Comércio dos Vinhos do Porto e Douro e outros produtos vínicos da Região Demarcada do Douro em todo o espaço nacional e estrangeiro”. As instalações localizam-se em Vila Nova de Gaia, bem próximo do rio, e podem receber eventos empresariais e particulares. Os espaços têm capacidade para até 300 pessoas e foram pensados para proporcionar comodidade, conforto e tranquilidade num ambiente alusivo ao Vinho do Porto, à sua história e às suas caves. A AEVP conta ainda com um Centro Multimédia que dá a conhecer a história deste vinho, da produção ao consumo final.