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Opinião

06-06-2023

# tags: Eventos , Turismo

A realização da final da Taça de Portugal em Lisboa, quando envolve a participação de dois clubes do Norte, levanta questões importantes do ponto de vista da sustentabilidade.

Nesta análise crítica, exploraremos os desafios e impactos dessa decisão, considerando os aspetos ambientais, sociais e económicos relacionados.

Um dos principais desafios é o impacto ambiental resultante do deslocamento massivo de adeptos, equipas e staff técnico desde o Norte até Lisboa. Esse deslocamento, seja por via aérea, rodoviária ou ferroviária, implica a emissão significativa de gases de efeito estufa, contribuindo para as mudanças climáticas. Além disso, o consumo de recursos naturais durante a estadia em Lisboa, como eletricidade, água e alimentos, também deve ser considerado. Medidas como a promoção do transporte público, a adoção de práticas de sustentabilidade nos estádios e a compensação de carbono poderiam ajudar a minimizar esses impactos negativos.

A escolha de Lisboa como local da final da Taça de Portugal, quando disputada por clubes do Norte, pode acentuar as desigualdades geográficas existentes no país. Concentrar eventos desportivos em grandes cidades, como Lisboa, pode beneficiar a economia local e o turismo, enquanto regiões menos desenvolvidas enfrentam dificuldades em aproveitar os benefícios económicos e sociais desses eventos. Isso pode perpetuar a disparidade económica regional, afetando negativamente o desenvolvimento sustentável das áreas de origem dos clubes envolvidos. Seria importante considerar alternativas que descentralizem esses eventos, permitindo que diferentes regiões do país se beneficiem economicamente.

A realização da final da Taça de Portugal em Lisboa gera benefícios económicos significativos para a cidade, como o aumento do turismo, a ocupação hoteleira e o consumo nos estabelecimentos locais. No entanto, esses benefícios tendem a ser concentrados na região onde o evento ocorre, deixando de aproveitar o potencial económico que poderia ser gerado nas áreas de origem dos clubes do Norte. Uma abordagem mais equitativa poderia envolver a promoção de iniciativas que direcionem uma parte desses benefícios económicos para as comunidades e setores afetados nos locais de origem dos clubes.

A descentralização da final da Taça de Portugal, levando em consideração a localização dos clubes finalistas, pode proporcionar oportunidades de desenvolvimento regional. Ao escolher sediar o evento no norte do país, além de reduzir o impacto ambiental das viagens, seria possível estimular o turismo local, promover a economia regional e fortalecer a identidade cultural das comunidades envolvidas. Isso contribuiria para um desenvolvimento sustentável mais equilibrado, distribuindo os benefícios económicos e sociais de forma mais ampla.

A realização deste evento em Lisboa, quando disputada por clubes do Norte, apresenta desafios importantes do ponto de vista da sustentabilidade. É fundamental considerar o impacto ambiental, a desigualdade geográfica, a concentração de benefícios económicos e as oportunidades de desenvolvimento regional. Buscar alternativas mais sustentáveis e equitativas, descentralizando eventos desportivos importantes e envolvendo as regiões de origem dos clubes, pode contribuir para um desenvolvimento mais equilibrado e sustentável, promovendo benefícios económicos e sociais mais distribuídos em todo o país.

© Tiago Matos Vital Opinião

Professor, Diretor da Pós Graduação Organização e Gestão de Eventos, Católica Porto Business School

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