Empresas de catering ‘servem’ sustentabilidade ao setor
22-10-2025
# tags: Gastronomia , Agências , Catering , Sustentabilidade
Casa do Marquês, The Mad Kitchen e Tazte multiplicam esforços para tornar as suas operações mais amigas do Ambiente.
Integrar práticas sustentáveis no serviço de catering é hoje um objetivo estratégico para as empresas do setor, conscientes do impacto ambiental e social da sua atividade.
A Event Point ouviu três empresas de catering sobre a relação entre sustentabilidade e o serviço que oferecem e as posições são unânimes sobre o que já está a ser feito: opção por produtos locais e sazonais, planeamento rigoroso das quantidades de comida, criação de parcerias com associações que recolhem sobras para doação, entre outros exemplos.
A importância de um bom planeamento
Inês Magalhães, diretora de Operações da Casa do Marquês, explica que “através de um planeamento atempado dos menus e da preparação dos alimentos segmentados por momentos do evento, é possível reduzir o desperdício alimentar”.
Ter atempadamente “o número correto de convidados, complementado com a utilização de técnicas de capitação bem desenvolvidas, ajuda a controlar os excessos. Esta gestão é também facilitada por menus adaptados às necessidades dos clientes – por exemplo, opções mais leves para coffee-breaks”, acrescenta.
Segundo Inês Magalhães, a presença de estações de showcooking nos dias dos eventos, “em que os ingredientes são cozinhados na hora, contribui para reduzir as sobras e aumenta a qualidade do produto final”.
Parcerias com associações para aproveitamento das sobras
Raquel Rua, diretora comercial da The Mad Kitchen, lamenta que não exista “uma forma mágica” para reduzir o desperdício alimentar, sublinhando que há sempre convidados que “confirmam os eventos e depois não comparecem”.
“A nossa forma de redirecionar este desperdício alimentar é contactar empresas como a Refood”, afirma. Além destas práticas, a The Mad Kitchen não utiliza plásticos nos serviços de catering e “recorre muito à madeira para construção dos materiais”.
No final de cada evento, também a Casa do Marquês opta por fazer “um reaproveitamento e doação de alimentos para parceiros de instituições sociais – a Refood”. “Além disso, somos bastantes exigentes com a separação dos lixos e a sua reciclagem – temos sempre contentores para resíduos orgânicos e indiferenciados”, partilha a diretora de Operações.
“Fazemos árvores de Natal com verrines velhas ou candeeiros com talheres, por exemplo. Também substituímos a iluminação da nossa cozinha e armazém por iluminação LED, temos painéis solares no telhado da nossa sede e temos uma frota de carros ligeiros 100% elétrica”, complementa.
Maria Gamito, responsável de Qualidade, e Manuel di Pietro, diretor de Business Development, da Tazte, afirmam que a empresa “adota uma abordagem integrada e responsável para garantir eventos tão sustentáveis quanto possível, focando-se na redução do desperdício alimentar e na implementação de práticas ecológicas em todas as suas operações”.
No que diz respeito a práticas diretamente ligadas à redução de desperdício, a Tazte faz um “planeamento rigoroso do número de convidados, permitindo ajustar as quantidades de comida de forma precisa” e cria “menus personalizados com porções adequadas, em que a capitação (quantidade por pessoa) é adaptada conforme a estrutura da ementa”.
Simultaneamente, investe na “reutilização criativa de ingredientes, como a transformação de sobras de legumes em caldos, sopas ou bases para outros pratos” e na “doação de excedentes alimentares a instituições sociais, sempre que as condições legais e de segurança alimentar o permitem”.
“A Tazte colabora ativamente com organizações como a Refood e a Dariacordar, assegurando que os alimentos em boas condições são direcionados a quem mais precisa contribuindo para uma cadeia alimentar mais solidária e circular”, explicam Maria Gamito e Manuel di Pietro.
Sazonalidade e escolha de produtores locais
Questionada sobre a importância da sazonalidade e da produção local na escolha dos ingredientes, a diretora comercial da The Mad Kitchen refere que tendo em conta “a demanda de eventos” que a empresa tem – em que chegam a consumir “uma tonelada de carne por semana” –, nem sempre é possível recorrer a produtos portugueses.
“O uso de ingredientes sazonais e locais, priorizando produtos frescos e com menor pegada de carbono, enquanto apoia a economia local” e a criação de “parcerias com produtores locais, que seguem práticas agrícolas responsáveis e sustentáveis, contribuindo para cadeias produtivas mais ecológicas” são práticas incluídas na operação da Tazte.
De modo a “garantir a qualidade do produto final”, a Casa do Marquês produz “quase tudo ‘in house’”. “Temos nas nossas instalações cozinha, pastelaria e padaria. Produzimos tudo na nossa fábrica e controlamos a origem e qualidade de todos os ingredientes. Adicionalmente, tentamos utilizar produtos locais e adaptados às alturas do ano”.
“Com estas práticas conseguimos reduzir a utilização de embalagens, reduzimos a nossa pegada carbónica, apoiamos produtores regionais, geramos postos de trabalho direta e indiretamente, conseguimos ingredientes mais frescos e com maior qualidade e conseguimos reduzir o valor a pagar por algumas matérias-primas”, diz Inês Magalhães.
Alternativas sustentáveis para minimizar a utilização de plásticos
“Reduzir o uso de plásticos de utilização única” é outra das preocupações da Casa do Marquês. “A maioria dos nossos eventos é realizada com palamenta de loiça e copos de vidro. Quando temos de utilizar copos de plástico (por exemplo em piscinas) utilizamos copos de plástico reutilizáveis”.
Segundo a diretora de Operações da empresa de catering, quando não há opção e é necessário o uso de material descartável, a Casa do Marquês aposta em materiais de papel, pasta de açúcar e bambu.
A comida é “toda transportada em malas térmicas próprias e em rechauds – sem a utilização de nada descartável” e o material é “cada vez menos acondicionado com fita-filme (plástica, de utilização única)”. A empresa tem também investido em “capas de proteção para o material e mobiliário (reutilizáveis) e carros de transporte com redes de contenção para material de decoração”.
Para a Tazte, “reduzir o uso de plásticos descartáveis no catering é essencial para tornar os eventos mais sustentáveis”. Neste sentido, implementa “diversas soluções”, “substituindo materiais poluentes por opções mais ecológicas e elegantes”.
Entre estas soluções está “o recurso a serviços de mesa com loiça e utensílios reutilizáveis, conciliando sofisticação e sustentabilidade, sem recorrer a talheres, pratos ou copos descartáveis” e a “expedição dos alimentos em travessas de loiça ou tabuleiros de inox, eliminando o uso de recipientes de plástico na fase de transporte e apresentação”.
Nas suas operações, a The Mad Kitchen dá primazia ao vidro e a “containers reutilizáveis e tampas”, em “substituição da película alimentar, que é onde as empresas de catering geram maior desperdício de plástico”, afirma Raquel Rua.
Desafios para um catering mais sustentável
“Gerir a precisão do nível de encomendas, eliminar os descartáveis nas cozinhas e procurar trabalhar com a sazonalidade dos produtos” são, segundo a diretora comercial da The Mad Kitchen, os grandes desafios para tornar a atividade mais sustentável.
Na opinião de Inês Magalhães, diretora de Operações da Casa do Marquês, o grande desafio do catering “está relacionado com o volume de comida que tem de ser preparado para garantir que nada falhe e que pode, por vezes, gerar muitas sobras”.
Outro dos desafios, acrescenta, “está relacionado com a sazonalidade dos produtos, pois muitas vezes os menus são escolhidos com meses de antecedência e temos dificuldade em adaptar ao que está mais disponível na data do evento. O transporte dos alimentos para os eventos e a sua refrigeração exigem por vezes um consumo energético elevado”.
Já Maria Gamito e Manuel di Pietro, da Tazte, consideram que os “custos iniciais mais elevados de soluções sustentáveis”, a “dificuldade em encontrar fornecedores locais com escala”, a “logística complexa em eventos grandes” e a “resistência à mudança por parte de alguns clientes ou parceiros” são os grandes desafios do setor.
Criatividade ao serviço da sustentabilidade
O “uso completo dos ingredientes”, de forma criativa, é prioritário para “gerar o mínimo desperdício possível”, de acordo com a The Mad Kitchen.
Para a Casa do Marquês, “a criatividade é cada vez mais a chave para o sucesso e diferenciação de um evento”. “O nosso chef executivo e a equipa de cozinha da Casa do Marquês trabalham todos os dias para inovar nos processos, surpreender na escolha dos ingredientes e transformar desafios ambientais em oportunidades”, diz Inês Magalhães.
“Na escolha dos ingredientes tentamos utilizar por vezes os que são subvalorizados e por vezes descartados e damos-lhes uma nova vida. Nas técnicas culinárias apostamos em desperdício zero e na utilização de todas as partes dos ingredientes”, acrescenta.
Por último, a Casa do Marquês aposta também, “em alguns pratos, num design comestível como o bacalhau na broa que é servido dentro da broa, o que torna o prato 100% comestível”.