“Estamos a redescobrir-nos como marca e identidade num novo ambiente”

Entrevista

08-03-2023

# tags: Agências , Eventos , Ucrânia , Portugal , Conferências

A agência de eventos ucraniana Filosofia Creative Group está a estabelecer-se em Portugal.

A Filosofia Creative Group conta com mais de sete anos de experiência em eventos corporativos, conferências, team buildings, eventos híbridos e virtuais, ativações de marca, roadshows, entre vários outros.

Dado o atual contexto de guerra e a vontade de expansão internacional, parte da equipa da agência permaneceu na Ucrânia, mas uma outra parte trouxe a empresa para Lisboa. “Estamos a redescobrir-nos como marca e identidade num novo ambiente”, conta Jenya Shaposhnikov, CEO e cofundador da agência, que considera Portugal um país “muito convidativo” para eventos internacionais.

Como agência que ama e cuida dos seus clientes, orgulham-se de construir “relacionamentos de longo prazo” com os membros da equipa, clientes e parceiros” (sendo esse o seu valor) e de não fazer “eventos de baixa qualidade” (sendo essa uma regra).

Da Ucrânia para Portugal. Como pode descrever este percurso?

Rápido é a palavra que, definitivamente, estará na descrição. No entanto, há a sensação de que planeámos esta trajetória muito antes da guerra, durante a pandemia da covid-19… se ainda se lembrarem do que isso foi (risos). Foi aí que aprendemos, pela primeira vez, a atravessar fronteiras que pareciam intransponíveis no início da epidemia. Produzimos as ‘CzHuSk Healthy Weeks’ para os nossos parceiros de empresa da República Checa, Hungria e Eslováquia. E criámos, produzimos e realizámos uma grande e pomposa conferência sobre inteligência artificial, ‘AI Ukraine’, com muitos convidados, luzes e tecnologia, que foi transmitida de três estúdios virtuais e com um número ilimitado de visitantes. Isto não poderia deixar de nos mudar. Já cruzámos as novas fronteiras fortalecidos. Agora, acho que podemos ser chamados de omnipresentes: parte da equipa e dos escritórios permanecem na Ucrânia, em Kiev e Kharkiv, como antes da guerra, e parte da equipa agora encontra-se em Portugal.

Que vantagens encontra em Portugal enquanto destino para eventos? E dificuldades?

A indústria dos eventos, na maioria dos casos, é construída sobre as emoções das pessoas. Portugal atrai-me pela sua natureza, pelo seu espírito aventureiro e por proporcionar espaço para respirar. Não é de admirar que sejam anfitriões de uma grande quantidade de conferências e projetos MICE de empresas internacionais. A comunidade criptográfica está aqui, as empresas de tecnologia estão aqui – muitos são nossos clientes –, e acreditamos que devemos estar aqui com eles. Lisboa e todas as restantes regiões são ricas em locais e espaços atípicos, e nós adoramos isso e formatos não padronizados. Também existem dificuldades. Na maioria das vezes, elas estão nas diferenças culturais que precisam de ser sentidas na nossa esfera, não apenas entendidas. Isto dificulta-nos o sentir completamente o mercado e afeta a rede que temos na Ucrânia. Leva tempo e, essencialmente, estamos a redescobrir-nos como marca e identidade num novo ambiente.

Como pode descrever o panorama dos eventos na Ucrânia, antes da pandemia e da guerra?

Os eventos variavam em escala e qualidade. A Ucrânia é um país jovem e o mercado de eventos também é jovem. Além disso, somos uma nação muito criativa, pelo que os projetos são muito diversos e entre eles há aqueles que criam um efeito ‘uau’. Retiros de três dias para toda a empresa são fáceis de organizar, assim como conferências de tecnologia em estádios para partilhar experiências com colegas. Os clientes sentiam-se como ‘estrelas rock’, não poderia ser abaixo disso. E realmente trabalhamos para eles com essa vibração. Além disso, a Ucrânia tem muitas empresas tecnológicas, o que permite criar conferências, eventos corporativos e apresentações muito divertidas e dinâmicas. Por isso, estou confiante de que o mercado foi e continuará a ser muito promissor.

Que diferenças sente em relação ao trabalho na Ucrânia e em Portugal?

A abordagem e organização do mercado de eventos na Ucrânia ensinou-nos a realizar projetos num período muito curto de tempo. Aqui não funciona assim: fornecedores e locais são reservados com antecedência e, se ganharmos um projeto na época alta, há uma grande probabilidade de que o local pretendido para o evento já esteja reservado há um ano. A velocidade e a criatividade muitas vezes ficam aquém do que estamos acostumados na Ucrânia. Em Portugal, devido a estar na União Europeia e aos voos rápidos e baratos, podemos alugar e trazer algo de Itália, contratar um especialista da Alemanha ou encontrar um fornecedor de outro país. Isto ajuda muito a alcançar um resultado melhor. Em Lisboa, por exemplo, quase todos os metros quadrados estão disponíveis para se alugar para eventos – é possível criar um projeto num museu, numa galeria, num terraço, num castelo. Há um grande foco e trabalho para que a burocracia seja relativamente baixa. Chamou-me também a atenção que muitos dos venues são geridos pelas empresas de catering, não diretamente pela equipa de produção do espaço. E, às vezes, se a empresa de catering está ocupada com outro trabalho, não é possível alugar o venue. Então, como é que ambas as empresas podem funcionar no mesmo lugar?

Que serviços têm disponíveis e qual o que tem mais peso na empresa?

Na maioria das vezes, os nossos clientes procuram uma produtora de eventos responsável e confiável, que atenda às suas prioridades principais e secundárias. Na minha opinião, o aspeto mais importante é alcançar os objetivos que o nosso cliente tem para cada evento específico. Os nossos fornecedores tecnológicos ajudaram a estabelecermo-nos como mestres de eventos no mercado, permitindo-nos libertar a nossa criatividade com VR/AR, chatbots e plataformas para eventos online. Design, movimento, componente criativa, direitos autorais, RP, todas estas ferramentas permitem-nos criar novos projetos somente com uma equipa, o que otimiza o orçamento. No entanto, as qualidades básicas de uma agência profissional, como a responsabilidade na comunicação com o cliente, a resposta rápida às mudanças e a adaptabilidade não são menos importantes para o sucesso de qualquer evento.

O que torna a Filosofia uma agência diferenciadora?

Nós amamos e cuidamos dos nossos clientes. Isso pode ser facilmente visto no nosso portefólio, onde, desde o início da nossa atividade até aos dias de hoje, é possível ver os mesmos clientes, mas nunca o mesmo formato. Nós construímos relacionamentos de longo prazo com os membros da nossa equipa, clientes e parceiros – vemos isso como o nosso maior valor. E não fazemos eventos de baixa qualidade – essa é a nossa regra.

Quais são os principais mercados com que trabalham?

Os nossos principais mercados são programadores de IT, programadores de jogos, grandes empresas e empresas de criptomoedas. Nós complementamo-nos muito bem. Eles são descontraídos, inovadores, aventureiros e divertidos. É sempre um desafio e um ponto de desenvolvimento. Como muitas vezes já nos conhecem e trabalham connosco, é muito mais difícil surpreendê-los, devido a este longo relacionamento.

Quais foram os eventos mais marcantes?

Particularmente, eu adoro os mais recentes, porque ainda posso sentir-lhes o gosto. No outono, em Lisboa, produzimos e criámos um evento chamado ‘Ukrainian Night – Code of Freedom’ como parte da conferência global de blockchain ‘Nearcon 2022’. Foi sobre nós, Ucrânia, a nossa cultura única, o estilo, a comida deliciosa e a música. E também alimentámos meio milhar de convidados com vareniki (bolinhos ucranianos) ao som da banda ucraniana de electro-folk Onuka. Não é o melhor momento para se celebrar a Ucrânia. Portanto, trabalhar em eventos não é apenas sobre festividades e diversão, mas também é o que podemos fazer e transmitir, como equipas pela Ucrânia.

Que expectativas tem para o futuro?

O mercado de eventos já passou por várias revoluções na Ucrânia, incluindo a pandemia global, e está lentamente a renascer do ‘coma covid’. Atualmente, as agências de eventos estão a ganhar experiência com novas colaborações e parcerias, o que resultará com que, após o fim da guerra, estejamos completamente diferentes. Este negócio estará emocionalmente ajustado de forma diferente, olhará para muitas coisas de maneira diferente, haverá questões relacionadas com a segurança de eventos, de eventos em massa, e haverá oportunidades para abrir novos caminhos. Na minha opinião, o turismo terá um grande desenvolvimento. Depois da nossa vitória, todas as pessoas vão querer ver as cidades, ver o que os russos fizeram e assim por diante. E haverá uma necessidade de criar eventos nessas zonas, uma necessidade de dar às pessoas emoções positivas e algumas tarefas específicas para o Estado. Acho que o fim da guerra não será o fim de tudo. Ainda teremos muitos problemas para resolver e precisaremos de chamar a atenção para a Ucrânia novamente, não através da guerra, mas, sim, de quem somos como nação, o que fizemos, porque vencemos esta guerra... Portanto, o mercado definitivamente sobreviverá, e será diferente, e provavelmente será ainda mais forte do que antes da guerra.

A terminar, porquê o nome Filosofia?

Nós temos a nossa própria filosofia [traduzido do inglês ‘philosophy’], de como vemos a nossa equipa de eventos e quais os objetivos que estabelecemos para nós mesmos. Em primeiro lugar, trata-se de conceitos únicos. Connosco, nenhum cliente encontrará dois conceitos idênticos. Isto dá ao cliente uma vantagem competitiva ao receber algo exclusivo. Em segundo lugar, começamos sempre por perguntar quais os objetivos que o cliente pretende para e com o seu projeto. Sem eles, é apenas um desperdício de dinheiro. Em terceiro lugar, sabemos os serviços necessários num evento, o que eles significam e como fornecê-los corretamente ao cliente: um produtor dedicado ao projeto, a possibilidade de o cliente acompanhar o progresso do projeto, orçamentos abertos e detalhados, comunicação do status do projeto. Com todas estas informações, o cliente irá compreender tudo o que está a acontecer no seu projeto e não ficará nervoso. Em quarto lugar, concentramo-nos em criar uma equipa interna de especialistas que aprendem todos os dias, que trabalham em projetos complexos e grandes e, portanto, podem fornecer mais experiência ao cliente. Isso é impossível de alcançar se trabalharmos somente com freelancers num projeto.

© Maria João Leite Redação