Frederico Rompante: “Não ter medo de falhar ajuda-nos a evoluir”

Entrevista

29-03-2023

# tags: Espetáculos , Luz , Entretenimento , Eventos , Música

Fundador da Side Effects, empresa que se dedica ao stage & light design, Frederico Rompante deu a conhecer à Event Point o seu percurso profissional.

Tudo começou em 2001. Quando Frederico Rompante descobriu que o Direito não era a direção a seguir, decidiu procurar emprego numa nova área. “Nessa altura, com o Porto 2001 a decorrer, o Teatro Nacional São João (TNSJ) estava a contratar pessoas para a parte técnica. Eu concorri ao emprego e fui admitido com um contrato temporário; depois, acabei por ficar efetivo e trabalhei no TNSJ cerca de cinco anos”, conta.

Na reabertura do Theatro Circo, em Braga, corria o ano de 2006, foi convidado a coordenar a equipa de iluminação e lá trabalhou durante cerca de seis anos. Pelo caminho, Frederico Rompante fundou a Side Effects. “Comecei a trabalhar por conta própria, mais no campo da música ao vivo, na parte de iluminação. Hoje em dia, faço toda a parte visual, iluminação, cenários e vídeo em vários projetos. Considero o meu percurso positivo e com um grande caminho ainda a percorrer.” E remata: “A iluminação surgiu um bocado por acaso, mas tornou-se o meu ‘métier’.”

Frederico Rompante trabalha quase exclusivamente em espetáculos, como concertos, dança e peças de teatro, mas já trabalhou em eventos corporativos. “A principal diferença parece-me ser a velocidade a que tudo se passa. Os concertos, principalmente, são postos de pé no próprio dia, são longas horas de trabalho e a resolução de eventuais problemas pede uma capacidade de resposta imediata; enquanto que num evento privado para uma empresa há mais tempo para planear e prever as coisas”, explica.

A indústria dos eventos e espetáculos viveu recentemente um dos maiores desafios a nível global. Questionado sobre se foram os anos mais desafiantes da sua carreira, Frederico Rompante refere que “a pandemia foi um grande desafio, um grande motivo de preocupação, pela saúde e pelo facto de termos estado muito tempo sem trabalhar”. E acrescenta: “Foram dois anos muito difíceis, com pouco rendimento e com muita preocupação. Não sei se foram os anos mais desafiantes de toda a minha carreira, mas estão, sem dúvida, entre os mais desafiantes.”

“Sem música seria um mundo triste”


A música, o não ter medo de falhar e a possibilidade de mudar a vida de alguém ao fazer bem o seu trabalho são as suas grandes motivações. “A música é parte essencial na minha vida, sem música seria um mundo triste. Gosto de pensar que, ao fazer parte de uma equipa de um projeto que se apresenta ao público, posso contribuir para que alguém que está a assistir a um concerto ou uma peça de teatro possa mudar a sua vida, pois se a arte não for capaz de promover pensamento e o pensamento a ação de mudar/melhorar a vida, então, já não é arte, é entretenimento. Não ter medo de falhar ajuda-nos a evoluir, a experimentar coisas que não faríamos se tivéssemos esse medo. De falhas fazem-se coisas bonitas.”

No mesmo sentido, Frederico Rompante quer acreditar que o sucesso de um espetáculo ou evento também passa pelo seu esforço, “senão terei de procurar um novo trabalho”. E do que mais gosta na sua atividade é dos constantes desafios que lhe aparecem no caminho. Por outro lado, do que gosta menos é das “longas horas de viagem, estar muito tempo longe da minha família”.

Sem querer dar conselhos a quem pretende enveredar por esta via profissional, o técnico de luz diz ser importante o “equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal, que nesta área é, muitas vezes, posta em segundo plano”. Em termos de formação, hoje em dia, o cenário não é mau. Hoje, “há mais cursos pelo país todo. O que falta são cursos de curta duração e fora do mundo académico, mas não estamos mal”, sustenta.

No que toca às tendências, e dizendo ser um pouco “alérgico” a elas, Frederico Rompante considera que “a iluminação está cada vez mais diluída em toda a componente visual e que, no futuro, será encarada como parte dela”. O técnico de luz vê o seu trabalho como algo “muito pessoal”, não tendo por hábito ligar a modas... “Acho que podemos desenvolver uma linguagem própria e ter algumas referências que não têm de ser necessariamente de iluminação. A evolução da tecnologia permite-nos fazer coisas de uma forma mais simples e aguça muitas vezes a criatividade, mas não é um fim em si própria”, afirma.

“Lá nos entendemos por gestos e desenhos num papel…”


Frederico Rompante teve vários eventos marcantes e, por isso, é-lhe muito difícil escolher um – “é como perguntar de que filho gostamos mais”… Mas na necessidade de destacar, lembra um evento que lhe deu “especial prazer” realizar. Trata-se do LAF Sever do Vouga (Land Art Festival), que foi organizado pela Side Effects.

“Consistiu num festival de arte pública, no qual apoiamos cinco artistas, patrocinando as obras deles, que estiveram expostas na ciclovia de Sever do Vouga. Foi a primeira vez que organizamos um evento destes; eu, no papel de curador. Foi especial”, avança.

Vários outros eventos vão ficar gravados para sempre na lembrança. Uma memória engraçada que partilha com a Event Point aconteceu num concerto na Polónia. “O técnico que me estava a ajudar só falava polaco ou russo e eu não falo nenhuma das duas línguas. Até aqui tudo bem, mas quando me deparei com a mesa de luz de fabrico polaco e todos os menus em polaco aí a coisa ficou difícil. Mas lá nos entendemos por gestos e desenhos num papel e lá fiz o concerto”, conclui Frederico Rompante.

© Maria João Leite Redação