A tecnologia nos eventos é um meio ou um fim?

01-04-2019

“Queremos algo inovador”

“Queremos envolver as pessoas”

“O que é que há de novo em termos de tecnologia?”

Realidade Aumentada, Chatbots, Messaging, Q&A Digital, Apps, Gamification. Os pedidos sucedem-se na tentativa de ser único e memorável.

Envolver os participantes, aumentar a visibilidade de uma marca, posicionar como relevante, causar um efeito “uau” no meio dos lembretes, dos mails, dos feeds. Tornar o evento uma experiência.

Poucos querem ficar de fora. Num período altamente competitivo em termos de tecnologia, esta é o meio para atingir um fim num evento, ou o fim em si?

Seria de pensar que, navegando diariamente num mar tecnológico, respondamos sim a todas as solicitações. Que vai ser fantástico e que os participantes vão considerar inesquecível.

Mas está mesmo a ser inesquecível? E o que torna inesquecível uma experiência, um momento?

Faço a reflexão em forma de pergunta: Preferimos uma boa prenda uma vez por ano e lascismo, ou consistência na relação e no tratamento que temos por parte dos que nos são queridos?

Consistência para a maioria das pessoas. Queremos saber com o que contamos. E nas relações com marcas, com instituições é muito semelhante esta sensação.

Já assistimos a eventos com grande aparato tecnológico, por parte de entidades com as quais o dia-a-dia é burocrático, “pesado” e logo a seguir ao evento, ao cair o pano voltam a ser assim.


Já assistimos a temas de Transformação Digital de marcas que lidam connosco com excesso de papel, processos arcaicos, difíceis de contactar, mas que para o evento criaram assistentes virtuais e robots fantásticos.


 

A tecnologia em eventos deve servir vários propósitos, alguns deles negligenciados:

  1. Proporcionar fluidez no relacionamento entre o participante e os promotores, do início ao fim; dar resposta, facilitar inscrição e entrada, dar informação útil, envolver;

  2. Permitir ao promotor e organizador ter informação e conhecimento em todas as fases, libertando tempo (e dinheiro) e ganhando qualidade de dados para interação, seja ela institucional ou comercial;

  3. “Quebrar gelo” com a concepção de etapas que apelem às emoções, à curiosidade dos participantes;

  4. Criar momentos para melhorar a comunicação e passar uma mensagem. Um evento é um momento de troca de tempo e atenção entre quem organiza e quem participa para resultar em algo. Quantificar esse objectivo é essencial;

  5. Permitir o seguimento de uma relação. O evento não acaba nas desmontagens, o evento dependendo da sua natureza deve servir como pedra de toque para a continuação de um relacionamento, seja da marca, da instituição, de um conceito;


 

A partilha de objectivos mensuráveis, o envolvimento dos parceiros num conceito, o fomento de uma relação com o participante desde o convite até ao pós-evento, a clarificação da lógica de um “gadget” tecnológico, a aproximação emocional com o participante, e muito mais deve ser tido em conta quando utilizamos a tecnologia.

Em si própria, pode causar um primeiro impacto mas de pouco vale fora de contexto, sendo esquecida rapidamente. Devidamente pensada, e com um guião bem elaborado pode ser a cereja no topo de um bolo, em que no centro está a relação, a comunicação, e a consistência.

 

Nuno Seleiro, Director da Asserbiz