Congresso AHP: Abrandamento, mas perspectiva positiva

25-11-2019

Viana do Castelo recebeu o Congresso da Associação de Hotelaria de Portugal (AHP) com o mote “Preparar o amanhã”.

Cerca de 400 congressistas estiveram presentes em mais uma edição do Congresso da AHP, que desta feita viajou até à cidade de Viana do Castelo. O presidente da Câmara Local, José Maria Costa, aproveitou ter uma plateia de hoteleiros à sua frente, e lembrou que Viana do Castelo precisa de mais hotéis para fazer face à crescente procura turística da região. Uma procura turística que se estende a todo o país, como lembrou o presidente da Associação de Hotelaria de Portugal, Raul Martins, e onde se bateram “recordes atrás de recordes”. Desde o início do ano abriram ou reabriram 36 hotéis, lembra o presidente, destacando que o turismo tem sido “o motor da economia do país”. Mas nem tudo são rosas, “o estrangulamento do aeroporto Humberto Delgado que nos leva a recusar dois milhões de passageiro por ano”, a dependência do Algarve da tour operação, o abrandamento económico na Europa, a recuperação de alguns destinos, a falta de recursos humanos, trazem muitos desafios. O ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, reconhece o abrandamento da atividade, mas lembra que se conseguiu abrir novos mercados, como o norte-americano, e diversificar a oferta de produtos turísticos. Para reagir ao imediato, o ministro apontou a necessidade de continuar a atrair novas rotas aéreas, anunciando que “vamos reforçar o programa VIP” e reforçar o valor em 10 milhões de euros. As prioridades são a captação de rotas para o Algarve, Madeira e Açores. No futuro a médio e longo prazo, o governante vê “tendências contraditórias”. Os ajustamentos geopolíticos, a preocupação com o overtourism, têm de ser tidas em conta na gestão dos destinos.

Francisco Calheiro, da Confederação do Turismo Português, apontou quatro desafios prementes na atualidade. O primeiro tem a ver com o novo aeroporto de Lisboa. “Não podemos esperar mais estudos e pareceres”, refere o responsável. O segundo com a falta de recursos humanos. É necessário, no entender de Francisco Calheiros, mais qualificação e especialização, mas também melhorar a vida de quem trabalha no setor. Por outro lado é urgente uma reforma do Estado, que conduza à sustentabilidade da Segurança Social, Saúde, Justiça e Ensino. O Estado deve estar próximo das empresas e dos cidadãos. E, finalmente, a crise demográfica. Calheiros acredita que esta é uma urgência nacional. “Está em causa a nossa sobrevivência” admite.eventpoint

Importância de subir salários no setor

No painel que contou com cinco dos principais hoteleiros do país discutiram-se muitos assuntos que mexem com o setor. Mas dois destacaram-se. Por um lado a urgência de apostar no interior. Jorge Rebelo de Almeida, do Vila Galé, afirma que “há [ali] negócio e que vai haver cada vez mais”. E, por outro, a necessidade de melhorar as condições de vida das pessoas que trabalham nesta indústria. “Temos de as remunerar melhor”, diz o mesmo responsável. José Roquette, do Grupo Pestana, concordou inteiramente, apontando que é na diferenciação dos recursos humanos que se podem fidelizar os clientes. “Tem que se pagar melhor”, refere. Ao nível dos recursos humanos foi apontada ainda a falta de pessoas para trabalhar no setor.

 

TAP e o Algarve

Diogo Lacerda, presidente da Comissão de Estratégia da TAP, indagado sobre a aposta, ou falta dela, no Algarve, lembrou que “a TAP passou em 2018 de uma oferta de 279 mil assentos no Algarve para 400 mil este ano”, refere, lembrando que este é crescimento grande e que “tenho dúvidas que vá crescer mais”. Na Madeira, outra das preocupações do setor hoteleiro, a EasyJet pretende manter uma grande aposta, conforme disse José Lopes, Country Manager da companhia. A EasyJet já transporta mais de 7 milhões de passsageiros, e pretende continuar a crescer de forma sustentada.

“Refrescar” a estratégia

A secretária de Estado do Turismo, Rita Marques, afirmou já no segundo dia do congresso, a necessidade de “refrescar” a estratégia até 2027, até porque alguns dos objetivos já foram cumpridos, conforme tinha dito o Ministro da Economia, no dia anterior. “Temos uma estratégia 2027 para o turismo que se tem afirmado como um instrumento de sucesso. E tenho a certeza absoluta de que concordarão comigo que este instrumento é, de facto, tido como de sucesso porque foi construído com uma lógica muito participativa quase 'bottom up', permitindo que todos nós, privados e públicos, nos revejamos nesse documento”, disse Rita Marques. A governante refere a necessidade de reflectir sobre a governança, “de modo a garantir maior eficiência na máquina”.

 

Cláudia Coutinho de Sousa