Congresso da APAVT: 'O turismo é um negócio de e para pessoas'

15-11-2019

Na cerimónia de abertura do 45º Congresso da APAVT – Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo, que decorre de 14 a 17 de novembro, no Funchal, a secretária de Estado do Turismo, Rita Marques, apresentou alguns desafios que vão “nortear a navegação” durante a próxima legislatura.

“O turismo tem vivido tempos extraordinários”, começou por dizer Rita Marques, revelando que os dados mais recentes, de agosto, apontam para um crescimento “muito assinalável”, cerca de 7%, do número de hóspedes acolhidos em Portugal, sendo os três mercados mais importantes, no momento, os Estados Unidos, Espanha e Brasil. Mas ainda há muito a fazer, “porque nem todas as regiões de Portugal têm assistido a estas taxas de crescimento”, referiu a secretária de Estado do Turismo, indicando os quatro desafios mais importantes.

E o primeiro prende-se com as infraestruturas – aeroportuárias, marítimas, rodoviárias, que são “a porta de entrada” do país. É necessário criar e melhorar as infraestruturas existentes, capacitar os agentes que gerem essas infraestruturas e os operadores que as utilizam. Segundo a governante, também é preciso ter em atenção a oferta turística. “Nesta altura a permanência média em Portugal é de 2,7 dias. Temos de fazer um esforço para que esta média aumente. Portugal tem muito para visitar, muito para ver, e é naturalmente muito importante que a oferta turística exista. Não só nas grandes cidades, mas também noutras geografias, incentivando o turista a percorrer Portugal de lés a lés.” E para isto também as infraestruturas para o setor MICE, podem contribuir, num “trabalho em rede”.

Os outros desafios prendem-se com a capacidade de investimento – “é importante termos um sistema fiscal mais justo, que possa potenciar maior investimento também no setor do turismo” – e com os recursos humanos. “Teremos de ser dez milhões a receber os 30 milhões que provavelmente nos vão visitar este ano”, frisou, acrescentando: “Fala-se da qualidade dos recursos humanos, da capacitação dos mesmos. Mas a quantidade também é importante. Temos de atrair jovens para estas profissões.” Rita Marques concluiu lembrando que “o turismo é uma economia das vivências, das emoções. É um negócio de e para pessoas. O que quer dizer que a inovação será sempre bem-vinda, mas o calor humano, a hospitalidade de Portugal, essa, sim, fará seguramente a diferença”.

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A desigualdade fiscal que persiste…

Pedro Costa Ferreira, presidente da APAVT, alertou para uma questão que não é nova: o IVA no MI – “MI que continua, ano após ano, a ser fustigado pela desigualdade fiscal que persiste, relativamente ao nosso mais direto competidor, a vizinha Espanha; e que, persistindo, mantém uma série de eventos de igual valor acrescentado, 23% mais baratos em Espanha do que em Portugal”, referiu Pedro Costa Ferreira, acrescentando: “Sabendo nós como o MI pode ser absolutamente fundamental para o crescimento da receita por pessoa, não nos cansaremos de chamar a atenção para este anacronismo – em Badajoz, o mesmo evento é 23% mais barato do que em Elvas.”

No discurso de abertura do congresso, o presidente da APAVT frisou que “o setor das viagens continua absolutamente virado de pernas para o ar no que à gestão da segurança dos consumidores se refere”. O setor soube construir “um edifício” para a defesa da segurança e confiança dos clientes: um fundo de proteção, que no momento tem um valor de seis milhões e meio de euros. “Não houve perturbação da ordem pública, desastre natural ou qualquer outra causa de força maior prevista na diretiva europeia das viagens organizadas, que não tenha sido possível gerir a favor da confiança do cliente. Ao invés, mantém-se teimosamente por regular, todo o espaço relacionado com a falência das companhias aéreas. E, contudo, dir-se-ia que temos que temer muito mais a falência de uma companhia aéreas do que qualquer outro incidente nas viagens dos nossos turistas. De facto, nos últimos dois anos, faliram 36 companhias aéreas.”

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Por seu lado, Miguel Albuquerque, presidente do Governo Regional da Madeira, referiu que “o turismo é uma indústria que exige cada vez mais profissionalismo e que exige uma ação altamente qualificada”. São metas também o reforço dos mercados tradicionais, o aumento da diversificação dos mercados e a melhoria dos números do turismo interno. Miguel Albuquerque frisou ainda a necessidade de o setor perceber as novas tendências turísticas, para que possa promover essa oferta no país, indo ao encontro do que as novas gerações procuram.

No primeiro dia de trabalhos, que teve lugar no Hotel Savoy Palace, realizaram-se as sessões “Os desafios da economia portuguesa”, com Daniel Traça (Nova School of Business and Economics) e Rita Sarrabulho Abecassis (Amp Associates), e “Superação”, com Johnson Semedo, fundador da Academia Johnson.

Maria João Leite*
*Viajou a convite da APAVT
Fotos: Click and Play