Congresso da APAVT: unir esforços para ultrapassar desafios

26-11-2018

O Congresso da APAVT, que decorreu de 22 a 24 de Novembro, em Ponta Delgada, analisou os desafios do crescimento.

O conhecimento, ou a falta dele, a politização e a transformação digital foram alguns dos constrangimentos apontados na sessão ‘Turismo em Portugal: os desafios do crescimento’, o tema do 44º Congresso da APAVT – Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo, que reuniu 600 participantes, de 22 a 24 de Novembro, em Ponta Delgada, nos Açores.

Adolfo Mesquita Nunes, ex-secretário de Estado do Turismo, advogado e keynote speaker da sessão, deixou algumas ideias políticas sobre o futuro do sector e apontou alguns constrangimentos, que passam pelo conhecimento – “o conhecimento dos dados é o petróleo do turismo” –, pela politização excessiva do turismo e pela transformação digital do sector – “temos de transformar o país num destino inteligente”.

E será que esses desafios se estendem ao sector do turismo de negócios? “Sim. A falta de conhecimento que temos do mercado – conhecimento não quantitativo, mas qualitativo – é um obstáculo ao desenvolvimento de todos os segmentos. E se é verdade que o turismo de negócios é mais imune a esta pressão política contra o turismo, não é menos verdade que também começa a ser entendido como uma ameaça”, frisou Adolfo Mesquita Nunes à Event Point, lembrando o exemplo dos escritórios da Google, “que deixaram de poder ser construídos em Berlim, porque houve pressão para que não se construíssem ali aqueles escritórios com riscos de gentrificação”. Assim, “qualquer actividade turística que traga mais movimento de pessoas para uma determinada zona corre o risco, também ela, de ser vítima desta percepção contra o turismo”.

Sobre a transformação digital, o ex-governante considera que “é apta a qualquer segmento de oferta para captar a procura” e vê a tecnologia como uma vantagem. “Confesso que já não consigo conceber o desenvolvimento de negócio que não passe pela sua digitalização. Claro que depois cada empresa tem necessidades particulares de se aperfeiçoar e escolherá ferramentas específicas, mas, como um todo, a digitalização é inevitável se queremos continuar no mercado”, acrescentou à Event Point.

 

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Na sessão, Adolfo Mesquita Nunes não esteve de acordo com Pedro Costa Ferreira, presidente da APAVT, que na abertura do congresso falou em “fim de ciclo”. O ex-governante não considera que o sector esteja nesse ponto. “Não acho que estamos em fim de ciclo, mas acho que o mundo é cada vez mais exigente”, disse.

Mais tarde, acrescentou à Event Point: “Tenho muita resistência em falar de fim de ciclo, quando, num contexto em que os nossos principais concorrentes voltaram em força ao mercado, quando o nosso principal emissor está confrontado com o Brexit, as nossas receitas continuam a subir em números bastante consideráveis e não baixamos de forma expressiva as nossas dormidas ou o nosso número de hóspedes. Isto é, não me parece que Portugal vá perder aquilo que conquistou nos últimos anos.”

No decorrer do painel, Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal, também não vê o momento do sector como um fim de ciclo, mas como “uma oportunidade de crescimento”. Luís Araújo considerou importante a gestão dos dados de visitantes e seus segmentos. “É preciso pegar nessa informação e trabalhar com ela.” Referiu também que as campanhas do Turismo de Portugal foram feitas em 21 países, chegando a 130 territórios, e que a entidade continua a aguardar a decisão do tribunal para voltar a participar em feiras internacionais.

No painel falou-se ainda da importância do trabalho colectivo, do segmento da animação turística e da questão do alojamento local, com a presença também de João Paiva Mendes, CEO da Boost Portugal, e Eduardo Miranda, presidente da ALEP.

Especificamente no caso açoriano, Marta Guerreiro (secretária regional da Energia, Ambiente e Turismo dos Açores), Ana Jacinto (secretária-geral da Associação de Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal) e Rodrigo Rodrigues (presidente da Câmara de Comércio de Angra do Heroísmo) referiram que os desafios para a região passam pelo reforço da marca Açores, pelo crescimento sustentável do destino e pela distribuição do turismo, de forma equilibrada, por todas as ilhas; passam também pelas competências e qualificação, pela formação e valorização das profissões.

 

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Ainda o IVA no MICE

Mantêm-se as preocupações em relação ao IVA no MICE. Francisco Calheiros, presidente da Confederação do Turismo Português (CTP), alertou para o problema, lembrando que isso pode marcar a diferença no que toca à escolha de Portugal pelos visitantes estrangeiros – os que vão escolher “se vêm para Portugal jogar golfe com 23% de IVA” ou se vão para países, como a Turquia, com zero por cento.

Na cerimónia de encerramento do 44º Congresso da APAVT, Francisco Calheiros referiu que, no âmbito do Orçamento de Estado, nenhuma das propostas das confederações foram aprovadas. O presidente da CTP concorda com Pedro Costa Ferreira, presidente da APAVT, quando diz que o sector está em fim de ciclo. “Estamos em fim de ciclo. Ponto. E precisamos de actuar rapidamente.”

Pedro Costa Ferreira voltou a falar dos desafios que o sector tem pela frente, explicando que quando fala em fim de ciclo “nada tem a ver com a perspectiva de decrescimento”, mas “com a vontade de continuar a crescer”.

E alertou para a necessidade de despolitizar. “É por querermos crescer no futuro que devemos combater a politização do turismo, a híper regulamentação ou a esquizofrenia legislativa”, referiu, acrescentando que “não podemos, na mesma semana, acolher o Web Summit, dar uma canelada no alojamento local e ainda um puxão de orelhas à Uber – é que a rapaziada que esteve no Web Summit, além da hotelaria tradicional, frequentou o alojamento local, tendo-se deslocado de Uber”.

A terminar, Pedro Costa Ferreira frisou que “da qualidade do nosso envolvimento, enquanto sector, dependerá boa parte do nosso futuro”.

 

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Maria João Leite*

*Viajou aos Açores a convite da APAVT

 

©APAVT