Dois mil templos rezam a história de Quioto
03-11-2017
Em Quioto há uma montanha mágica que se sobe atravessando milhares de pórticos vermelhos, o cenário ideal de milhares de oportunidades fotográficas. A escala e grandiosidade deste local, o templo de Fushimi Inari, é um bom indicador do lugar de relevo da cidade na história do Japão, do qual foi a capital durante cerca de mil anos, até ser substituída por Tóquio no século XIX. Nos dias de hoje é a sétima maior cidade do país do sol nascente.
Mas esta “despromoção” não diminuiu o apelo de Quioto. Há mais de dois mil templos para visitar, um castelo medieval bem conservado, restaurantes para todos os gostos, jardins zen, avenidas largas e bairros antigos, com casas de madeira, de dois ou três andares. Num destes bairros, Gion, a partir das 18 horas, viaja-se no tempo, quando as gueixas saem à rua e entram nas casas de chá onde têm compromissos marcados, para animar jantares, festas e eventos. Em passo apressado, tentam evitar os curiosos que as perseguem pelas ruas.
A cidade transformou-se na mais importante do Japão no século VIII e passou por vários períodos históricos, com lutas de poder e incêndios devastadores, mas também por alturas de construção monumental que ainda hoje estão em evidência na cidade, com templos e santuários budistas e xintoístas incontáveis. A fama de Quioto é tal que foi poupada pelos bombardeamentos aliados da Segunda Guerra Mundial, o que faz com que mantenha muitas estruturas e ruas com história.
Situada na região de Kansai, no centro do Japão, Quioto é um “must see” em qualquer viagem ao país e é uma boa razão para experimentar o “shinkansen”, o comboio-bala futurista que circula por todo o território e que traz os visitantes à moderna arquitectura da “Kyoto Station”, que o Lonely Planet elegeu com uma das atracções a não perder.
A cidade é servida pelo aeroporto de Osaka, a uma hora de autocarro. E é uma boa base para visitar vários locais famosos no país do sol nascente: o imponente castelo de Himeji, a cidade de Nara, a primeira capital do Japão com os seus veados à solta pelas ruas e monumentos imponentes, ou mesmo o Monte Koya, um local habitado por monges budistas, com um cemitério que é uma curiosidade mundial, o Okunoin, local do mausoléu de Kobo Daishi, fundador do budismo Shingon, naquele mesmo monte.
Ambiente e boa comida
Além das gueixas e dos templos, Quioto tem o seu nome associado para sempre à protecção do meio ambiente. Foi na cidade, em 1997, que se assinou o famoso protocolo para a redução do efeito estufa no planeta Terra e que continua a ser aplicado. Um evento de grande escala que mostra bem o que região tem para oferecer.
Com 17 locais classificados como Património da Humanidade, Quioto é um sítio inesquecível para realizar um evento ou congresso. A cidade está bem equipada, tem muitos alojamentos modernos e tradicionais, como os famosos ryokan, as pousadas, onde toda a estadia é sujeita a um ritual tipicamente japonês. Quioto tem mais de 18 mil quartos de hotel e ultrapassa os 14 mil nestes ryokan.
Em qualquer lugar do Japão, a gastronomia é uma experiência que não se pode deixar passar. A cidade tem restaurantes para todos os bolsos, desde os mais requintados, com preços astronómicos, aos baratos “sushi trains”, em que algumas peças desta comida típica custam pouco mais de 100 ienes (menos de um euro) cada uma. E, para quem gosta de ramen, não há falta de estabelecimentos para provar esta iguaria asiática. Um passeio pela zona de Pontocho, uma rua estreita que faz parte do distrito das gueixas, mostra bem a diversidade e qualidade dos restaurantes japoneses. Afinal, o país tem vários restaurantes com três estrelas Michelin, incluindo em Quioto.
Um jantar no castelo Edo
O período Edo foi um dos mais grandiosos na história do Japão. Foram cerca de 300 anos de domínio de um governo feudal, que pacificou o país, mas também aumentou o isolacionismo. Foi com a ajuda de uma expedição americana no século XIX que o país dos samurais se voltou a abrir ao mundo, mas isso marcou também o fim dos senhores xogums e abriu o caminho ao fortalecimento do poder do Imperador. Uma das relíquias mais valiosas desse período é o bem preservado castelo de Nijo em Quioto, com os seus jardins zen e salas pintadas com imagens de felinos selvagens.
No século XXI, o castelo, agora património mundial da UNESCO, ganhou uma nova vida. Com capacidade para receber 400 pessoas em eventos interiores e exteriores, o espaço é um local inesquecível para qualquer reunião. No total, Quioto tem 29 venues em locais históricos ou inscritos como património mundial.
Outro sítio inesperado que quem quer realizar um evento em Quioto não pode deixar de analisar é o templo de Daigoji, uma das imagens emblemáticas da cidade e cujos jardins mudam de cor conforme a época do ano.
Os templos, locais históricos e outros venues disponíveis para eventos em Quioto que podem ser consultados no site https://meetkyoto.jp/en/ .
Centro de congressos ajardinado
O Kyoto International Conference Center tem 50 anos de história e é uma escolha óbvia para congressos de maior dimensão, até 7000 participantes. Entre as atracções deste espaço estão as recepções no jardim, à boa maneira japonesa. A Myakomesse pode receber feiras de grande escala, perto do centro da cidade e de Gion. E o Kyoto Trade Fair Center (Kyoto Pulse Plaza) está habituado a acolher todo o tipo de convenções e reuniões. A cidade conta ainda com hotéis de grande escala, habituados a receber eventos, museus, parques e outras infra-estruturas.
Para quem organiza um evento em Quioto, a cultura japonesa é um pólo de atracção que não deixa ninguém indiferente. Teatro, dança, música estão entre as artes que se praticam na cidade com requinte e elegância. O kabuki, por exemplo, é um espectáculo dramático em que apenas actores masculinos participam e que ainda é representado em palcos do séculos XVII.
Mas para os mais ricos, a experiência que pode definir uma viagem a Quioto é uma visita a uma casa de chá, para um jantar ou espectáculo com gueixas. Um jantar para dois com uma destas profissionais (ou uma Maiko, aprendiz de gueixa) pode custar mais de 50 mil ienes (quase 400 euros) e isto sem contar com os custos do jantar propriamente dito, num qualquer local exclusivo da cidade. Ter dinheiro para gastar não é sequer uma garantia de acesso a estes espectáculos, em que as gueixas mostram um pouco da tradição do Japão, ao servir chá, tocar música, dançar e outras artes performativas. É sempre preciso um convite de alguém que já frequente a casa de chá onde trabalha a gueixa.
Durante o ano, no entanto, é possível vê-las, a preços mais acessíveis, em vários eventos e festivais que têm lugar em Quioto. No mês de Abril, as gueixas são as estrelas do festival de dança Myiako Odori. Em Maio, actuam no festival de Kamogawa Odori e em Gion há um centro cultural em que Maiko dançam Kyomai, um tipo de dança tradicional. Em qualquer dos casos, nenhuma visita a Quioto está concluída sem um vislumbre de uma gueixa, mais provável ao final do dia. Estas japonesas, treinadas desde jovens num regime quase militar, têm outros desafios pela frente no século XXI: hordas de turistas que as perseguem pelas ruas para tirar uma foto. Ainda que o interesse seja compreensível, aconselha-se algum respeito e distância.
Alexandra Noronha
Cláudia Coutinho de Sousa