Jogar já não é só uma brincadeira
07-08-2017
O mundos dos jogos está tradicionalmente associado aos jovens, ao lazer e tem mesmo conotações negativas por ser viciante para muita gente. “Foram muitas as vezes em que ouvimos: ‘o quê? Jogos? Não, isto é um negócio sério’. Ou ‘trabalhar não é para ser divertido’”. Rui Cordeiro, fundador e CEO da portuguesa Fractal Mind, explicou à Event Point que ainda há muitos preconceitos quanto a esta questão, mas empresas como a que criou querem trazê‑los para os eventos, congressos, team‑building e outras áreas corporate. A sociedade “nasceu em 2015, fruto de uma vontade de trazer o poder transformador dos jogos para a vida das pessoas. Depois de duas décadas ligado ao mundo dos jogos, em alguns dos principais estúdios a nível mundial, decidi trazer o meu know‑how para a resolução de problemas do dia‑a‑dia”, contou.
A chamada gamificação (uso de características dos jogos em situações do mundo real) ajuda, segundo o empresário, a captar a atenção, numa época em que há tanta concorrência de todos os lados. “Qual é o meio que ainda assim consegue garantir horas a fio da atenção de pessoas de todas as idades? Os jogos. Físicos, digitais, todos nós conseguimos dedicar uns minutos que seja para um jogo de Candy Crush não é?”, realçou. E deu conta do interesse que o mercado desperta e que muitas vezes passa despercebido. “Temos o exemplo da final da NBA, que este ano bateu recordes de audiência, com 31 milhões de espetadores a assistir através dos vários meios. Algo perfeitamente natural dada a dimensão mediática desse desporto. Comparativamente, a final de 2015 do League of Legends, (um videojogo online), teve 36 milhões de pessoas a assistir online e mais de 50 mil numa arena em Berlim”, explicou Rui Cordeiro.
O CEO da Fractal Mind disse ainda que a experiência dos jogos pode ajudar a resolver problemas do dia‑a‑dia e contribuir para melhorar a experiência nas fases dos eventos menos exploradas. “É conhecido que grande parte do envolvimento dos participantes num evento acontece apenas durante o próprio evento. Pouco acontece no build‑up até ao início e praticamente nada acontece no pós‑evento. Há aqui uma janela de oportunidade que poderia ser aproveitada e não o está a ser”, acredita Rui Cordeiro. E deixa um desafio a quem ainda não conhece as potencialidades da gamificação. “Imaginem que o evento subitamente parecia feito à nossa medida, com um caminho adaptado aos nossos interesses, maximizando a experiência que nos interessava, e que tínhamos desafios específicos para completar em equipa? Ou que fazíamos um ‘quiz’ no final de uma palestra em que todos participavam e podiam ganhar um prémio? Ou ainda, que criávamos uma narrativa associada ao evento que começava uns dias antes e apenas terminava vários dias depois do evento?”, adiantou.
Também acções de team building podem ganhar com esta estratégia. “Um dos principais argumentos para a aplicação de estratégias de gamification bem desenhadas é a sua capacidade de, mais do que motivar de forma extrínseca, com recompensas ou pressão, conseguir motivar de forma intrínseca os jogadores”, salientou Rui Cordeiro.
O CEO da Fractal Mind realçou ainda que a empresa não produz jogos, mas antes “soluções para o dia‑a‑dia das pessoas, que sem acrescentar peso às suas rotinas, (antes pelo contrário) as encorajam a ter comportamentos que estão em linha com os seus objetivos ou os da organização. Para isso usamos sim mecânicas, dinâmicas e psicologia de jogos, de uma forma integrada no que são as suas tarefas e ferramentas”, garantiu o empresário.
Lá fora, a gamification já é uma realidade, em mercados mais maduros do que o nacional. “Nos EUA e na Ásia cresceu de forma muito rápida, teve desde logo muita aceitação, mas mais próximos de nós temos Holanda e Espanha com mercados muito fortes na área”, salientou Rui Cordeiro.