Mergulhador John Volanthen ensina durante IBTM os segredos para gestão de crises
26-11-2019
Num primeiro momento, a voz calma, os gestos contidos e a aparente ausência de emoção do orador já davam uma ideia sobre as características necessárias para um bom desempenho nos momentos de tensão.
Contudo, ao repassar todo o procedimento do resgate dos 12 jovens e do seu treinador na gruta inundada de Tham Luang na Tailândia, em 2018, o que se viu foi uma aula de planeamento e gestão de pessoas.
“Entendo que a gestão de riscos não é sobre aceitar os riscos envolvidos, mas sim saber o que fazer com cada um deles”, afirmou.
Ao relembrar cada episódio do resgate que durou 16 dias, Volanthen ia apresentando as suas recomendações sobre a preparação para enfrentar a crise, sobre a determinação de escolher uma tática e aplicá-la até o final, sobre trabalhar em equipa e, principalmente, sobre não atribuir à sorte os resultados positivos.
Conhecer bem todas as variáveis
Uma das recomendações mais enfatizadas pelo mergulhador foi definir o grau de risco das situações e isso significa ser o mais pragmático possível. No caso em questão, do resgate em da gruta, Volanther afirmou que grutas são por definição, lugares perigosos, tóxicos e suscitam muita cautela, mesmo que pareçam inofensivas. “É mais fácil sentir o cheiro de pessoas nas grutas do que vê-las” pois não há luz suficiente nestes ambientes”, alertou.
A situação da gruta estar alagada colocava mais um complicador na situação, e mesmo com a aparente dificuldade acabou por se conseguir colocar em prática o resgate.
E uma vez identificada a saída para o problema, há que se modelar, treinar, exercitar a solução até que ela se torne realmente dominada pela equipa que vai executá-la.
No caso do resgate, após decidido de que cada mergulhador traria uma criança, todos tiveram de treinar numa piscina para se habituarem ao equipamento, à duração da travessia e à condução dos jovens resgatados. O mesmo treino foi dado aos jovens uma vez que tinham de usar uma máscara que vedava todo o rosto. “Tínhamos de ter certeza de que os jovens não entrariam em pânico durante a travessia e de que estavam preparados também para qualquer emergência e eventualidade que poderia acontecer debaixo de água”.
Foco sem perder o todo
Outra lição do mergulhador foi a de manter o foco no problema ou na solução. Mas, segundo Volanthen, é necessário um olhar bem amplo e abrangente sobre as possibilidades, antes de se decidir por um foco.
Ou seja, as respostas procuradas numa situação de risco podem estar bem à vista, mas a necessidade de colocar foco impede de observar à volta.
Mais uma dica valiosa do orador, e tendo em conta a situação que teve de enfrentar na Tailândia, foi a de controlar a comunicação e não deixar que os membros da sua equipa tivessem acesso a jornais, revistas ou redes sociais. “Foi importantíssimo manter a equipa focada nas tarefas que tinham de realizar e não se distanciarem do nível de concentração que a situação exigia. Sem contar que nas redes sociais e nos jornais todos tinham uma solução para o problema. Só que estas soluções amadoras não tinham base técnica e nem a totalidade dos dados que já tínhamos obtido nos muitos dias de estudo e observação”.
Ter certeza de que toda a equipe fala a mesma língua ou entende o que se fala, ainda que em idiomas diferentes, também foi uma lição deixada por John Volanthen. Especialmente no episódio do resgate em que estiveram envolvidos tailandeses, ingleses e americanos, além de moradores locais com seus sotaques e dialetos, manter uma comunicação homogénea é importante para o sucesso do ação.
“Trabalhamos de forma incansável para retirar aqueles rapazes com vida e é incrível o que podemos alcançar com calma, determinação e preparação. Espero que o meu conhecimento depois do resgate possa inspirar e ajudar outros a prepararem-se para o inesperado e a serem resilientes e flexíveis quando as coisas não correm como o planeado”, atestou John Volanthen.
Condecorado pela Rainha Isabel II com a Medalha George pela sua coragem, Volanthen foi aplaudido de pé na IBTM, mas não deixou de enfatizar que embora tenha sido reconhecido individualmente, todo o resgate foi um trabalho de equipa. E é assim também em todos os casos de gestão de riscos: um por todos e todos por um.
Rose de Almeida