MICE: Aprender para crescer

07-09-2018

Quando se passa mais da metade da nossa vida a trabalhar no sector de turismo, 36 no meu caso concreto, e desses mais de 15 na área de congressos, reuniões e eventos, quase sem darmos conta, desenvolvemos alguns mecanismos que permitem uma percepção e um faro para este negócio que antes não poderíamos adivinhar que viríamos a ter.

Recordo que, no início dos anos 90, quando tive a sorte de criar o Costa del Sol Convention Bureau, em Espanha só existiam três convention bureaux, Madrid, Barcelona e Sevilha, e o fenómeno da Internet ainda não atingira o mínimo de público. Assim, íamos frequentemente promover o nosso destino a um mercado essencial para os mencionados acima, os Estados Unidos, especialmente uma feira de incentivo no McCormick Center de Chicago, chamada IT&ME, onde muitas das coisas que nos acontecem aqui agora, já lá eram apontandas como tendência. Era o mundo dos freelancers, das Incentive Houses e dos Meeting Planners que, de forma muito individualizada, e por vezes surpreendente, eram portadores de negócios suculentos e interessantes, baseados principalmente no segmento de incentivo, no mundo dos consultores especializados e associativismo incipiente no sector MICE. Algo semelhante acontecia na Palexpo de Genebra com a EIBTM, agora IBTM, em que a vertente profissional era menor, porque havia menos competidores. Na realidade, havia menos de tudo: havia menos destinos preparados para sedear eventos, havia menos salas de convenções, menos hotéis e centros de congressos, menos profissionais e também menos ligações aéreas.

Hoje, tudo cresceu, e de que maneira. A população mundial está destinada a um importante consumo de viagens, motivado principalmente pelo crescimento dos fenómenos chamados low cost e pela facilidade em encontrar informações rápidas, úteis e acessíveis sobre qualquer destino na Internet e suas variadas aplicações.

Com o uso maciço da internet e o aparecimento de agências online, houve um momento de crise teórica no nosso querido segmento MICE a nível global: os gurus previram que congressos com presença física e muitas reuniões passariam por uma grande mudança, tendendo a uma considerável redução de negócios, baseada principalmente no "streaming e broadcasting" dos conteúdos dos congressos e reuniões, o que eliminaria grande parte dos participantes desse tipo de evento. Isto seria ajudado por videoconferências e também, como um mal menor, as reuniões teriam lugar em salas de aeroporto, para economizar custos com deslocações e, acima de tudo, para poupar tempo de viagem... Claro que esta era a profecia dos entendidos. Então, veio a realidade que alterou qualquer teoria. Actualmente, o negócio de reuniões e eventos é uma realidade na qual, apesar da competição feroz entre cidades, áreas e recursos, nenhuma doença grave foi detectada, pelo contrário.

Detectamos pontos fortes porque temos novos mercados para conquistar, mas o mais importante é que a nossa carteira de clientes, à medida que envelhecemos, também seja renovada com novos clientes, mesmo que eles pertençam a mercados maduros, daí que a espiral de promoção e renovação dos nossos clientes e eventos nunca possa parar.

Apesar da proliferação de novas tecnologias e redes sociais, os clientes de congressos, convenções, incentivos para o lançamento de produtos, etc., continuam a afirmar que precisam de se encontrar, conhecer, sentir‑se próximos dos seus pares em destinos atractivos e em venues bem preparados.

E isso é‑nos prescrito com um remédio agora chamado de "bleisure"; dizem‑nos que, para reduzir a tensão e o stress do nosso trabalho, devemos combinar trabalho com lazer e experiências no usufruto da cidade que visitamos, e isso no final é a essência da nossa profissão: incentivar os profissionais que viajam por motivos de trabalho a dedicarem um pouco do seu tempo para descobrir o destino e aproveitá‑lo, gerando uma riqueza adicional nos lugares visitados.

Devemos ter a consciência de que já estamos a viver o futuro, o nosso futuro, que havíamos previsto ou sonhado há 20 ou 30 anos, e que embora nos digam que a sociedade viaja vertiginosamente, não é menos verdade que nosso sector MICE está a alcançar um ponto de maturidade, no qual, apesar do valor acrescido que as aplicações proporcionam, recursos como a gamificação, realidade virtual ou aumentada e outras variantes das novas tecnologias aplicadas ao nosso sector, na realidade ainda queremos viajar e encontrarmo‑nos num ambiente profissional agradável com os nossos queridos colegas de qualquer outra parte do mundo.

 

Manuel Macías
Director do Convention Bureau de Sevilha