MICE no Algarve: solução para a sazonalidade ou dilema para os hotéis?

03-08-2017

O turismo de negócios ainda tem muito a conquistar na região do Algarve e uma grande parte do esforço passa por convencer os hotéis de que vale a pena receber este segmento, que exige muita flexibilidade e uma gestão mais complexa.

O sector hoteleiro algarvio está desperto para a importância do MI, mas mesmo assim ainda há muito a fazer, sobretudo num destino onde os empreendimentos turísticos continuam muito concentrados no lazer e na tour operação. Os desafios para a região são vários, nomeadamente quando se faz a comparação com o Porto e Lisboa, que se têm ajustado para receber congressos e eventos. Este foi o tema do pequeno‑almoço da Event Point com alguns players do sector na região, que teve lugar no hotel Anantara Vilamoura. Participaram neste evento informal Alexandra Ramos, Gestora de Produto Sénior MI, da Associação Turismo do Algarve; Anabela Freitas, Partner, da XPTO Events and DMC; Luís Coelho, Global Sales Manager ‑ MICE International, na Minor Hotels; Patrícia Luz, Contracting & Key Account Executive; no Real Bellavista Hotel & Spa; e Sandra Matos, Regional Sales & Marketing Director, da JJW Hotels & Resorts – Portugal.

Há hotéis que começaram a mudar as agulhas para o segmento MI, com o objectivo de reduzir o peso dos outros segmentos, mas ainda é complicado, para as empresas que organizam a vinda de grupos a Portugal, encontrar alojamento, sobretudo quando os pedidos são para muitas pessoas, em cima da hora e para poucos dias. Muitos clientes só confirmam que avançam com determinada viagem depois de fechar contas, no caso dos incentivos e prémios. E reservar com antecedência é algo que hoje faz cada vez menos sentido. Assim, os alojamentos ainda não conseguem gerir bem esta tendência do MICE, em conjunto com um negócio dominado pelo segmento do lazer.

Além disso, trabalhar com unidades de 4 estrelas nem sempre é fácil para os organizadores e este tipo de alojamento é o preferido, por exemplo, das farmacêuticas, que são responsáveis por um grande número de eventos. Mas a maioria dos congressos preferem, ainda, hotéis de 5 estrelas.

Os empreendimentos turísticos que estão interessados no segmento MICE têm como objectivo primeiro colmatar a sazonalidade, até porque estes eventos ocorrem sobretudo em Abril, Maio, Setembro, Outubro e Novembro. Outras unidades, concentradas no golfe, começam a pensar neste tipo de turismo como forma ideal de alargar os negócios, até porque muitas vezes são duas actividades que se complementam. E há mesmo hotéis que estão a construir espaços para apostar em congressos, eventos e incentivos, aproveitando as ligações aéreas ao Algarve, cada vez melhores e com mais rotas. A distância e a falta de transportes para o aeroporto são, por outro lado, factores que os players do mercado criticam e acreditam que podem ser melhorados, bem como a forma como são geridas as escalas em Lisboa para quem viaja em turismo de negócios. Muitas vezes, os organizadores acabam por ir buscar os participantes de carro ao aeroporto Humberto Delgado para evitar longas esperas. O facto de muitas pessoas que viajam para congressos e eventos já o fazerem em companhias aéreas “low‑cost”, sobretudo na Transavia e Easyjet, ajuda a melhorar os acessos ao Algarve, visto que estas empresas contam com voos directos para a região.

Apesar disso, a sazonalidade na região é um “handicap” na atracção de grupos, por exemplo no mês de Janeiro, em que estão encerradas muitas das infra‑estruturas, como restaurantes ou outros espaços para eventos, que não têm motivação para abrir porque conseguem rentabilizar a sua actividade nos meses mais quentes. A falta de licenças para operar nesta área também complica a vida de quem anda à procura de um espaço para realizar um evento no Algarve. E muitas vezes os hotéis acabam por não aceitar estes grupos mesmo fora da época alta, porque é mais difícil gerir este segmento e manter uma ocupação estável. Outras desvantagens prendem‑se, por exemplo, com a localização de salas de reuniões junto a espaços ruidosos, o que complica a realização das mesmas. Por tudo isto, muitas vezes as unidades escolhem nem aceitar os grupos ou sequer responder a pedidos do lado das entidades que coordenam o sector.A falta de grandes espaços é outro problema que afecta a região, mais do que outras cidades do país, ainda que este Verão esteja prevista a inauguração do novo Centro de Congressos do Algarve em Vilamoura.

A região tem vindo a captar mercados como o do Reino Unido, França e Estados Unidos, que escolhem o Algarve graças à segurança, clima, profissionalismo, e relação preço‑qualidade. São países diferenciados e os grupos têm gostos e necessidades específicas. O mercado francês, tirando grupos pontuais, normalmente escolhe hotéis de quatro ou três estrelas e é bastante exigente quando visita um local. A dificuldade do mercado americano está no facto de serem fiéis às marcas que conhecem e é preciso algum esforço para os convencer a mudar para uma região que não conhecem. Mas vale a pena porque depois acabam por gastar muito e ficam deslumbrados com a história e cultura portuguesas. Já para os nórdicos o bom tempo e a luz natural são factores valorizados na escolha de um destino e de uma sala de reuniões. Entre os mercados menos tradicionais estão o Brasil e a Polónia. Em comparação com regiões semelhantes em outros países, o Algarve tem uma boa performance, com salas menos dispendiosas, face a Espanha por exemplo. O Leste europeu é competitivo ao nível de preços, mas conta com menos ligações aéreas. A maior concorrência é de Malta, Espanha e países como a Islândia. A Croácia está a crescer e a Grécia tem condições para regressar, depois de anos de estagnação por causa da crise no país.