Nazaré: Ondas de oportunidades

14-05-2018

A projecção internacional veio na maré alta, com as ondas gigantes a levarem mundo fora o nome da cidade e do país.

Terra de pescadores, a Nazaré tem no mar a âncora do seu quotidiano, seja na pesca e na secagem do peixe, na praia que se estende por quilómetros ou no surf e no bodyboard, que atraem praticantes nacionais e internacionais. É um destino que é, e pretende continuar a ser, atractivo a vários níveis. E que continua a trabalhar para isso.

A onda surfada em 2011 pelo extreme waterman norte‑americano Garrett McNamara espalhou o que permanecia quase em segredo. O ‘Canhão’ da Nazaré produz ondas grandes, que desafiam os mais ousados, e que tem feito com que o sector do turismo tenha aumentado no município.

“A Nazaré tem‑se posicionado como um palco privilegiado de eventos nacionais e mundiais, o que lhe tem dado uma grande exposição mediática internacional e provocado alterações ao nível económico. De uma vila quase exclusivamente piscatória, a Nazaré passou a crescer no turismo, nos negócios e investimentos em diversas áreas de actividade, nomeadamente por parte de multinacionais e empresas nacionais de diversos sectores”, referiu Walter Chicharro, presidente da Câmara Municipal da Nazaré, à Event Point.

Para o autarca, “o impacto directo das ondas gigantes na economia da Nazaré surge nos anos 2014 e 2015 com propostas de instalação de projectos de hotelaria e de novos negócios”. O município aproveita as ondas de oportunidades e regista a tendência de subida da procura pelo que a Nazaré tem para oferecer.

Os dados da autarquia indicam que a afluência de visitantes ao Forte de São Miguel Arcanjo, com vista para o ‘canhão’, passou dos 80 mil visitantes em 2015 para os 174 mil em 2017 e que no ascensor a afluência passou dos 630 mil passageiros em 2013 para quase 950 mil em 2017. “É o meio de transporte por cabo mais procurado em Portugal, superando o elevador de Santa Justa, em Lisboa, por exemplo”, acrescenta Walter Chicharro.

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Destino atractivo o ano inteiro

Reza a lenda que o nome da cidade se deve a uma imagem da Virgem oriunda de Nazareth, na Palestina, que um monge grego levou para o Mosteiro de Cauliniana, no século IV, e que foi mais tarde levada para a Nazaré por Frei Romano, que escondeu a imagem numa lapa, no Sítio. A imagem, que lá permaneceu ao longo de quatro séculos, foi depois descoberta por pastores, que passaram a venerá‑la, tal como D. Fuas Roupinho, alcaide‑mor do Castelo de Porto de Mós, e protagonista de outra história.

A lenda conta que D. Fuas Roupinho tinha por hábito caçar na região e que um dia também descobriu a imagem e venerou‑a. Depois, numa manhã de nevoeiro, em 1182, o alcaide‑mor perseguiu um veado, que desapareceu no precipício – assustado, pediu auxílio a Nossa Senhora e o seu cavalo parou a tempo, deixando até (diz‑se por lá) a sua marca na rocha. Em agradecimento, D. Fuas Roupinho mandou construir a Ermida da Memória e a Virgem deu nome ao lugar, o Sítio de Nossa Senhora de Nazareth, que é motivo de peregrinação dos devotos.

E como há tradições que se mantêm, ainda hoje o é. Se as ondas gigantes atraem visitantes ao longo do Inverno, o Sítio, o miradouro e a praia chamam os visitantes ao longo do Verão, fazendo com que a Nazaré seja um destino atractivo o ano inteiro. “Antes, com uma actividade económica baseada em três meses ao ano (Verão, mais os picos registados pela época da Páscoa e festa do fim de ano), a Nazaré tem hoje entre 10 a 11 meses por ano de actividade, o que se traduz em mais‑valias económicas para o concelho”, frisou Walter Chicharro, adiantando que “também as taxas de ocupação na hotelaria passaram a ser muito significativas nos meses de Inverno”.

O crescimento tem sido significativo em várias áreas. “O crescimento também é notório nos licenciamentos urbanísticos (a câmara cobrou licenças na ordem dos 150 mil euros), nas licenças para projectos hoteleiros (uma nova unidade de cinco estrelas deverá começar a ser construída ainda em 2018) e no número de residências de particulares (nomeadamente para estrangeiros). A subida do imposto de derrama e a facturação de 300 mil euros da empresa municipal Nazaré Qualifica (2017: entradas no Forte e venda de merchandising da marca) são outros indicadores que estão de acordo com este crescimento”, explicou o autarca.

Um destino com grandes mais‑valias

Na perspectiva do turismo de negócios, a Nazaré é detentora de um mar de potencialidades: as qualidades naturais e paisagísticas, o seu posicionamento no Centro do país e as acessibilidades, e a eficiência dos recursos (humanos e de equipamentos), “para dar resposta ao que consideramos como potenciadores da economia: os eventos”, são algumas das grandes mais‑valias do destino para se destacar nos sectores dos eventos e incentivos.

“Julgamos que o futuro passará pela continuação de realização de eventos desportivos de mar e de praia (tais como os torneios europeus e mundiais de bodyboard, campeonatos de surf/ondas grandes, futebol e andebol de praia, cujo retorno tem sido considerável), mas também pelos eventos culturais e artísticos, sem esquecer a captação de indústria para a AAE [Área de Acolhimento Empresarial] de Valado dos Frades”, que tem já 70% da área de localização empresarial vendida, um “feito alcançado nos últimos três anos”, contou Walter Chicharro.

Além disso, a autarquia continua a qualificar o espaço público e as acessibilidades para tornar o destino cada vez mais atractivo a vários níveis. A Nazaré pretende, assim, manter‑se à tona no cenário turístico e empresarial do país, surfando todas as ondas de oportunidades.

Maria João Leite

©French Landscape Hunter