Nos país dos gorilas, os congressos estão a lançar raízes

04-12-2017

O Ruanda deixou a guerra no passado e atirou-se com força ao turismo e à Meetings Industry. Está, neste momento, no terceiro lugar do ranking africano da ICCA.

Em Setembro, o Ruanda reúne-se no sopé dos vulcões Virunga para prestar aquela que é a maior homenagem na vida de qualquer habitante do país: a atribuição de um nome. Só que neste caso os “galardoados” são gorilas de montanha bebés, uma espécie que é o símbolo desta nação e que, por já ter estado à beira da extinção, é agora alvo dos maiores cuidados e atenções dos ruandeses. A cerimónia, chamada Kwita Izina, data de 2005, e é um forte sinal do desenvolvimento acelerado do Ruanda, depois do genocídio devastador de 1994, que matou entre 800 mil e um milhão de pessoas. E se o pequeno gorila tivesse acesso à Internet, poderia ver a sua foto publicada, com o respectivo nome, data de nascimento, sexo e identificação do “padrinho” que o nomeou. Esta celebração especial é preparada com cuidado e antecedida de eventos, um jantar de gala e conferências em torno do tema do conservacionismo, com visitas de jornalistas e outros players internacionais que possam aumentar a notoriedade do Ruanda no mundo, e mostrar que o país está já longe dos dias negros dos anos 90.

Apesar disso, o Ruanda não esqueceu a sua história, marcada por séculos de desafios colocados às três etnias que compõem a população, os Hutus e Tutsis, que guerrearam entre si durante séculos, com a intervenção nem sempre apaziguadora das potências coloniais, neste caso a Alemanha e Bélgica, e os misteriosos Twa, um povo pigmeu, cuja casa eram as florestas densas e verdes que cobrem uma parte significativa do país. Na capital, Kigali, pode visitar-se um memorial às vítimas do genocídio, na sua maioria Tutsi, e onde estão enterradas 250 mil pessoas. Na mesma cidade funciona ainda o Hôtel des Mille Colines, famoso pelo filme “Hotel Ruanda”.

Primatas em abundância

Ano após ano, um número crescente de turistas viaja para o Ruanda para safaris organizados, em que as principais estrelas são os super protegidos gorilas de montanha e os chimpanzés. Estes últimos fizeram da floresta de Nyungwe no sudoeste do país, a sua casa. O Lonely Planet diz que é uma experiência “sem paralelo, procurar o nosso primo, mais geneticamente semelhante”, em caminhadas pela floresta profunda. E se os pequenos chimpanzés são uma atracção natural, o que dizer dos 400 macacos colobus angolanos, com as suas barbas brancas, apenas uma entre várias espécies de primatas que observam, curiosos, os turistas que viajam pelas rotas da floresta?

Há uma oferta variada de empresas que organizam estas viagens, com alojamento e refeições incluídas. Um safari bem diferente daqueles que são organizados no Quénia ou na África do Sul e que é uma originalidade naquela região.

Para quem gosta de apanhar um pouco de sol, Gisenyi é uma boa alternativa, num país que não tem mar. As margens de areia do lago Kivu atraem ruandeses com posses e estrangeiros e a oferta hoteleira é abrangente.

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MI cresce em importância no turismo

Com estes argumentos não é de espantar que os ruandeses recebam cada vez mais visitantes. O Ruanda é dos países africanos que mais crescem e o seu enfoque está agora no desenvolvimento económico, nomeadamente através do turismo. O PIB tem crescido a uma taxa superior a 5%, segundo os dados do Banco Mundial, e os ruandeses apostaram tudo no ambiente, biodiversidade e na indústria da hospitalidade. E a prioridade é olhar para o futuro, onde o turismo tem uma importância significativa e a Meetings Industry (MI) é fundamental na estratégia desde país.

Em declarações à Event Point, Frank Murangwa, CEO do Convention Bureau do Ruanda (CBR), revelou que a aposta no MI funciona como complemento ao turismo de lazer e que a criação deste organismo serviu para ajudar o país a captar eventos internacionais.

As receitas do MI têm subido consistentemente no Ruanda tendo passado, em 2014, de 29 milhões de dólares (24,1 milhões de euros), para 47 milhões de dólares (39 milhões de euros) em 2016, segundo o mesmo responsável. O país recebeu eventos como a Taça das Nações Africanas, o Fórum Económico Mundial sobre África, a Cimeira da União Africana, a Cimeira de Investimento Global em África, o Fórum de Desenvolvimento do Investimento em Hotéis e na Aviação em África e o 28º encontro entre os signatários do Protocolo de Montreal, entre muitos outros.

Além disso, a capital Kigali subiu ao terceiro lugar do ranking da ICCA (International Congress and Convention Association) para o continente africano. Na cidade há mais de mil hotéis, entre três e cinco estrelas, e um centro de congressos que acolhe 2.600 pessoas.

Frank Murangwa revelou que o Ruanda recebeu 45 conferências em 2016 e para este ano estão planeadas 94, um aumento de mais de 108%, num país em que “os mercados mais importantes são África, Europa, Ásia e América do Norte”.

Para o CEO do CBR, o continente africano tem muito potencial neste sector. “Mais de 70% dos eventos que se realizaram são centrados em África, há muitas reuniões de associações na região que rodam dentro do continente”, explicou.

O Convention Bureau emprega 29 pessoas e, desde que foi estabelecido, o número de pessoas que se deslocam para conferências ao país aumentou de 17.950 para 35.100. Globalmente, a indústria do turismo gerou receitas de 404 milhões de dólares (336 milhões de euros) em 2016, face aos 305 milhões de dólares (253 milhões de euros) de 2014.

Um país ainda inesperado para um evento, mas que irá, em breve, deixar de o ser.