O lado soft do gestor de marketing

11-04-2017

Hoje em dia cada vez é mais relevante ter em conta as competências transversais, ou soft skills, para que os profissionais se destaquem no mercado de trabalho.

Hoje em dia cada vez é mais relevante ter em conta as competências transversais, ou soft skills, para que os profissionais se destaquem no mercado de trabalho. Na realidade, não basta ser detentor de um conjunto de competências técnicas, específicas, referentes a uma actividade ou profissão, pois o mercado de trabalho “pede” e valoriza as outras competências, as soft skills. É certo que os três saberes, teóricos (saber), práticos (saber fazer) e saber ser ou estar, nunca foram tão valorizados e, para comprovar isso, basta analisar as ofertas de emprego, em geral, e na área do marketing em particular.

Espírito empreendedor, dinamismo, orientação para o negócio, criatividade, resiliência, carisma, eloquência, boa capacidade de relacionamento interpessoal, polivalência, flexibilidade, capacidade de organização, capacidade de análise, método, rigor, capacidade de trabalho em equipa, capacidade de liderança, capacidade de resolução de problemas, excelente capacidade de comunicação, capacidade de planeamento, assertividade, organização e ritmo de trabalho, são algumas das competências transversais que poderemos encontrar, se analisarmos os perfis das profissões das áreas de Marketing e Comercial.

Ora, na verdade estas competências podem e devem ser desenvolvidas, pois serão efectivamente as que marcarão a diferença, no local de trabalho. Foquemo‑nos apenas em duas destas competências, a capacidade de comunicação e a resiliência. No que diz respeito à capacidade de comunicação, partimos da origem da palavra, que deriva do latim “communicāre”, que significa “pôr em comum”, “dividir alguma coisa com alguém”. Na verdade, se não conseguimos transmitir a nossa ideia, dificilmente conseguiremos comunicar eficazmente com o nosso interlocutor e corremos o risco de a mensagem se perder, durante o processo, ou até mesmo ser enviesada. Não falamos apenas no obstáculo que poderá estar relacionado com a língua, mas sim com a proxémica da comunicação, com a forma de falar e de interagir, a parte não‑verbal, a linguagem corporal, que tão genuinamente transmite informação ao nosso interlocutor. Urge portanto estar atento à mensagem, mas também à forma de comunicação da mesma, tendo sempre em mente, o objectivo, o público, o processo e obviamente a mensagem que queremos transmitir. A preparação, o treino e, mais do que isso, o ajustamento da mensagem aos nossos interlocutores, é meio caminho andado para que a transmissão da mensagem seja bem‑sucedida.

A outra competência é a resiliência, que pode ser definida como a capacidade de se superar, de recuperar de adversidades.1

Num mundo que se transforma a cada momento, numa profissão como a de gestor de marketing, que sofre diariamente a influência do avanço tecnológico, há que conseguir reagir, não ter medo de falhar, ser proactivo e acima de tudo agir de forma positiva, conseguindo gerir as emoções, desenhar um caminho, uma nova estratégia, uma nova forma de ser ou estar. À resiliência alia‑se a criatividade e a inovação, a necessidade do ser humano de se reinventar, de ver além do óbvio e, para tal, libertar‑se das formas de fazer comuns, habituais. Numa perspectiva de eficácia, não conseguiu, tente de novo, invente‑se, crie e não desista.

Preparar os profissionais de marketing, dotando‑os de competências técnicas, tornando‑os especialistas nos saberes da profissão é, sem dúvida, uma das competências dos estabelecimentos de ensino. Contudo, há que ter em mente que os saberes da profissão são abrangentes, são multidisciplinares e, portanto, há que criar condições, criar espaços e palcos de aprendizagem, momentos de experimentação, contactos com a realidade de trabalho, resolução de problemas “reais”, permitindo o desenvolvimento das soft skills, contribuindo activamente para a formação de profissionais mais completos, capazes de se adaptar à realidade empresarial, elevando o nível de qualidade do trabalho desenvolvido.

Importa, portanto, reter que “há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê‑la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.”2

O saber e o saber fazer são, sem dúvida, cruciais, mas os saberes ser e estar fazem toda a diferença no profissional de marketing e este é o foco que deve ser tido em conta no contexto académico, fazendo a aproximação com a realidade empresarial, antecipando, simulando e experienciando o mercado de trabalho. Compete‑nos a nós contribuir para a formação de profissionais globais, reinventando‑nos e criando novas formas de ser e de agir!

1. "resiliência", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008 2013, https://www.priberam.pt/dlpo/resili%C3%AAncia [consultado em 22‑02‑2017].
2. Citação de Fernando Teixeira Andrade (s/d), no livro “O medo, o maior gigante da Alma”.


Por Cidália Neves

Licenciada em Psicologia Social e do Trabalho, Mestre em Psicologia do Trabalho e Doutorada em Ciências Empresariais. Gestora de recursos humanos, coordenadora pedagógica e docente do IPAM, desde 2005. Tem vindo a desenvolver trabalhos de investigação na área de desenvolvimento de competências, formação e comportamento do consumidor, na área de luxo.