Praga investe no turismo de negócios

26-09-2018

2018 é um ano marcante para Praga. Cumprem‑se os 100 anos da instauração da Checoslováquia, os 50 da Primavera de Praga, os 10 do Convention Bureau de Praga, e pela primeira vez a cidade ascende ao Top 10 da ICCA.

Praga é uma cidade de conto de fadas e a melhor maneira de conhecê‑la é a pé. Isso permite a flexibilidade de travar a fundo quando vislumbramos a cúpula de uma igreja, a fachada de um edifício, uma rua pitoresca, dar meia volta, e seguir outro caminho. Entre as deambulações, ao sabor da corrente guiada pelos sentidos, o agradecimento por esta não ter sido uma cidade demasiadamente afectada pelo rasto de destruição da Segunda Guerra Mundial. Excepção feita a um episódio. Corria o ano de 1945, o último do conflito, e um raid americano deixou cair uma série de bombas na cidade, apenas porque os pilotos confundiram Praga com Dresden. Praga, claro, foi ocupada pelo regime nazi e fez parte do Protectorado da Boémia e Morávia. O governador mais temido foi um tal de Reinhard Heydrich, que ficou para a história como o Carniceiro de Praga. Para os aficcionados da Segunda Guerra Mundial é possível visitar a igreja (Santo Cyril) onde se refugiaram os autores do assassinato do poderoso Heydrich. A operação teve como nome de código "Antropoide" e os seus executantes foram elevados à condição de heróis nacionais.

A Charles Bridge (Ponte Karlov) é a ponte mais antiga, de circulação pedonal, e liga as duas margens do rio Moldava. Começou a ser construída em 1357, por ordem de Carlos IV, tendo sido concluída em 1402. De 1683 a 1928 foi decorada com inúmeras estátuas, das quais se destaca a de São João Nepomuceno. Vigário‑Geral em Praga, João de Nepomuceno foi mandado torturar pelo rei Venceslau IV e atirado ao rio. O (suposto) sítio onde o clérigo foi lançado ao Moldava é assinalado por um brasão. Reza a lenda que se se colocar a mão no brasão e pedir um desejo, este realiza‑se no prazo de um ano. Mesmo ao lado da ponte fica o Mlýnec Restaurant, para alimentar o corpo com a melhor cozinha checa.

Da Ponte Karlov avista‑se o imponente Castelo de Praga, a uns quinze minutos a pé e a uma escadaria de se perder o fôlego. O Castelo é um complexo extenso que inclui a Catedral de São Vito, em estilo gótico, o Palácio Real, onde ocorreu a famosa defenestração de Praga de 1618 (em que atiraram vários nobres pela janela), a Basílica de São Jorge, a Pinacoteca, o Palácio de Verão da Rainha Ana, entre vários outros.

Do outro lado do Moldava, fica a Praça da Cidade Velha (Old Town Square), a mais importante (e espectacular) praça da cidade, dominada pela Igreja de São Nicolas, pelo Memorial, de Ladislav Saloun, que assinala o episódio da história checa em que foram decapitadas 27 pessoas por tentativa de rebelião face ao império dos Habsburgos, e pelo relógio astronómico, que figura na antiga Câmara Municipal. Mas há imensas outras atracções em Praga, desde o bairro judeu, às inúmeras igrejas, sem esquecer o Memorial a John Lennon ou a Dancing House. É neste centro histórico, facilmente caminhável, que gravitam muitos dos players do sector da meetings industry.

Cidade em azáfama total

Praga é uma cidade que está a preparar bem o futuro. Há venues muito recentes, centros de congressos em construção, e hotéis a planearem remodelações das valências para eventos. É o caso do Marriott . “Praga está ao rubro”, diz o director William Boulton Smith, e para isso muito contribui a sensação de grande segurança que se vive na cidade. Numa altura em que cidades como Londres ou Paris ainda sofrem as consequências de atentados terroristas, zonas mais periféricas, como Praga, Budapeste ou Lisboa tornam‑se centrais no que diz respeito a eventos. Além da segurança, o director do Marriott lembra que a capital checa está hoje muito bem conectada em termos de voos, além de ter um aeroporto “óptimo”, e muito perto da cidade. “Todas as grandes companhias estão cá”, refere, e isso abre o espectro de clientes potenciais. China e Índia são hoje mercados promissores para Praga. Outra facilidade que a cidade oferece é a possibilidade de aluguer de edifícios históricos, o que pode conferir um élan extra a um evento. “Até o tram pode ser alugado”, sublinha Boulton Smith. E, por isto tudo, os bookers têm confiança em Praga. O Marriott inicia em Julho obras de remodelação de toda a zona dedicada a eventos, para aproveitar a low‑season de congressos. Também o Hilton, um dos principais hotéis vocacionados para congressos e eventos na capital checa, vai entrar em obras com a renovação de todos os espaços de reuniões. Já o Vienna House Diplomat verá todos os seus quartos serem remodelados este Verão, num estilo Great Gatsby, anos 30. Este hotel dos anos 80 está a dar passos firmes na direcção da modernidade. Do mesmo grupo fazem ainda parte o Angelo e o Andel’s, hotéis também eles com grande propensão para o MICE.

O estaleiro está montado no O2 Arena, a Altice Arena de Praga, para a construção de um centro de congressos e um espaço multiusos. A abertura está agendada para o Verão do próximo ano e em 2020 já há congressos marcados para o novo espaço. O complexo chamar‑se‑á O2 Universum. No mesmo ano, a Betsport, dona e gestora do espaço, espera reforçar o complexo com um hotel de quatro estrelas, com 300 quartos. O O2 Universum vai estar conectado com a arena, aumentando em muito a área disponível para eventos.

Em 2022, o Centro de Congressos de Praga espera inaugurar um novo hall com 5000 m2. Para o Congresso da ICCA, que se realizou aqui em 2017, o venue construiu uma nova e mais moderna entrada e tornou o edifício mais sustentável, com ganhos de 30% nos custos da energia. Intacta está no entanto, e ainda bem, a sala que recebeu personalidades como Obama ou Brejnev, constituindo‑se como um pedaço da história da cidade.

O Cubex é o mais recente venue da capital checa, um espaço moderno que promete agitar o sector dos eventos. O espaço é minimalista, tendo como inspiração o cubismo checo. Particularidades do espaço são as paredes brancas para projecção e a possibilidade de o organizador definir a cor de qualquer espaço.

Um país em que o Google tem competição

Fundada em 1996 por Ivo Lukacovic, para muitos checos Seznam significa internet. Mas na verdade a palavra tem por tradução: lista. Quer como motor de busca, quer na publicidade online, a empresa procura por em causa a fatia de mercado do gigante americano, e desse ponto de vista é praticamente uma excepção na Europa. No passado foi mesmo líder de mercado no país. Lembre‑se que a Google apenas não lidera em países como a China, Japão, Rússia e Coreia do Sul. O sector das tecnologias é importantíssimo para a República Checa, e tem como principal epicentro Praga. O ecossistema das start‑ups é muito activo, acarinhado na cidade, e está no radar de investidores internacionais. A capital ajudou a criar tecnologias como: Avast, Kiwi.com, SocialBakers, JetBrains, entre outros.

Venues históricos e com charme

Numa cidade com história para dar e vender dois venues que transpiram charme: a National House of Vinohrady e o Palácio Žofín. O primeiro data de 1894 e insere‑se no estilo neo‑renascentista, fazendo quase lembrar um salão de baile vienense. A sala Majakovsky, que homenageia o novelista russo Vladimir Majakovsky, é a mais espectacular e imponente, uma verdadeira obra de arte. A capacidade é para 670 pessoas em teatro e 700 em cocktail. Com a cheia de 1784 em Praga, surgia uma ilha, em pleno Moldava, de 250 por 100 metros, e onde hoje se situa o Palácio Žofín. A área mudou de dono uma série de vezes, mas em 1834 Václav Novotný comprou a ilha assegurando que a ia transformar num espaço social e de cultura para Praga. No projecto estava previsto um restaurante, uns banhos e um edifício residencial. A 27 de Setembro de 1840, o Arquiduque Franz Karl visitou a ilha, e esta passou a ser conhecida por Ilha Sofia (Žofín), numa homenagem à esposa de Franz Karl e mãe do Imperador Franz Joseph I. Em 1884, o edifício existente foi transformado num palácio neo‑renascentista, destinado aos mais variados eventos. E ainda hoje se mantém. Desde 1994 é gerido pela Agentura NKL Žofín. Pelo Žofín passam os mais variados eventos, desde congressos internacionais a concertos, até eventos corporativos ou casamentos. Há quatro halls disponíveis. O maior, e também o mais impressionante, em banquete pode receber até 800 pessoas. Trata‑se de uma sala absolutamente deslumbrante, capaz de provocar espanto a quem quer que a visita.

Num outro registo, a Old Wastewater Plant, ou Estação de Tratamento de Águas, construída entre 1901 e 1906, tendo estado em funcionamento até 1967, funciona hoje como museu e um espaço original para eventos. Além disso, é cenário de uma acção de team building, uma espécie de Fort Boyard checo, dinamizada pela Quix Events, empresa de organização de eventos, com grande vocação tecnológica. Criado de raiz pela empresa, o jogo tem feito as delícias de empresas, mas também de turistas.

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Apartamentos Old Royal Post 

Alojamento para vários gostos numa cidade também de compras e de lazer

A ausência de barulho leva a pensar que não estamos no centro da cidade. Mas estamos. O Mandarin Oriental Praga ocupa um antigo mosteiro do século XIV, transformado num hotel que combina elementos renascentistas, barrocos e góticos, tudo com um toque asiático, mas criando um conjunto harmonioso, pleno de requinte. O feeling é quase de resort, favorecendo a privacidade de um grupo que queira utilizar a unidade para eventos e congressos.

Como palco desses eventos, o Mandarin tem à “porta de casa”, e a uma distância caminhável, tudo o que de melhor Praga tem para oferecer. As salas mais requisitadas para eventos são: o Grand Ball Room, com capacidade para 130 pessoas sentadas e 200 em cocktail; o Dominicus Hall, para 100 pessoas em pé; o Lounge que recebe 150 pessoas em recepção, por exemplo; e a Adega, para jantares privados com até 22 pessoas. O restaurante do hotel tem capacidade para 92 convivas. Em termos de quartos, estes perfazem os 99. A suite presidencial tem uma vista única, de cortar a respiração, do Castelo de Praga.

Bem perto, os apartamentos Old Royal Post situam‑se num edifício do século XIV, que uns séculos mais tarde acolheu os correios reais. Entretanto o edifício foi totalmente renovado e em Dezembro de 2015 arrancava o projecto com 26 apartamentos. Estes são todos diferentes, primando pelo bom gosto e pela originalidade, procurando homenagear personalidades importantes para a República Checa.

Colado ao Centro de Congressos de Praga, fica o Holiday Inn Prague Congress Center, uma unidade com 250 quartos que serve de apoio ao venue. O hotel, por sua vez, tem também espaços para eventos com capacidade para 120 pessoas. Também o jardim pode ser usado para esse efeito. Já nos arredores da cidade, fica o AquaPalace Hotel. Com vista para o sector dos eventos, mas claramente vocacionado para o lazer, o AquaPalace tem no parque aquático o seu ex‑libris. Talvez por ser o maior parque indoor da Europa central, recebe visitantes de mercados como o alemão, austríaco e de outros países vizinhos da República Checa, além claro dos clientes nacionais. Combinar os dois segmentos, lazer e corporate, é um desafio grande para a unidade.

Em termos de centro de conferências, este recebe eventos até 650 pessoas e todo o tipo de iniciativas, desde congressos até reuniões, e mesmo casamentos e galas.

Com uma estratégia de fomento de relações próximas com os hotéis, o Fashion Arena Prague Outlet, a 25 Km do centro de Praga, alberga mais de 200 marcas internacionais e checas. O espaço VIP é muitas vezes cedido a hotéis e a grupos como um ponto de encontro, de descanso, de relaxamento. A zona é agradável, o catering bom e este acesso dá ainda direito a um desconto em diversas lojas.

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Cinco perguntas a Roman Muska, director do Convention Bureau de Praga

O que significa para Praga estar no top 10 da ICCA?

Era um dos nossos objectivos a longo prazo e estamos muito entusiasmados de termos conseguido. O mais difícil está agora à nossa frente: mantermo‑nos no Top 10 nos próximos anos e possivelmente chegar ao Top 5 dos principais players. Estamos completamente alertados de que o ranking se centra nos eventos associativos e representa apenas uma parte da meetings industry, mas é muito importante para nós ver as tendências em termos de destinos e países.

Quais são os principais argumentos que tornam Praga um destino de topo para congressos e eventos?

Há muitos factores que afectam positivamente a meetings industry em Praga. Alguns deles herdamos – uma história rica e venues antigos bem preservados, e a localização vantajosa no coração da Europa. Quanto aos outros factores, eles estão constantemente em melhoramento – qualidade de serviços, venues e hotéis novos ou reabilitados, número crescente de ligações aéreas directas, apoio financeiro e administrativo para congressos e conferências internacionais, e muito mais.

Quais são os mercados principais para o destino?

Os principais mercados incluem: América do Norte e países europeus como o Reino Unido, Alemanha, França e Benelux.

Com tudo o que está a acontecer em Praga, especialmente em termos de novos venues, como vê o destino nos próximos anos?

Esperamos que Praga seja capaz de receber congressos internacionais ainda maiores. Graças às novas aberturas, vai haver mais espaço, não só para receber eventos maiores, mas também em maior número. Considerando esta oportunidade, esperamos conseguir trazer mais congressos internacionais para Praga.

Quais são os principais objectivos do Convention Bureau de Praga para os próximos anos?

A nossa principal estratégia tem que ver com a manutenção de Praga como um destino para eventos no top mundial. Tendo isto em conta, temos três objectivos: aumentar o número de eventos internacionais, continuar a construir uma imagem positiva de Praga como destino de topo para eventos, e, por último mas não menos importante, aumentar o reconhecimento do valor que a meetings industry traz ao país.
 

Cláudia Coutinho de Sousa*
*Viajou a convite do Convention Bureau de Praga