Ricardo Bramão: Talkfest, “uma prova dura, mas muito enriquecedora”

06-03-2019

Março é mês de Talkfest – International Music Festivals Forum, que vai já para a sua oitava edição. O evento divide-se em duas sessões: a gala dos Iberian Festival Awards, a ter lugar a 13 de Março, em Vigo, que vai premiar festivais, marcas e artistas de Portugal e de Espanha; e o dia profissional, a 22 de Março, em Lisboa, que vai contar com conferências, apresentações, workshops, entre outras actividades, com perto de 100 oradores nos cinco espaços de programação.

Ricardo Bramão, director da Aporfest – Associação Portuguesa de Festivais de Música e um dos organizadores do Talkfest, respondeu às questões da Event Point sobre o evento e a sua evolução, sobre os desafios de organizar um evento duplo e sobre os destaques da edição deste ano, cuja programação completa pode ser conhecida em www.talkfest.eu.

 

Quais são os destaques da edição deste ano do Talkfest?

O Talkfest – International Music Festivals Forum celebra este ano a sua 8ª edição, numa edição de evolução a todos os níveis. Será a segunda vez que temos a gala dos Iberian Festival Awards em contexto espanhol, a 13 de Março, desta vez na cidade de Vigo, onde premiaremos os melhores festivais, marcas, artistas, media partners em contexto ibérico. O dia profissional em Lisboa, a 22 de Março, receberá quase 100 oradores divididos por cinco espaços de programação em simultâneo, de onde destacamos os keynote speakers internacionais Filippo Giunta, director do Rototom Sunsplash, o maior festival reggae do mundo, e Mariana Sanchotene, directora do Amsterdam Dance Event, o maior festival clubbing da Europa, a sessão de abertura com a Ministra da Cultura, a novidade de termos um estúdio de TV e rádio em permanência no local e a potenciação dos tempos de networking nos vários locais.

 

Quais os temas que mais inquietam actualmente o universo dos festivais de música?

São os temas que vão ser abordados nas conferências, pitchstage e workshops do dia profissional. São temas actuais, alguns fraturantes, e que vão interferir de modo directo com os organizadores dos festivais e impactar no seu público. Este ano serão abordadas as áreas que estão a fazer evoluir os festivais, mas a trazer mais custos a estes: mobilidade, sustentabilidade e novas tecnologias. Cada área de programação vai funcionar das 9h às 20h. Nas Conferências vamos receber os maiores palestrantes de cada área, nos Workshops conhecer trabalho teórico-prático, nas Pitchstage e Apresentações Científicas vamos ter apresentações de festivais, temas e estudos em puro contra-relógio, não esquecendo as actividades extra como exposições, encontros de promotores e documentários.

 

Na lista dos finalistas para os Iberian Festival Awards, nota-se a ausência de festivais como o Nos Primavera Sound, Vodafone Paredes de Coura, Nos Alive ou EDP Vilar de Mouros, por exemplo. Há algum motivo para tal acontecer?

Todos os festivais referidos não se candidataram por sua iniciativa a nenhuma das últimas edições dos prémios European Festival Awards e UK Conference & Festival Awards, a rede a que pertencemos. Do nosso lado, nos Iberian Festival Awards, tivemos este ano um recorde no número de festivais candidatos, do lado de Espanha e do lado português, nomeadamente em festivais de grande dimensão. É óbvio que gostaríamos de ter não só esses festivais como candidatos, mas todos os festivais ibéricos – algo que continuaremos a trabalhar. Mas uma coisa é certa, é impossível ser unânime e percebemos isso com a evolução dos prémios em que se, por um lado, a credibilização aumenta porque existem mais candidatos, a frustração também porque existem mais que não ganham ou não chegam a finalistas sequer.

 

Quais os critérios de avaliação do júri dos Iberian Festival Awards?

Os prémios têm a sua forma bem definida desde a primeira edição com um critério de avaliação definido e claro, e segue as premissas dos UK Conference & Festival Awards. Desde a edição passada, foi colocado também um regulamento próprio que certifica as decisões das categorias decididas pelo público – votos através de plataforma especializada Surveymonkey, que apenas permite um voto por dispositivo eletrónico – e pelo júri, composto por nove elementos de Portugal, Espanha e internacionais, que tem regras mais apertadas de avaliação e que dá também a sua opinião no Excellence Award. Este regulamento veio introduzir clarificação nos processos de inscrição das candidaturas. Todos os anos fazemos a nossa análise, perante a edição e as opiniões que nos chegaram, e aferimos alterações ou introduções de novas categorias e formas dos prémios.

 

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O evento vai já na sua oitava edição. Como descreve a evolução do Talkfest?

Tem sido uma prova dura, mas muito enriquecedora. Tudo começou como uma análise simplista de três colegas de faculdade, amantes de festivais, que em Outubro de 2011 viram que a área dos festivais e dos seus profissionais não tinha um espaço de discussão, ao contrário das suas áreas académicas e de outras áreas. O processo de crescimento foi normal, passou de algo feito no tempo livre dos trabalhos de cada um para se tornar profissional. O maior desafio foi na passagem de 2014 para 2015, no final da 3ª edição, em que percebemos que o Talkfest e o seu modelo de contínua evolução – programação, parceiros, oradores internacionais, logística mais cara, branding, aluguer de espaços, por exemplo – não tinha rentabilidade e nós já não poderíamos despender mais dinheiro pessoal. Teria de existir algo que o pudesse sustentar verdadeiramente. Da mesma forma, éramos cada vez mais solicitados para retirar dúvidas (sobre legislação, fornecedores de serviço, contactos, etc.) e daí surgiu a necessidade de criar uma associação que representasse o ecossistema desta área, a Aporfest, que hoje é a maior associação sectorial privada, sem qualquer ligação política ou governamental, dos profissionais da cultura. A associação e a sua actividade anual permitem pagar parte do evento assim como os novos patrocinadores públicos e privados obtidos a partir daí. Com a chegada dos Iberian Festival Awards conseguimos o reconhecimento definitivo do evento, pautando-nos por todos os anos surpreendermos quem nos visita. A Aporfest permitiu também o acesso gratuito dos seus associados e parceiros ao evento, assim como o aumento de qualidade destes. É bom vermos que os eventos são uma celebração, mas também um reconhecimento e espaço para fortificação de competências e networking a quem por lá passa. E já estamos a trabalhar para 2020!

 

O Talkfest divide-se em dois eventos, em Vigo e em Lisboa. Quais os desafios de organizar este evento duplo?

Os desafios prendem-se sobretudo por sermos uma equipa pequena, que, ao mesmo tempo, está envolvida no trabalho diário com todos os associados da Aporfest. É por isso que a distância da gala e do Talkfest é de nove dias, para a acção de ambos os eventos não ficar comprometida. Nos anos em que a gala acontece em Portugal, os eventos ocorrem em simultâneo, de modo a não prejudicar quem viaja de longe e possa assim estar em ambos os eventos.

 

Maria João Leite