Ricardo Rio: “Braga vive um momento exemplar”

07-06-2019

Foi no Altice Forum Braga o ponto de encontro para uma conversa sobre Braga e aquela que é a estratégia do concelho para o setor do turismo de negócios.

O trabalho em rede, a construção conjunta de uma visão da cidade, e a aposta em eventos que se enquadrem no perfil da cidade, foram alguns dos eixos da conversa com Ricardo Rio, um autarca que claramente pensa o turismo de negócios e o território.

Sendo um bracarense de alma e coração, como é que vê a evolução de Braga nos últimos anos?

Acho que a cidade de Braga está a viver um momento muito positivo em todas as frentes. Estamos a registar um crescimento muito grande desde logo do ponto de vista populacional, aquilo que é a nossa imagem de marca, uma cidade jovem, vai‑se sustentando, atraindo cada vez mais pessoas. Do ponto de vista económico foram anos, os mais recentes, de atração de muitas empresas, em que assistimos ao crescimento, também sustentado, das empresas já cá instaladas, dos vários setores de atividade, do setor agrário até aos serviços, ao comércio, ao turismo, e obviamente à indústria. A cidade está com uma energia muito forte do ponto de vista cultural, desportivo, social. Partilho o sentimento de todos os bracarenses que é de facto de orgulho por aquilo que tem sido a evolução recente da cidade e de expectativa positiva em relação ao seu futuro.

Ser autarca sempre foi um objetivo?

Quando se vive numa cidade em que o presidente da Câmara está em funções, como acabou por estar, durante 37 anos, sentimos um desejo de mudança. Portanto, quando estamos disponíveis para dar o nosso contributo, obviamente que o podemos fazer de melhor forma através do exercício de um cargo autárquico. Fui deputado municipal entre 2001 e 2005, concorri pela primeira vez à Câmara em 2005, depois novamente em 2009. Nestas duas ocasiões não fui bem sucedido. Em 2009 perdi por dois mil e qualquer coisa votos, mas depois em 2013 acabei por ser eleito. Foi o veículo que entendi que tinha para dar esta minha contribuição pessoal para transformar a cidade e para melhorar o seu desenvolvimento.

Quais foram as suas prioridades nessa altura para a cidade, e de que forma o turismo é também uma prioridade?

A primeira de todas era obviamente o desenvolvimento económico. A realidade de Braga, tal como do país, em 2013, era substancialmente diferente daquilo que temos hoje. Tínhamos taxas de desemprego bastante elevadas, muitos jovens qualificados que concluíam as suas licenciaturas na Universidade do Minho e que depois não tinham acesso ao mercado do trabalho. E dentro do desenvolvimento económico, numa lógica transversal, obviamente que também o turismo teria que ser melhor potenciado. Só para lhe dar uma indicação, de 2013 até hoje, praticamente duplicamos o número de turistas que visitam regularmente a cidade de Braga e que aqui permanecem para as suas diversas realizações. Portanto havia, quer num caso, quer noutro, um potencial muito grande por explorar e que foi o foco da minha intervenção, no sentido de aproveitar os recursos que Braga tinha, quer em termos de massa populacional qualificada, quer em termos de capacidade empreendedora, quer em termos de centros de investigação ligados à Universidade, ao INL [Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia], e outras organizações como é o caso do Centro Clínico Académico. E isso no turismo também se aplica, do ponto de vista daquilo que é o património da cidade, dos seus recursos naturais, da dinâmica que a cidade passou a ter com a multiplicidade de eventos que vão marcando a agenda ao longo de todo o ano. Mas depois também nunca descurando aquilo que são as políticas sociais. Também do ponto de vista da componente da dinamização cultural, não é por acaso que assumimos já o desígnio de sermos Capital Europeia da Cultura em 2027, e temos feito um trabalho muito consistente também no sentido de diversificar a oferta cultural, e estimular a atividade cultural no nosso concelho. Entretanto fomos reconhecidos como cidade criativa da UNESCO na área das media arts, em 2017. Portanto estamos a fazer um percurso também nessas várias dimensões muito importante.

Consegue partilhar connosco a estratégia da Câmara de Braga para este setor do turismo de negócios e de que forma o Altice Forum pode ser o ponta de lança nessa estratégia?

Tínhamos uma situação de partida que era evidente de há vários anos a esta parte, mesmo antes de ser presidente de Câmara. Enquanto vereador fui discutindo com as várias administrações do Parque de Exposições de Braga (PEB) a aspiração que havia de se requalificar este espaço e dotá‑lo de melhores condições, quer do ponto de vista funcional, mas também do ponto de vista das condições de climatização, de insonorização, enfim toda uma série de fatores que passados anos foram criando aqui dificuldades e que no fundo punham em risco a própria sustentabilidade do antigo Parque de Exposições, porque a cada novo evento que organizávamos, sentíamos que havia desagrado dos expositores, dos visitantes. As condições eram muito agrestes e portanto tínhamos aqui um equipamento com um grande potencial, mas que não estava a responder. Então foi desenvolvido, em colaboração com o arquiteto Pedro Guimarães, um projeto de requalificação integral do PEB que passou por não só dotá‑lo de melhores condições em cada uma destas dimensões, mas também por transformá‑lo em termos de espaços e de versatilidade. Hoje temos, além do grande auditório, todo ele requalificado e que é um dos maiores auditórios a nível nacional, com cerca de 1500 lugares, o pequeno auditório, com 250 lugares, salas que são multifacetadas, ora para acolher exposições, ora desfiles de moda, jantares, toda uma série de ações de formação, ou workshops. E depois uma grande nave, que foi toda ela infraestruturada para ser o palco de grandes eventos, de natureza económica, como são as feiras, as mostras, e de natureza cultural. Hoje posicionamo‑nos como um destino para grandes concertos. E também para eventos desportivos. O ano passado fomos Cidade Europeia do Desporto e, das 600 atividades que acolhemos, os grandes eventos foram realizados no Forum. E como cereja no topo do bolo, uma galeria de arte contemporânea, que é um traço diferenciado deste espaço. Hoje já temos iniciativas calendarizadas para 2020, 2021 de grande dimensão, nomeadamente na área do turismo de negócios.

Promoção e trabalho em rede

Para captação desses eventos internacionais, é necessária uma grande promoção internacional. Como vê o trabalho da Associação de Turismo do Porto (ATP)?

Acho que é positivo. Aliás, uma das primeiras decisões que tomei aquando da minha assunção de funções logo em 2014, foi juntarmo‑nos à ATP. Nós tínhamos já anteriormente uma colaboração muito próxima, que temos vindo a reforçar, com a Entidade Regional de Turismo do Porto e Norte, mas como sabemos a sua promoção está circunscrita a Portugal e Espanha. Julgamos que Braga tinha de extravasar essas fronteiras e tinha de se posicionar junto de outros mercados. Daí essa inscrição imediatamente na ATP, mas que tem sido reforçada ano após ano com muitas outras ligações de caráter internacional em que Braga tem vindo a estar, quer diretamente em organizações ligadas ao turismo de negócios, através desde logo da própria Invest Braga, quer também na promoção internacional da cidade em redes como a Eurocities, Global Parliament of Mayors, de geminações com cidades na China, no Brasil, Europa e África. Isto acaba por nos dar uma visibilidade internacional e um posicionamento, que teve como corolário ainda recentemente a eleição como segundo melhor destino europeu para o ano 2019.

Nunca esteve em cogitação criarem um convention bureau aqui da região?

Nós julgamos que temos de trabalhar em rede, não vale a pena fazermos muita promoção própria. Mas fazemos muitas ações internacionais, temos estado presentes através do município e dos nossos parceiros em várias feiras internacionais de turismo, quer especializado, quer mais genérico, mas julgamos que temos que trabalhar em rede, e portanto não vale a pena estarmos a compartimentar excessivamente aquilo que trabalhado numa base regional seguramente tem potencial para cumprir os nossos objetivos.

E como é esse trabalho em rede? Diria que é satisfatória essa relação com a Associação Comercial, com o INL, com a Universidade do Minho?

Em termos locais, diria que é excecional. Braga vive também aí um momento exemplar, e até dificilmente replicável noutros contextos territoriais, porque também desde o início houve aquilo que tenho designado como uma mudança do modelo de governança da cidade. Ou seja, em vez de passarmos a ter uma câmara que tem um projeto, e que quer implementar, e que chama os parceiros para concretizar o seu projeto, temos construído em conjunto a visão de futuro da cidade. Quer com o INL, quer com a Universidade do Minho, com as associações empresariais, com as instituições sociais, há hoje um clima de colaboração muito estreito.

Também na captação de eventos?

Sobretudo na captação de eventos. Dou‑lhe o exemplo do INL, que tem promovido várias conferências internacionais, além do INL Summit. Algumas delas têm sido organizadas aqui no Forum. A Universidade do Minho a mesma coisa. Um dos grandes eventos que temos em 2020 é uma grande conferência na área das comunicações, terá cerca de 2000 participantes. Mas também outras instituições da cidade. Vamos ter, por exemplo, em finais de junho e julho o World Dance Cup, que vai trazer 5000 jovens artistas de todo o mundo à cidade durante uma semana, aqui em parceria entre o Forum e o Theatro Circo.

Em termos do perfil que imagina da cidade, que tipo de eventos é que são mais interessantes de captar?

Acho que estes eventos não podem ser vistos numa lógica desligada da realidade e das vivências próprias da cidade. Temos de atender àquilo que é também o nosso perfil de público, e esta população jovem que temos, quase 40% abaixo dos 30 anos, tem que se rever e querer participar nos eventos. Diria que todas estas dinâmicas de natureza cultural e desportivas que têm vindo a acontecer, e vão acontecer ao longo de todo este ano, são eventos que têm desde logo uma grande afinidade com a população do concelho. Mas mesmo do ponto de vista científico, e digamos dos congressos que podemos atrair, tudo o que tem a ver com estas áreas que temos valorizado, quer do ponto de vista da ligação a estas organizações que referi, o caso do Hospital, da Universidade e do INL, quer do ponto de vista das áreas de negócio em que Braga está hoje a crescer mais, como o caso das novas tecnologias, das ciências médicas, da biotecnologia. A Medicina tem sido uma das áreas em que nós, em 2018 e 2019, conseguimos ter muitos congressos, e muitas iniciativas no nosso concelho.

A Galiza e o quadrilátero

Como é que olha para a Galiza neste contexto, quer em termos de participantes que podem vir de lá, quer em termos de organizadores de eventos que podem fazer as suas iniciativas aqui em Braga?

Braga sempre teve uma relação muito forte com a Galiza, se calhar mais distintiva até face a outros municípios da região norte do país. Historicamente sempre tivemos uma grande afluência de cidadãos galegos, por razões turísticas, à cidade de Braga, desde os tempos da Bracalândia, e hoje por razões comerciais. Temos estado também integrados em várias iniciativas de colaboração, desde logo através do Eixo Atlântico, mas também de outras instituições. Teremos este ano cá a Expocidades ‑ Mostra de Turismo das Cidades do Eixo Atlântico, temos participado sempre no Xantar, temos tido uma relação de colaboração com vários agentes desta área da Galiza, e portanto temos aqui uma oportunidade de intercâmbio muito forte. Hoje temos vindo a fortalecer esses laços e é uma das áreas em que queremos continuar a trabalhar de forma muito estreita.

E em relação aos outros municípios do Minho? Vê hipóteses de colaboração na captação de eventos?

Temos alguns dos eventos que ultrapassam em larga medida a escala da própria cidade de Braga. Dizia‑me alguém da organização do World Dance Cup que já havia pessoas a alojarem‑se em Santa Maria da Feira, porque a oferta regional já não chega em épocas como essa de grande afluência. Obviamente que todos beneficiamos com essa capacidade de interligação. Tem havido alguns eventos que temos promovido de forma interligada desde logo entre Braga e Guimarães. Por paradoxal que possa parecer temos tido uma relação de colaboração muito forte, mas também no âmbito do quadrilátero entre Braga, Barcelos, Guimarães e Famalicão. E mesmo com o Porto e com Viana do Castelo temos uma relação de grande proximidade.

Acha que faria sentido criar uma espécie de calendário de eventos para não existirem na mesma região, no Porto, Guimarães, eventos internacionais ao mesmo tempo?

Acho que como conceito e princípio é sempre positivo e temos tentado fazer esse trabalho desde a base mais micro, até dentro da própria cidade temos instituições diferenciadas a desenvolver iniciativas que quase são concorrentes entre si, até alargando a malha geográfica para a envolvente, para o quadrilátero, até depois para a região norte. Agora, não é sempre fácil de fazer essa conciliação, até porque muitos desses compromissos são trabalhados com muito tempo de antecedência, depois surgem outras oportunidades que não se podem desaproveitar e depois há sempre algumas sobreposições. Mas como principio temos tentado.

O município como pivot

Há algum plano de sensibilização da estrutura da câmara, das freguesias, para a importância deste setor dos eventos, do turismo de negócios? É uma coisa que o preocupa, estarem sintonizados e alinhados para a importância deste setor?

É fundamental, acho que qualquer organização desta natureza acima de tudo é a experiência. O que nós queremos é que quem nos visita, seja nacional e internacional, tenha uma excelente experiência na nossa cidade, e que toda a cidade corresponda aos desafios. Recentemente, numa visita técnica dos responsáveis do World Dance Cup, eles davam‑me nota que numa das localizações onde tinham feito o campeonato chegaram lá e não havia restaurantes abertos. Isto é absolutamente impensável. Toda a cidade tem de saber tirar o devido proveito das iniciativas. Temos tido esse cuidado, quer do ponto de vista dos próprios serviços municipais, tentar partilhar o mais possível o calendário de eventos que está previsto, aqueles que são nossos, aqueles em que colaboramos, que são aqueles em que temos mais acesso à informação, para minimizar os impactos sobre os cidadãos, e tentar acomodar a sua organização da forma mais efetiva e profissional possível, e levar até aos agentes económicos, hotelaria, comércio, restauração, informação sobre os vários eventos que vão sendo realizados, tentando trazê‑los para a valorização dessa mesma oferta. Isso tem acontecido em muitas ocasiões.

É comum ouvir os organizadores de eventos dizerem que uma das dificuldades que sentem, sobretudo com eventos de uma certa dimensão, é articularem‑se com várias entidades que têm responsabilidades sobre diferentes áreas. São necessários licenciamentos, autorizações, questões burocráticas. Acha que a Câmara pode funcionar como um pivot?

Isso no caso de uma realidade como a de Braga fica naturalmente facilitado porque o Altice Forum Braga é uma entidade pública, pertence à Invest Braga, que é uma entidade 100 por cento municipal, portanto em todas as ocasiões, ou eventos, há desde logo esse trabalho prévio que é feito, quer de articulação com os serviços municipais, quer depois de articulação com outras entidades, ao nível das forças de segurança, das estruturas comerciais, das unidades hoteleiras. Nós fazemos de facto um trabalho de mediação entre o promotor do evento e aquilo que é a realidade concelhia, que é aliás o foco da Invest Braga, cujo trabalho é remover as pedras, os obstáculos para quem quer concretizar os seus projetos em Braga. Temos a capacidade de sentar à mesma mesa de forma quase imediata todos os interlocutores relevantes e encontrar todas as soluções. Dou‑lhe um exemplo, um dos grandes desafios que muitas vezes se coloca em relação a este tipo de iniciativas é o sistema de transportes. Nós em Braga beneficiamos do facto de termos uma empresa de transportes 100 por cento pública, em que imediatamente chamamos à mesa os transportes urbanos e conseguimos criar as respostas para que se satisfaçam as necessidades de cada evento, seja nos grandes eventos desportivos e culturais a criar parques periféricos com linhas dedicadas para serviços de transporte, ou nas conferências e congressos a disponibilizar linhas para servir os hotéis, ou a criar passes de um euro como temos para os conferencistas e participantes para poderem circular livremente na rede de transportes públicos.

Que projetos estão previstos para os próximos anos em termos de hotéis, novas estruturas que possam estar aí na calha?

Temos neste momento em Braga cerca de 6000 camas disponíveis, 4000 de hotelaria, mais cerca de 2000 de alojamento local ou de outras ofertas afins. Estão em carteira, em fases diferentes de tramitação em serviços municipais, cerca de cinco a seis novos projetos hoteleiros, de diferente natureza, uns mais de turismo de centro da cidade, mais elitista, de maior valor acrescentado, outros projetos mais vocacionados para o turismo de negócios, portanto para apoio a feiras e congressos, e já em zonas mais periféricas, mas são projetos que estão numa base já sustentada de concretização, e portanto até 2021 seguramente que boa parte deles estará disponível.

Há alguns eventos que são naturalmente apoiados pela Câmara Municipal. Quais são os critérios para apoiar eventos?

Temos duas dimensões. O Altice Forum Braga posiciona‑se como espaço de dinamização económica do concelho e, portanto, nesse aspeto, não é em si mesmo uma entidade que vise ser particularmente rentável. Quer ser competitiva com os seus parceiros e concorrentes, mas não tem como foco a obtenção de uma rentabilidade considerável. Portanto, o trazermos eventos para Braga é benéfico indiretamente para toda a malha económica da cidade, e isso é tido em conta. Temos consciência de que há aqui uma estrutura a manter, e todo um conjunto de investimentos que foram realizados e que têm que ser recuperados e há aqui uma lógica mínima de remuneração desse investimento que foi feito. Em relação depois em concreto a cada uma das iniciativas, fazemos uma avaliação, desde logo, do impacto que podem ter na cidade, daquilo que é a disponibilidade de recursos que podemos ter. Nós, para pôr as coisas desta forma, não pagamos para ter eventos na cidade, podemos eventualmente disponibilizar serviços logísticos em alguns eventos. Temos na área dos congressos uma parceria com muitos agentes culturais que depois disponibilizamos para a concretização de iniciativas de animação dessas várias realizações que aqui são feitas. Há aqui assim um trabalho em rede que depois também pode ser potenciado e que é feito quase diria de forma casuística, não há digamos um critério universal para a atribuição desses apoios.

Mas gostava, ou está previsto, um estudo do impacto deste setor na cidade de Braga?

Esse é um trabalho que acho que deve ser feito, mas no momento em que ele esteja mais consolidado. Demos um salto quântico de 2017 para 2018 com esta requalificação que foi feita do Parque de Exposições, reconvertido para Altice Forum Braga. Hoje temos aqui todas as condições para poder acolher muitos e bons eventos da mais diversa natureza, mas esta é ainda uma fase de aprendizagem. Estamos de facto a registar uma procura muito considerável, mas achamos que temos ainda de perceber qual vai ser a dinâmica estável do Forum, e daquilo que são os seus parceiros para podermos fazer essa avaliação. Mas queremos ter, naturalmente, uma análise mais rigorosa, como temos feito noutras áreas, nomeadamente uma análise de impacto.

Lançaram o visitbraga.travel há algum tempo. Que feedback tem desse projeto e como o vê evoluir?

Há aqui muitas oportunidades. O objetivo primeiro dessa plataforma, e da parceria que tem sido desenvolvida com a Associação Comercial de Braga de forma muito especial, foi dar outra visibilidade à cidade e aos seus agentes económicos: às unidades hoteleiras, à estrutura comercial, aos recursos turísticos. Acho que a recetividade tem sido muito positiva, temos conseguido outra notoriedade que Braga não tinha nesta área turística, em vários segmentos de mercado, nacionais e internacionais. Voltando à questão do European Best Destination, para nós foi particularmente significativo termos sido o destino preferido dos cidadãos brasileiros, mas diria que isso era quase natural. Já sermos o primeiro destino para os cidadãos ingleses, ou para os franceses o segundo, é algo que nos dá uma perspetiva e um testemunho de um reconhecimento externo que hoje a cidade tem e não existente há alguns anos e, obviamente, todas estas iniciativas acabam por contribuir. Em termos de evolução diria que iremos acompanhar a realidade também do mercado. Vemos algumas destas plataformas à escala local, global, a serem transformadas em verdadeiras plataformas de negócio, agregadoras da oferta e isso não está posto de parte, mas também não vale a pena criar estruturas redundantes. Só vale a pena avançar por aí se considerarmos que é verdadeiramente vantajoso.

Falou ainda agora do European Best Destinations. De que forma vão potenciar esse selo que Braga conseguiu muito recentemente? Algum tipo de promoção específica?

Sim, nós passamos a incluir esse título em todos as nossas componentes promocionais à escala internacional, nas feiras em que temos estado, nos vários suportes que temos, mas diria que o grande apport desse trabalho é aquele que decorre da organização do prémio que, de facto, reconheceu que Braga tinha alcançado um reconhecimento muito importante, e embora normalmente só trabalhem depois em termos comunicacionais de forma bastante forte o primeiro destino do ano, a organização fez questão de nos endossar uma carta, e já tivemos vários contactos posteriores em que nos disseram que iriam trabalhar também de forma muito intensa Braga como destino. Acho que esse é o grande proveito que a cidade tem de uma iniciativa desse género. Obviamente tivemos notícias sobre Braga, e algumas delas de grande dimensão, no Lonely Planet, na Forbes, na Condé Nast, revistas da especialidade que posicionam Braga na liga dos campeões do turismo.

Isso pressupõe um aumento do fluxo de turistas à cidade. Ela está preparada ou teme que possa existir, no futuro, uma tensão entre população e turistas, entre turismo de lazer e turismo de negócios?

Felizmente ainda não é uma preocupação que devamos ter aqui na cidade. Braga tem registado esse crescimento que referi, mas tem‑no assimilado de forma bastante natural, não vivemos aquilo que acontece noutras cidades, de uma grande conflitualidade entre visitantes e residentes, não estamos a ter o esvaziamento do centro para se transformar num parque temático turístico. Continuam a conciliar‑se essas dinâmicas. O centro tem vindo a registar uma reabilitação enorme de edifícios históricos, e edifícios degradados para fins habitacionais, para serviços, comércio, não apenas para a área turística. No horizonte próximo são duas realidades que vão continuar a conviver pacificamente.

Nesta área do turismo, de forma mais abrangente, como é que quer ser recordado enquanto autarca?

Acho que este é um período em que espero que, desde logo em termos do momento presente, as pessoas se sintam felizes e cada vez mais felizes por morar na cidade de Braga e que sintam orgulho na evolução. Em termos de memória acho que o maior legado que um autarca, um governante, pode ter é daquilo que introduziu de novo, seja algo que ninguém queira voltar para trás. Nesse sentido, quer do ponto de vista da relação com os agentes, quer do ponto de vista da dinâmica da cidade, quer da envolvência dos cidadãos e da sua participação em todas as dinâmicas que a cidade vai tendo, essa transformação é de facto irreversível, e é o maior legado que posso deixar à cidade de Braga.

 

Cláudia Coutinho de Sousa