São os eventos a identidade de um território?

31-10-2017

A identidade de um território é algo pouco falado em Portugal, na realidade, são poucos os territórios que sabem o seu desígnio, para onde vão e onde querem chegar…

Para se entender a identidade de um território é necessário muito estudo, muita reflexão e uma estratégia a longo prazo, estratégia esta que tem de ser entendida por todos, desde os governantes a toda a estrutura governativa, bem como população.

O caso de Cascais é dado como exemplo a nível nacional e internacional, sabemos e respeitamos a nossa história, uma história pautada por bem receber e por todos acolher, mas não podemos viver agarrados à história. Necessitamos, essencialmente, de saber para onde ir… conhecemos o nosso desígnio e sabemos a nossa estratégia, e esta é entendida e sabida por todos e temos orgulho nisso!

O nosso desígnio é criar o “melhor sítio para viver um dia, uma semana ou a vida inteira”.

A estratégia implementada é sentida na estrutura da Câmara e do Turismo, é sentida nas ruas, nas obras, na comunicação, na promoção e claro está, nos eventos.

Mas são os eventos que fazem a identidade do território, ou é a identidade do território que capta os eventos?

Na realidade é uma mescla dos dois…

Em Cascais a aposta em eventos é clara e totalmente alinhada com a nossa estratégia, não são por acaso os eventos internacionais de Surf, Ténis, Cavalos, Vela, Golf, Cultura ou Conhecimento, em Cascais existe, efectivamente, um portefólio de eventos.

Sei que a expressão “portefólio de eventos” é um conceito pouco ouvido em Portugal, mas este, pensado e planeado ao pormenor, reflecte no seu conjunto a nossa estratégia, reflecte no seu conjunto o nosso desígnio, reflecte no seu conjunto também a nossa identidade.

Seria injusto pensar que os eventos internacionais são captados só porque sim, ou só porque temos a capacidade financeira para dar resposta às exigências destas organizações, ou porque simplesmente calhou…

Não, a realidade é que a identidade do território é fundamental na captação destes eventos conhecidos por todos, naturalmente também as infraestruturas criadas no passado, na origem da construção da identidade, são alavanca fundamental na captação destes grandes eventos.

Seria impensável para a America`s Cup vir para Cascais caso não existisse uma Marina e um Clube Naval com as condições para receber tal evento. Seria impensável para a America`s Cup vir para Cascais caso não existissem hotéis de 4 e 5 estrelas em quantidade para receber as maiores individualidades do Mundo e hotéis de qualidade para que as grandes marcas pudessem activar os seus produtos e também alojar os seus clientes.

Seria também impensável para o Longines Global Champions Tour, a maior prova mundial de Hipismo, que reúne nos seus cavaleiros e nos proprietários das equipas as maiores fortunas do Mundo, vir para Cascais caso não existisse a referida hotelaria de excelência, mas também um hipódromo de referência mundial, construído a pensar na estratégia, construído a pensar no desígnio do território.

Seria expectável que uma grande marca decidisse criar e investir num Festival Internacional de Cultura, numa qualquer cidade sem museus e equipamentos culturais de referência?

A resposta é simples… não! Não seria expectável, nem aconteceria.

O Festival Internacional de Cultura existe em Cascais porque existe um Bairro dos Museus e este tem 19 equipamentos culturais no seu perímetro.

Faria sentido a um Município criar e investir nas Conferências do Estoril, a maior e mais internacional conferência realizada em Portugal, trazendo ao nosso país conhecimento de topo mundial, com os maiores pensadores, académicos e políticos do Mundo, se não tivesse também uma estratégia de criação de conhecimento e de captação de centros de saber como a Universidade Nova de Lisboa?

Não faria qualquer sentido… porque é sabido que as “cidades que mais crescem são as que conseguem captar, fixar e desenvolver talento”.

Os eventos completam a identidade, os eventos ajudam na construção da identidade, os eventos fazem parte da identidade, mas os eventos por si só não são a identidade de um território.


Por Bernardo Corrêa de Barros
Vice-presidente do Turismo de Cascais