Sura Mota: “O ano da adaptação e reinvenção”

29-12-2020

Este foi um ano de reinvenção para muitas empresas.

Um ano que passou do oito ao oitenta, que passou de um “grande ano” para o setor dos casamentos para “a grande desilusão”. É desta forma que Sura Mota, da revista I Love Brides, especializada no setor dos casamentos, faz o balanço deste ano atípico.

Em entrevista à Event Point, Sura Mota traça o retrato do setor dos casamentos, fala do atual contexto que se revela em números “preocupantes” e das expectativas para o futuro próximo. Para a responsável da I Love Brides é importante passar uma mensagem de confiança ao mercado, a de que “é cada vez mais uma realidade a possibilidade de realizar casamentos em segurança”.


Que balanço faz de 2020? 

O ano de 2020 começou por passar do grande ano para o setor casamentos para a grande desilusão. Era um ano em que todos tínhamos elevadas expectativas, no que diz respeito ao sucesso das nossas empresas, perspetivando-se um equilíbrio geral muito saudável em todo o sistema económico. Temos como base para esta afirmação as reservas dos espaços e também o número de casamentos que se realizaram nos dois primeiros meses do ano 2020, janeiro (+12,10%) e fevereiro (23,88%), comparativamente com 2019. A partir de março, tudo mudou. Tivemos que enfrentar desafios que nunca sequer tínhamos equacionado, reinventarmo-nos e adaptarmo-nos a uma realidade que ia sendo descoberta todos os dias, com uma enorme incerteza no futuro, procurando balancear o melhor possível o interesse dos nossos clientes, colaboradores, fornecedores e parceiros. Foi, sem dúvida, o ano da adaptação e reinvenção.

Que números dispõem em termos de queda do setor? Que feedback têm do setor dos casamentos?

Os números que se conhecem são preocupantes. Fizemos um questionário aos profissionais do setor e, com base nas respostas, podemos afirmar que houve uma quebra de faturação das empresas diretamente ligadas e dependentes desta atividade na ordem dos 90%, e parecem-nos ser números muito realistas. Isto porque é preciso ter em conta que, apesar de ter havido períodos, durante o verão, de viabilização parcial da nossa atividade, a economia como um todo funciona com base num ingrediente fundamental, a confiança. No setor dos casamentos, este facto é ainda mais preponderante, dado que é uma atividade na qual os clientes depositam extrema expectativa. Estamos a falar de um dos dias mais importantes na vida das pessoas e, por isso, é normal que haja uma ansiedade suplementar, quando se compara com outras atividades. Para além disso, do lado dos convidados dos noivos, havia também o receio instalado de forma generalizada, no que à possível infeção diz respeito e, por isso, mesmo os casamentos que acabaram por acontecer tiveram dimensões muito menores do que se pode considerar normal, o que teve um enorme impacto nas receitas de todo o setor, como se pode facilmente compreender. Importa referir que os números do INE [Instituto Nacional de Estatística], embora provisórios, são diferentes. Muitos casais optaram por manter a data da oficialização da relação, deixando para mais tarde a celebração com amigos e familiares. É compreensível a divergência nos números entre a quebra na faturação e o número de casamentos/oficialização indicadas pelo INE. 

Quais são as medidas mais prioritárias, neste momento, para as empresas deste setor?

Este é um setor que vive de expectativa e confiança. Por isso, a primeira medida a tomar é passar uma mensagem de confiança ao mercado e todos os outros stakeholders do setor. Sim, é cada vez mais uma realidade a possibilidade de realizar casamentos em segurança. Seria uma atitude absolutamente irresponsável desconsiderar tudo o que tem aparecido de novo para a viabilização desta nossa atividade e de tantas outras fundamentais para o normal funcionamento da sociedade. Hoje sabemos muito mais desta doença do que sabíamos em março e abril e temos muito mais e melhores ferramentas para a combater. Falei já nos testes rápidos de antigénio, hoje feitos através de zaragatoa nasofaríngea, mas há que considerar também o surgimento de novas formas de asseverar a ausência de risco de transmissão em convívios interpessoais, como sejam os testes rápidos de antigénio através de saliva, com resultados promissores em testes clínicos, mas ainda testes rápidos de antigénio através da respiração, e mesmo os ‘self test’, já aprovados para utilização caseira nos Estados Unidos. Sem nunca perder de fundo o plano subjacente de vacinação para a Covid-19, que nos dará a ‘merecida tranquilidade’ no longo prazo. Resumindo, em primeiro lugar é preciso passar uma mensagem de confiança para a retoma da atividade em segurança e, em segundo lugar, é preciso consubstanciá-la e operacionalizá-la com base em inovadores e seguros planos de contingência, como de resto já está a ser feito noutros países, de onde destaco o caso do Reino Unido, que já aprovou a utilização de testes rápidos de antigénio para a realização de festivais de música.

Quais são as expectativas para o primeiro semestre do próximo ano?

Quando falamos de expectativas, e ainda mais a nível empresarial, devemos ter sempre a preocupação de ser realistas. E, por isso, devemos ser cautelosos na resposta. Diria que é seguro pensar que algures no início do primeiro semestre, depois de iniciado o programa de vacinação em Portugal, será aproveitado todo o ‘know how’ já adquirido e que já referi, para que possa ser criado um ‘novo normal’ que permita a retoma rápida e segura da atividade económica, durante o primeiro trimestre do ano, e que reverta todo o sofrimento pelo qual todos nós passamos no pesado ano de 2020.

 

Cláudia Coutinho de Sousa e Maria João Leite