De 2020 a 2021: Desafios e tarefas

28-01-2021

# tags: Eventos , Congressos , APECATE , Animação Turística

Não podemos falar de expectativas para 2021 sem analisar, mesmo que simplificadamente, o ano de 2020.

Chegamos ao fim do ano mais improvável da vida do turismo, e nem os melhores analistas conseguiram prever o que realmente se passou. Perante a situação, a APECATE reagiu na defesa do setor e dos seus associados.

De acordo com o balanço já partilhado, a ação da APECATE teve por base uma série de objetivos:

‑ Garantir a sobrevivências das empresas;

‑ Garantir a manutenção dos ativos das empresas, nomeadamente dos seus recursos humanos (os mais importantes) e da sua capacidade logística;

‑ Garantir a capacidade financeira e operacional das empresas;

‑ Trabalhar com todo o setor, associados e não associados;

‑ Reforçar a colaboração e a defesa no setor dentro da CTP, Confederação do Turismo de Portugal, elemento essencial de comunicação com o governo;

‑ Reforçar a comunicação com as outras associações do setor;

‑ Reforçar a comunicação com todas instituições da academia, reforçando parcerias e as ligações entre o setor empresarial e o setor da educação e investigação;

‑ Trabalhar com as diferentes instituições, organismos, ministérios e autarquias, que tutelam e interferem com o setor;

‑ Continuar a trabalhar com o Turismo de Portugal, no desenvolvimento de medidas que ajudem o setor a sobreviver;

‑ Trabalhar proximamente com a Secretaria de Estado do Turismo na defesa do setor, propondo medidas e soluções.

Foram muitos os problemas, as guerras, as reuniões, as discussões e sessões de trabalho, mas sempre na lógica de cumprir os objetivos traçados. Algumas vitórias, empates e derrotas, mas sem perder o foco.

Sabemos que, em tempos de crise, nem sempre o timing em que conseguimos obter soluções é o mais adequado, que algumas medidas são prometidas e não realizadas, outras já saem muito tarde, algumas das nossas propostas são recusadas, etc., mas tudo isso não nos demove de continuar a lutar pelo setor.

Da nossa luta, para além das medidas de apoio como o reforço de tesouraria, lay‑off, etc., que foram extensíveis a todo o setor do turismo (onde atuamos principalmente através da CTP), podemos destacar como ações mais específicas: o Grupo Interministerial para a Animação Turística, a lei da abertura das praias, o Despacho n.º 7900‑A/2020, que permitiu o esclarecimento e funcionamento dos eventos, em agosto, o Selo Clean & Safe para o setor dos congressos e eventos, entre outras menos visíveis.

No entanto, apesar de todos os imprevistos e da situação atual, que é muito complicada, se conseguirmos um distanciamento racional do que se passou podemos retirar algumas conclusões.

Todos sabemos que o setor do turismo é muito permeável, como é transversal, e qualquer problema social, ambiental, económico ou de saúde afeta diretamente o turismo, sendo esta crise um desafio enorme para os empresários. No imediato a aposta foi, e é, sobreviver, conseguindo manter a capacidade operacional (recursos humanos, materiais e económicos).

Com esta crise, as fragilidades do setor ficaram ainda mais realçadas e a necessidade de as trabalhar ganhou ainda mais importância.

O facto de não existir um setor de congressos e eventos claramente definido em termos de questões legais (a falta de um registo para o setor dos congressos e eventos), quer a sua interligação com o setor da cultura e dos espetáculos, levou a que o governo não tenha tido as melhores respostas, quer em termos de timing para a saída das medidas, quer nas próprias medidas, excluindo muitas empresas nos apoios publicados. Esta é uma velha luta da APECATE, mas que no atual contexto se revelou ainda mais pertinente.

No setor da Animação Turística, os problemas de fundo também interferiram com a capacidade de o setor resistir, a transversalidade dos programas que nos levam a ter de articular com 11 tutelas, mais as autarquias, e apesar do avanço que foi a criação do Grupo de trabalho interministerial, os eventuais resultados só se vão ver mais para o final de 2021.

Mas, apesar de tudo isto, a APECATE e o setor não deixam de lutar, mostrando uma resiliência notável, destacando‑se pela positiva. Deste já longo combate, retiramos algumas ilações que são importantes referir, sendo a primeira a necessidade de união, não só dos associados, mas de todo o setor. As estratégias separatistas e individuais não são o caminho, só criam dispersão e enfraquecimento quando temos de disputar os poucos recursos ou provocar mudanças legislativas.

A segunda é não abandonar a luta pela necessidade imperiosa de reforçar os apoios de tesouraria e o acesso aos diferentes programas de promoção e desenvolvimento que garantam a sobrevivência das empresas.

Em 2021, o cenário mudou e não vai voltar a ser o que era. A gestão de risco tem uma nova dimensão, a da saúde, das respostas às ameaças de pandemias generalizadas. Em conformidade, vão existir ajustamentos no modo de fazer congressos, eventos e animação turística. Quando for possível viajar, conviver com o mínimo de restrições, vamos ter de manter alguns cuidados básicos, planos de gestão de risco e programas B, onde a questão da pandemia vai ser muito presente.

Certamente que, a partir de 2021, vamos passar a ter muitas mais reuniões via web, eventos completamente virtuais e outros híbridos, mas a força da necessidade da relação humana, do poder reagir com estímulos dos nossos cinco sentidos, vai continuar a ser dominante. Os programas presenciais vão ser mais exclusivos, importantes, e isso será uma oportunidade de valorizar, tendo, por isso mesmo, de apostar na qualidade e segurança.

Para isso, o setor tem de melhorar a qualidade dos seus serviços, aproximar os seus produtos das necessidades, criar parcerias mais fortes com outras empresas alargando a oferta, ganhando escala, melhorando a comunicação com os clientes, apostar no ganho de dimensão internacional, sem esquecer a sustentabilidade e a rentabilidade dos programas e eventos.

Vamos apostar ainda mais em eventos e programas de animação turística personalizados, sustentáveis e sociais.


© António Marques Vidal Opinião

Presidente da APECATE e diretor da Margens

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