Teleponto: da televisão para os eventos

Opinião

08-10-2025

# tags: Comunicação , Eventos , Tecnologia

O teleponto é, hoje em dia, uma ferramenta tecnológica essencial que permite a leitura de textos de forma discreta, garantindo fluidez e contacto visual em apresentações.

A sua evolução começou na televisão, migrando para a política e, mais recentemente, para os eventos corporativos, ajudando em comunicações profissionais.

O teleponto surgiu nos anos 1950 como uma solução para atores e apresentadores de televisão, que precisavam de memorizar falas longas sem interromper o fluxo das gravações. Inicialmente, consistia em rolos de papel com textos movidos manualmente, posicionados em frente à câmara, permitindo que o orador lesse enquanto olhava diretamente para a lente.

Essa inovação foi impulsionada pela necessidade de naturalidade nos programas em direto, como noticiários, onde o espelho semitransparente refletia o texto sem bloquear a captura de imagem pela câmara. Com o avanço tecnológico, os rolos de papel foram substituídos por ecrãs e softwares que controlam a velocidade do texto, ajustando-se ao ritmo da fala.

O teleponto também foi adotado pelos políticos para entregar mensagens complexas com clareza e confiança, especialmente em convenções e assembleias. Nos Estados Unidos, o presidente Dwight Eisenhower foi pioneiro no uso do teleponto em discursos televisionados.

Em Portugal, a 8 de janeiro de 1969, Marcelo Caetano apareceu no ecrã pela primeira vez a falar diretamente com o telespetador, naquele que é o primeiro de 16 programas chamados ‘Conversas de Família’. O então Presidente do Conselho falava ao país, depois do aval de Ramiro Valadão, homem forte da RTP, numa tentativa de dar um toque de modernidade.

Ainda que monocórdico, o programa acabou por revolucionar a televisão portuguesa, uma vez que foi no ‘Conversas em Família’ que se usou um teleponto pela primeira vez. O aparelho, que nem no Telejornal era usado, foi a forma encontrada pela equipa de produção para que as falas e os gestos do primeiro-ministro parecessem mais naturais.

Com a digitalização, o teleponto migrou para o mundo corporativo, adaptando-se a conferências, formações e vídeos institucionais, inspirados na sua precisão política.

Existem dois tipos de teleponto. O teleponto de câmara, que é fixado na frente da lente da câmara, reflete o texto num espelho semitransparente, permitindo que o apresentador leia enquanto olha diretamente para a câmara. É comum em estúdios de televisão.

Existe ainda o teleponto presidencial, que é posicionado em suportes no chão, usado em discursos políticos, com ecrãs espelhados para uma leitura sem desviar o olhar do público. É ideal para eventos e permite manter o contacto visual. Hoje, versões compactas e apps para smartphones permitem que executivos leiam guiões em diretos ou webinars, mantendo a naturalidade e reduzindo o stress da memorização de longos textos.

Problemas, como leituras ‘robóticas’, são mitigados com prática e formação (media training), e é essencial, na minha opinião, haver redundâncias, como ter sempre uma cópia impressa no caso de haver falhas técnicas.

Foi recentemente notícia o discurso do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), onde destacou questões técnicas relacionadas com o equipamento, gerando debate sobre falhas, sabotagem e o impacto na entrega da mensagem política.

Sendo conhecido por um estilo de discurso improvisado, Donald Trump recorre ao teleponto em discursos formais para manter precisão e coesão. Durante o seu discurso, o teleponto falhou logo no início, forçando-o a improvisar por cerca de 15 minutos até que o equipamento começasse a funcionar.

Sem o teleponto, Trump adotou um tom mais improvisado, desviando para tópicos como imigração e mudanças climáticas. Estudos indicam que oradores dependentes de telepontos perdem até 20% de fluidez ao improvisar, afetando a perceção e a credibilidade. Em setups de alta segurança, como os usados pela equipa da Casa Branca, o controlo é quase sempre assegurado pela equipa do orador para evitar manipulações externas.

Falhas como esta destacam a importância de ter redundâncias, como cópias impressas do discurso (que Trump usou inicialmente) e testes pré-discurso. As falhas comuns incluem interrupções elétricas, erros de software ou interferências ambientais, como aconteceu com um discurso de José Sócrates em 2011.

Sócrates preparava-se para entrar na sala da Exponor. Os militantes já estavam todos de pé. Gritavam e agitavam bandeiras de Portugal. Foi nessa altura que um dos vidros do teleponto estilhaçou com um toque da haste de uma bandeira. O vidro do lado direito foi imediatamente retirado e Sócrates teve de fazer todo o discurso virado para o lado esquerdo. A notícia no dia seguinte era que José Sócrates tinha virado o discurso para a esquerda.

Qual a vantagem de utilizar um teleponto num evento?


Usar um teleponto num evento pode trazer várias vantagens tanto para os apresentadores quanto para o público. Aqui estão algumas delas:

Facilita a comunicação. Permite que os apresentadores falem de forma mais natural, mantendo contato visual com o público em vez de olhar para notas ou papéis, ajudando a garantir que o discurso seja consistente e que nenhum ponto importante seja esquecido.

Reduz o nervosismo. Os apresentadores podem sentir-se mais confiantes sabendo que têm suporte visual para o seu discurso. Minimiza pausas desconfortáveis ou hesitações, mantendo a apresentação fluida.

Gestão do tempo. Ajuda a controlar o tempo da apresentação, pois os textos podem ser ajustados para seguir um ritmo específico. Facilita adaptações em tempo real, caso haja necessidade de ajustes no conteúdo apresentado.

Impressionar o público. Demonstra preparo e organização, o que pode causar uma impressão positiva no público. Melhora a qualidade geral da apresentação, tornando-a mais envolvente e convincente.

Inclusão. Pode ser usado para fornecer suporte adicional a apresentadores que tenham dificuldades de leitura ou memorização, promovendo a inclusão.

© Vítor Hugo Opinião

Consultor técnico

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