Luísa Magalhães: “Diversidade de experiências fortaleceu a minha resiliência e autonomia”
05-11-2025
# tags: Eventos , Passaporte Português
A trabalhar no Reino Unido, Luísa Magalhães considera que “viver e trabalhar noutros países é uma das formas mais ricas de crescimento pessoal e profissional”.
Luísa Magalhães é Senior Account Manager na SFA-Connect, uma consultora britânica especializada no apoio a convention bureaux e entidades de turismo. Mas até aqui chegar passou por vários países.
A história no mundo dos eventos começa depois do estudo de Promoção Turística na Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril. Em 2007, deu início à sua carreira profissional no setor da organização de eventos, em Portugal, tendo começado como gestora de eventos na Silva Carvalho Catering e, depois, como executiva de vendas, com foco nos segmentos MICE e corporativo, no Hotel Cascais Miragem.
Em 2012, deu início à sua trajetória internacional. Trabalhou em Angola (HCTA – Talatona Hotel & Convention Centre), nos Emirados Árabes Unidos (Rotana, Hilton Abu Dhabi e Abu Dhabi National Exhibition Centre) e, em 2019, regressou à Europa e rumou ao Reino Unido, onde fez parte das equipas do Olympia London Exhibition Centre, do Turismo de Singapura em Londres e, desde setembro de 2024, da SFA-Connect, onde assume “um papel estratégico na gestão de contas institucionais, assegurando a consultoria a diversos convention bureaux na captação de congressos internacionais para os seus destinos”, conta.
“Ao longo da minha carreira, tive a oportunidade de trabalhar em diversos países — Portugal, Angola, Emirados Árabes Unidos, Reino Unido e, indiretamente, em Singapura —, o que me proporcionou uma visão global da indústria do turismo, do marketing de destinos e da organização de eventos, bem como uma sólida capacidade de adaptação a contextos multiculturais e dinâmicas de mercado distintas”, afirma.
Luísa Magalhães não tem dúvidas de que o facto de ter trabalhado numa grande variedade de projetos e em diferentes países foi “fundamental para o meu crescimento, tanto a nível profissional como pessoal”.
“Cada experiência trouxe novos desafios, contextos culturais distintos e formas diversas de trabalhar, permitindo-me desenvolver uma visão global e uma maior adaptabilidade. Trabalhar em mercados variados proporcionou-me um conhecimento aprofundado das melhores práticas internacionais, assim como a capacidade de gerir projetos complexos em ambientes multiculturais”, acrescenta.
Viver e trabalhar além-fronteiras permitiu-lhe, a nível pessoal, “expandir horizontes, conhecer pessoas com perspetivas diferentes e enriquecer a minha forma de estar no mundo. Essa diversidade de experiências fortaleceu a minha resiliência e autonomia”.
“Experiências moldaram a minha forma de trabalhar e de liderar”
A vontade de trabalhar fora de Portugal era “forte”, sentiu-a desde cedo, e não surgiu apenas pelo interesse pelas línguas estrangeiras, “mas também de uma curiosidade natural pelo mundo e pelas diferentes formas de estar, trabalhar e comunicar”.
Luísa Magalhães acredita que “viver e trabalhar noutros países é uma das formas mais ricas de crescimento pessoal e profissional. Proporciona-nos uma perspetiva mais alargada, desafia-nos a sair da zona de conforto e permite-nos desenvolver uma maior capacidade de adaptação e empatia”, frisa.
Nestas experiências, pôde aplicar os conhecimentos linguísticos, “não apenas como ferramenta de comunicação, mas como ponte entre culturas”. Ao longo do seu percurso, colaborou com equipas multiculturais, o que lhe deu a oportunidade de “compreender realidades muito distintas e de aprender a valorizar pontos de vista diversos. Essas experiências moldaram a minha forma de trabalhar e de liderar”.
Acima de tudo, continua, trabalhar fora de Portugal permitiu-lhe “crescer como uma profissional mais completa, com uma visão global, mas com raízes e valores que continuo a valorizar profundamente”, sublinha.
Trabalhar neste setor é “uma forma de contribuir para algo maior”
A sua passagem pela Silva Carvalho Catering “foi, sem dúvida, uma das experiências mais marcantes” do início do percurso profissional, pois lá teve o “primeiro contacto direto e consistente com o mundo dos eventos e congressos, e onde desenvolvi uma verdadeira paixão por este setor”.
Destaca Sílvia Carvalho, então sua diretora, por ter tido “um papel fundamental neste percurso”. “Foi uma líder inspiradora, que me apoiou incondicionalmente desde o primeiro dia, transmitindo-me conhecimento, confiança e, acima de tudo, entusiasmo pelo trabalho que fazíamos. A sua dedicação, profissionalismo e capacidade de liderança deixaram uma marca profunda em mim”, refere Luísa Magalhães, que realça ainda a “equipa fenomenal” da qual fez parte e com quem aprendeu “não só sobre a organização de eventos, gestão de clientes e operação logística, mas também sobre a importância do trabalho em conjunto, da comunicação clara e do respeito mútuo”.
Lá, apaixonou-se pelo universo dos eventos, um setor que sempre a fascinou – em especial, a área dos congressos no mercado das associações – “pela sua capacidade única de gerar impacto real e duradouro nos destinos que os acolhem”.
“O que mais me atrai nesta área é precisamente o seu potencial transformador. Um congresso pode deixar um legado significativo no destino onde se realiza – seja pela dinamização da economia local, pelo reforço da notoriedade do destino junto de públicos altamente qualificados, ou ainda pelo contributo direto para áreas científicas, académicas ou industriais relevantes para a região.”
Para Luísa Magalhães, trabalhar neste setor é “uma forma de contribuir para algo maior, ajudando a construir pontes entre cidades, ideias e comunidades.” E é também “estar constantemente a solucionar problemas”.
Luísa Magalhães lembra a situação mais desafiadora que enfrentou e que aconteceu durante o período da pandemia. “Na altura, toda a indústria de eventos sofreu um impacto brutal, com cancelamentos em massa e uma enorme incerteza sobre o futuro dos congressos e conferências presenciais.”
Todos os planos tiveram de ser adaptados, “respeitando as restrições e prioridades de saúde pública”, e os eventos presenciais tiveram de migrar para formatos híbridos ou completamente digitais, “algo que, até então, nunca tínhamos feito”. “Esta experiência ensinou-me a importância da flexibilidade, da resiliência e da inovação no setor dos eventos”, indica.
Ser portuguesa “sempre me abriu portas, onde quer que esteja no mundo”
Luísa Magalhães valoriza muito a oportunidade de trabalhar em vários países. Mas essa “mobilidade profissional” traz desafios. “Estar longe da família é, sem dúvida, um dos maiores desafios. A ausência nos momentos importantes – sejam eles de celebração ou de dificuldade – pesa, e há sempre um esforço constante para manter o contacto próximo.”
Outros desafios passam pela “adaptação a diferentes formas de trabalhar” – um “aspeto exigente”, pois “cada país tem a sua cultura profissional, os seus ritmos, as suas expectativas e formas de comunicação” –, e também pelo facto de ter de “construir, a cada nova mudança, uma nova rede de relações… pessoais e profissionais”.
“Ao mesmo tempo, procuro sempre manter vivas as amizades e ligações que fui construindo em Portugal e nos vários países onde vivi. Essa ‘rede global’ de afetos é preciosa, mas exige dedicação para que se mantenha forte ao longo do tempo”, sustenta.
Perante os desafios e as suas aventuras além-fronteiras, Luísa Magalhães garante que ser portuguesa é um orgulho e uma vantagem. “Portugal é um país com uma herança histórica rica, uma cultura de abertura ao mundo e uma identidade marcada pela capacidade de adaptação, resiliência e empatia. Vimos de um povo que sempre soube navegar o desconhecido e estabelecer pontes com outras culturas”, explica.
“Como portuguesa, trago comigo uma capacidade muito própria de encontrar soluções, mesmo perante os desafios mais complexos. Estamos habituados a fazer muito com pouco, a sermos criativos, trabalhadores e determinados. Além disso, acredito que a forma calorosa e humana com que comunicamos e criamos relações é também um trunfo”, refere, acrescentando: “Ser portuguesa é, para mim, algo que sempre me abriu portas, onde quer que esteja no mundo.”
“Portugal não fica nada atrás de outros países no setor dos eventos”
Luísa Magalhães olha para o setor dos eventos em Portugal “com grande orgulho e otimismo”, especialmente quando o compara com os mercados internacionais onde trabalhou. O país “tem vindo a afirmar-se de forma muito sólida no mercado global das associações, como comprovam os rankings da ICCA, onde cidades portuguesas, como Lisboa e Porto, ocupam posições de destaque”.
Realça a “enorme qualidade nas infraestruturas e serviços” que existe em Portugal, bem como a “grande capacidade de acolher eventos de grande dimensão e complexidade”. “Na minha perspetiva, Portugal não fica nada atrás de outros países no setor dos eventos; pelo contrário, a sua oferta é rica e diversificada, com espaços modernos e bem equipados, uma hospitalidade reconhecida mundialmente, uma cultura e gastronomia de excelência e uma mão-de-obra altamente qualificada.”
Assim, o regresso a Portugal está “definitivamente” nos seus planos, “até porque, após representar outros países, o sonho é, sem dúvida, representar o meu país e contribuir para o desenvolvimento do setor dos eventos e do turismo em solo nacional. Portugal é o meu país, onde estão as minhas raízes e, acima de tudo, o meu orgulho.”
Além disso, valoriza profundamente estar perto da família. “A distância traz desafios emocionais e pessoais que só quem vive longe sabe como são, e estar junto daqueles que mais amo é uma prioridade para mim”, frisa.
Aos profissionais que pretendem trabalhar em eventos além-fronteiras, Luísa Magalhães deixa um conselho: “Estar sempre aberto a aprender e a adaptar-se. Trabalhar fora do país exige flexibilidade, curiosidade cultural e uma vontade de sair da zona de conforto. Cada mercado tem as suas particularidades, maneiras diferentes de fazer negócios e de organizar eventos, por isso, ouvir atentamente e respeitar essas diferenças é fundamental. Além disso, construir uma rede de contactos sólida e diversificada é uma das chaves para o sucesso”, conclui.
© Maria João Leite Redação
Jornalista
