Congresso da APAVT: “Uma luta constante”
01-12-2021
# tags: Eventos , APAVT , Turismo
A luta nos dois últimos anos foi “constante” no setor do turismo, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, na abertura do 46º Congresso da APAVT – Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo, que está a decorrer no Centro de Congressos de Aveiro, até ao dia 3 de dezembro. O Presidente da República recordou o “heroísmo” e o papel “fundamental” dos profissionais do setor.
Marcelo Rebelo de Sousa referiu que não é por acaso que Aveiro recebe o congresso da APAVT e outros grandes eventos, já que “Aveiro, para além da sua posição geograficamente central, é uma terra de liberdade, é uma terra de fraternidade, é uma terra de solidariedade, é uma terra de iniciativa, é uma terra de homogeneidade social, de equilíbrio entre a terra e o mar, é uma terra de abertura, de abertura à Europa, de abertura ao mundo. E precisamente o que estamos aqui a celebrar hoje, neste congresso, é a abertura e o turismo é abertura”.
O Presidente da República referiu que todos sabem como foi “fundamental” o papel dos agentes de viagens, bem como foi “enorme” o seu heroísmo nos dois últimos anos. “Foi e é”, sublinhou. “Visitei várias regiões do país e pude verificar, em cada desconfinamento, em cada abertura, em cada pequeno passo em frente seguido de um passo atrás, mas depois de novo um passo em frente, na imprevisibilidade de se poder, durante muito tempo, sonhar o futuro e projetar o futuro, eu pude testemunhar o que foi o vosso papel para aguentar o emprego, para manter as empresas, para garantir clientes, para oferecer programas e projetos, para recriar o que estava anteriormente pensado, com condições diferentes, com custos reduzidos.”
“Isto foi uma luta constante. Costumo dizer que, quando perguntam qual foi a decisão mais difícil que tive no meu primeiro mandato foi, de longe, a declaração do Estado de Emergência” e a sua renovação, acrescentou. “É mil vezes mais complexo do que dissolver uma Assembleia da República, porque é ponderar os custos para os direitos das pessoas, para a liberdade das empresas, para a atividade de cada qual, para a saúde mental de cada uma das famílias, das comunidades.”
Sobre a pandemia, Marcelo Rebelo de Sousa lembrou os números deste ano e do ano passado e apontou as diferenças que existem relativamente ao número de internados, de pessoas nos cuidados intensivos e de mortos. “A diferença chama-se vacinação”, afirmou, adiantando que ainda se está a estudar a letalidade da nova variante, o que justifica as precauções que arrancam agora em dezembro. “É preciso ter a cabeça fria. Uma coisa é saber cumprir as restrições sanitárias e prevenir para não ter de remediar, outra coisa é esquecer aquilo que fazemos e vamos fazer de vacinação e entrar pelo alarmismo, quando o que se precisa é de serenidade, é de ponderação, é de determinação, num processo de abertura que iniciamos e que queremos prosseguir e que queremos continuar.”
Sobre a economia portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa adiantou que, sempre que foi possível a abertura, “reagiu imediatamente de forma positiva”. No terceiro trimestre deste ano o crescimento foi de 4,2%, “um crescimento superior ao que muitos esperavam”. Prevê a OCDE para o próximo ano 5,8% de crescimento e, em 2023, claramente acima dos 10%. “Isto significa uma capacidade inventiva, de recriação das nossas empresas, dos nossos empresários, que é excecional, porque não é só a luta pela sobrevivência, não é só a resiliência, não é só o saber resistir, como antigamente se dizia, é um saber reconstruir, é o ter começado a reconstrução. E o setor do turismo é claro nisso.” E será que o facto de não termos um Orçamento de Estado não vai atrasar o crescimento económico? “A visão da OCDE é de que não.”
“Portugal é um lugar seguro, é seguro em termos de segurança das pessoas, é seguro em termos económicos e sociais, é seguro na cordialidade, na empatia e na hospitalidade, é seguro em termos de mobilidade de circulação e de aceitação intercultural.” E são estes os motivos que fazem o turismo crescer.
Marcelo Rebelo de Sousa foi dando resposta a algumas questões levantadas no decorrer da cerimónia de abertura do congresso, que se prenderam com a questão do novo aeroporto, da ferrovia ou da TAP. “Um aspeto positivo de haver eleições é o de se esperar da parte daqueles que concorrem às eleições que clarifiquem as suas posições sobre esta matéria”, para que não haja “angústias” no decorrer do mandato.
O Presidente da República lembrou os 71 anos da APAVT, que já viram muito neste caminho, no qual só faltava uma pandemia. “Isso dá-vos uma resistência excecional”, afirmou, acrescentando ainda que, nos próximos anos, temos razões para acreditar no turismo. Vêm aí grandes eventos internacionais para Portugal, como a Conferência Universal dos Oceanos, em 2022, ou a Jornada Mundial da Juventude, com a vinda do Papa Francisco, em 2023, exemplificou. “Não faltam, nem faltarão, razões para que o vosso papel venha a ser essencial na economia portuguesa.”
“Este congresso é também um grito contra o medo”
“Felizes e agradecidos” com a presença do Presidente da República, assim referiu Pedro Costa Ferreira, presidente da APAVT, que destacou ainda o “entusiasmo, a alegria, profissionalismo e espírito de realização” da cidade de Aveiro, que acolhe o evento.
“O setor chega ao dia de hoje com razões para festejar e motivos para exigir”; celebrar a capacidade de resistência, o sofrimento que passou, os desafios ultrapassados, apesar das “perdas violentas” que aconteceram pelo caminho. Pedro Costa Ferreira sublinhou que houve um conjunto de apoios que foram “fundamentais, apesar de insuficientes”.
Para o presidente da APAVT, é “imprescindível” não permitir que o setor morra na praia, pelo que o setor exige apoio. “Porque todo o apoio que tivemos, ou que venhamos a ter, teve, tem e terá origem nos nossos impostos, logo no nosso dinheiro, portanto, no nosso trabalho.”
Todos sabemos que é o turismo que vai liderar a recuperação económica”, frisou o presidente da APAVT, que, por outro lado considera que “a retoma será lenta, desigual e assimétrica” e que este “é o momento de maior risco para o setor e para a recuperação económica do país”, pelo que era esperado dos políticos “mais capacidade de entendimento, mais foco nos problemas reais das pessoas e das empresas, mais criatividade e capacidade de construção das soluções necessárias, e não a emergência de uma crise política”, a propósito da não aprovação do Orçamento de Estado e consequente dissolução da Assembleia da República.
Pedro Costa Ferreira lembrou que, hoje, as empresas estão ainda mais frágeis, “logo ainda mais necessitadas de apoio”. Sublinhou também que, em 2019, o setor representava 2,5% do PIB em Portugal, um valor acrescentado bruto de 4,5 mil milhões de euros, “um setor com uma dimensão significativa”.
A APAVT mostra-se ciente da importância das parcerias, da integração e da colaboração, no sentido de contribuir, construir, “com a firme convicção de que o setor necessita de união de esforços apesar das diferenças de opinião, de uma resposta comum que proteja e projete aquilo que nos une, naturalmente, muito mais importante do que aquilo que nos separa”.
Numa espécie de resumo sobre as questões ainda por resolver no setor, Pedro Costa Ferreira lembrou questões como a da solução aeroportuária, da TAP e da SATA – “o país vai precisar das suas companhias aéreas, contem connosco para construir” –, e a da ligação ferroviária.
A terminar, Pedro Costa Ferreira referiu que o congresso se realiza numa altura em que a incerteza volta a aumentar. “A chuva parece querer voltar a cair sobre as nossas cabeças. Desejo que todos tenhamos a inteligência de segurar, uma vez mais, o nosso guarda-chuva, mas sobretudo que tenhamos a solidariedade de abrigar debaixo do nosso guarda-chuva o maior número de pessoas. As dúvidas voltaram, vamos precisar outra vez uns dos outros para afastarmos o medo. Este congresso é também um grito contra o medo”, concluiu.
“O futuro do nosso país e da nossa economia passa pelo turismo”
Francisco Calheiros, presidente da Confederação do Turismo de Portugal (CTP), agradeceu a presença de Marcelo Rebelo de Sousa, destacando a sua atitude “incansável” e “com preocupação constante” que o Presidente da República tem em relação ao setor. “Continue a ser o grande aliado do turismo, que esta gente toda agradece.” Agradeceu também à secretária de Estado do Turismo, Rita Marques. “Estamos habituados a ver muitos políticos que anunciam dez medidas e concretizam uma e a Engenheira Rita Marques anuncia uma e concretiza dez”, pelo que manifestou a vontade de ver Rita Marques novamente no cargo, depois das eleições legislativas.
Para Francisco Calheiros, “temos de estar unidos” e “temos todos de caminhar mais juntos”. O presidente da CTP deixou vários desejos: “que a pandemia seja debelada o mais rapidamente possível, para voltarmos à normalidade, que tanto necessitamos e que tanto desejamos”; e que, sobre o novo ciclo político, o próximo Governo seja de “estabilidade” e que, a seguir às prioridades das Finanças e da Saúde, “seja um Governo da Economia e das empresas” e que “faça um bom aproveitamento dos fundos comunitários”. A terminar sublinhou: “O futuro do nosso país e da nossa economia passa pelo turismo.”
“Mais importante do que o destino é a viagem”
Foi com humor que José Ribau Esteves, presidente da Câmara Municipal de Aveiro, fez a sua intervenção no congresso da APAVT. Começou por frisar a importância do reencontro – que é também o tema do evento –, e apontou o “problema grave” do congresso: “Estamos com um ano de atraso e um ano de atraso é, de facto, relevante. Mas um dos ensinamentos que nos deixou Eduardo Lourenço é que mais importante do que o destino é a viagem. E não há viagem que cumpra o cronograma em absoluto.”
Para José Ribau Esteves, é importante estimular o Presidente da República “para que ele não permita, depois de 30 de janeiro, que os dois verbos que a política portuguesa inventou nas últimas décadas, e que a gramática da vida dos portugueses não adotou, não sejam parte da vida dos próximos quatros anos da pátria. Que o verbo ‘Guterrar’ e ‘geringonçar’ não façam parte dos quatro anos da próxima fase política. Temos de voltar aos velhos verbos” – realizar, fazer, executar, concretizar, “estes são os verbos que nos interessam”.
O presidente da Câmara Municipal da Aveiro falou ainda da candidatura da cidade a Capital Europeia da Cultura 2027, sublinhando que “a cultura portuguesa, que vai da ponta norte de Viana do Castelo à ponta sul de Faro, passando pelo Funchal e por Ponta Delgada, que se ponha na cabeça de quem governa que a cultura portuguesa não é Lisboa, que a cultura portuguesa não são certos setores”. Frisou também que as candidaturas de norte a sul e ilhas são um estímulo à Portugalidade.
Aveiro acende no primeiro dia de dezembro a iluminação de Natal na cidade. Para José Ribau Esteves, as luzes não são acesas para melhorar o comércio, mas para “engraxar o menino Jesus”, para que “ele nos ajude a enaltecer o valor da vida”.
Jornalista viajou a convite da APAVT
© Maria João Leite Redação
Jornalista