Nuno Ribeiro: “O que me move é o desafio, a sensação de superação”

Entrevista

08-05-2024

# tags: DMC , Eventos , Meetings Industry

Ligado à dinâmica dos eventos desde jovem, e “por carolice”, Nuno Ribeiro começou por organizar festas e pequenos festivais em várias associações. Hoje é managing director da One Event.

Toda esta vontade de realizar levou Nuno Ribeiro para a indústria dos eventos, atividades outdoor e turismo, nos quais trabalhava de forma paralela à sua atividade profissional. “Até decidir que era na área dos eventos que queria trabalhar. Na época, não havia cursos especializados em Eventos e, como tal, fui estudar para o Estoril, onde me licenciei em Gestão de Lazer e Animação Turística, que tinha uma vertente interessante de Eventos”, explica Nuno Ribeiro, que estagiou na Realizar, “à altura, uma das maiores empresas de eventos do país”, e onde acabou por ficar a trabalhar vários anos, antes de avançar com a sua própria empresa, a One Event.

Quem é do meio conhece a falta de monotonia existente na indústria. “O que me move é o desafio, a sensação de superação e a adrenalina do dia do evento. É um tipo de stress que é viciante e que nos leva a tentar sempre ir mais além”, sublinha.

Nuno Ribeiro gosta da complexidade da indústria dos eventos. “Trata-se de uma indústria exigente, em que temos de ter um constante esforço comercial, sermos criativos e, ao mesmo tempo, ter uma boa estrutura operacional para implementar os projetos.

Por outro lado, não agrada a Nuno Ribeiro “a falta de valorização e reconhecimento desta indústria”. “Nós, como DMCs, que muitas vezes somos os primeiros responsáveis por trazer grupos e eventos para Portugal, não somos valorizados”, lamenta.

O pico na minha carreira de Hollywood”

Nuno Ribeiro não tem dúvidas em apontar a organização das cerimónias do Campeonato Africano das Nações, em Angola, em 2010, pela Realizar, como o evento mais marcante do seu trajeto profissional. “Foi uma experiência única, pela escala do evento e complexidade, mas também pela exigência a nível pessoal. Angola estava a começar a abrir ao mundo e, como tal, muitos serviços e/ou produtos básicos não havia ou eram desmesuradamente caros”, descreve, acrescentando: “Foram vários meses a trabalhar neste projeto, onde tivemos equipas de Portugal, Angola, Espanha, Alemanha e Estados Unidos.”

Nuno Ribeiro gostou muito de fazer parte da organização do Realizar um Sonho SIM, um evento organizado na Praça do Comércio, em 2011, que consistia em criar a maior imagem com velas acesas do mundo, alcançando o recorde do Guinness. A ação tinha como objetivo a angariação de fundos para uma instituição de realização de sonhos para crianças com doenças graves.

“Foi um evento duro, por ser um evento público, com TV em direto, concertos, atividades paralelas, imensas pessoas, e por ser feito na rua em pleno dezembro. Foram cerca de 50 mil velas acesas nesse dia, que criaram uma imagem impressionante com a praça toda iluminada. Este evento deu-nos a oportunidade de ajudar várias crianças e teve um impacto tremendo para esta instituição com televisão em direto todo o dia”, afirma.

O diretor da One Event recorda o caso de um evento que podia ter corrido menos bem: um incentivo para um grupo de cerca de 360 pessoas, que decorreu no ano passado, “em que fizemos provavelmente o maior voo de balão de ar quente já feito em Portugal”, com 27 balões a voar ao mesmo tempo. “Por se tratar de um voo de balão de ar quente já implica várias incertezas, principalmente pela meteorologia”; além de toda a logística envolvida no transporte dos participantes de Lisboa para o Alentejo. “Em alguns minutos, colocar todos nos balões para levantar foi um desafio grande.”

Contudo, o problema chegou no dia anterior ao evento, quando já estava tudo preparado e os participantes levantavam as pulseiras com a informação de autocarro, a zona de embarque, e outros pormenores. Havia erros na lista dos participantes, pelo que, nesse dia e nessa noite, foi preciso “reajustar as pessoas nos balões, o que significa mais do que trocar lugares”; é também “a gestão dos pesos em cada um dos balões, em modo ‘Tetris’, para que tudo encaixe”. “Estes ajustes de última hora criaram alguma insegurança em toda a equipa, mas o evento acabou por ser um sucesso tremendo”, sublinhou.

No mundo dos eventos, não há só preocupações. Há também momentos engraçados e inesperados. Para Nuno Ribeiro, um desses aconteceu quando conheceu o duplo do ator Chuck Norris. Tudo aconteceu no Campeonato Africano das Nações. “Para o jogo da final, tivemos uma dupla de ‘rocketmen’ que iam entregar a bola do jogo e a taça de campeão. Tratava-se de uns jetpacks em que as pessoas realmente voavam. Foi algo impressionante.”

Este momento foi feito por uma equipa americana, cujo dono e antigo ‘rocketman’ foi o duplo do Chuck Norris.

Nuno Ribeiro foi receber a equipa ao aeroporto. Ao chegarem, o responsável diz-lhe: “Agora vamos voltar a entrar no aeroporto. Estes dois cameramen ficam aqui a filmar e recebes-nos como se estivéssemos a chegar.” “Este foi o pico na minha carreira de Hollywood. Depois de assinar todos os documentos de autorizações, explicaram-me que era a primeira vez que iam ter dois ‘rocketmen’ a voar e estavam a fazer um documentário sobre isso”, explica.

A história termina na cerimónia do evento. “No momento em que tinham de voar, um dos ‘jetpacks’ teve um problema e levantou voo fora de timing, retirando o impacto de ter os dois a voar ao mesmo tempo. Por isso, acho que o meu momento ‘Hollywood’ nunca foi para o ar”, adianta Nuno Ribeiro.