Rita Jorge: “Foi amor à primeira vista”

Entrevista

08-01-2024

# tags: Eventos , Vida de Eventos

Rita Jorge chegou à área dos eventos “um pouco por acaso”, mas percebeu, desde cedo, que era neste universo que queria trabalhar.

Rita Jorge, da direção de produção da Essência do Vinho, conta que “foi amor à primeira vista”. “A minha formação universitária foi numa área diferente, mais vocacionada para a comunicação, mas, depois de ter feito um trabalho para a faculdade numa unidade hoteleira 5 estrelas, acabei por ir para lá trabalhar mal terminei o curso”, avança a profissional, que passou por “quase todos os departamentos do hotel, que, na altura, era o hotel 5 estrelas no Grande Porto com mais salas para eventos”.

Nessa unidade hoteleira, “fazíamos de tudo um pouco, desde congressos médicos, reuniões de laboratórios farmacêuticos, estágios de equipas de futebol ou eventos sociais”. Não foi preciso muito para ter certezas…“Cedo percebi que era nesta área que queria trabalhar. Comecei a investir em formação mais específica e por aqui fiquei até hoje!”

Depois da experiência no hotel, Rita Jorge passou por várias empresas da área da organização de eventos, “até chegar à Essência do Vinho, líder nacional na organização de eventos eno-gastronómicos, onde estou há 12 anos”, frisa.

“A diversidade, as pessoas, a concretização das ideias que começam no papel e que depois ganham vida nos eventos que produzimos” são os grandes fatores de motivação de Rita Jorge, que, desta atividade, gosta “da agitação, da falta de monotonia, da adrenalina da véspera de abertura e da gestão do imprevisto”.

Os fatores que os profissionais não conseguem controlar, “como as condições atmosféricas nos eventos ao ar livre”, como exemplifica, pesam do outro lado da balança, a dos aspetos menos positivos desta atividade.


“Das pessoas aos lugares, fica sempre algo para contar”

É difícil escolher o evento mais marcante do seu percurso. Na dúvida, destaca dois. “Por um lado, o Euro 2004, pela dimensão, pela diversidade de equipas envolvidas, pela projeção internacional que teve. Por outro lado, o Peixe em Lisboa, um evento gastronómico super completo e dinâmico, que, do meu ponto de vista, foi pioneiro na área, mostrando a riqueza da nossa cozinha de mar e a mestria dos nossos chefes de cozinha”, explica.

Quem está no terreno vê-se, por vezes, perante situações, que, no momento, não parecem ter piada, “mas, quando olhamos depois de tudo ter passado, fartamo-nos de rir”. Rita Jorge comenta que “ainda hoje acho engraçado um episódio do meu primeiro Peixe em Lisboa”.

“Tínhamos vários chefes de cozinha convidados, portugueses e estrangeiros. Aqueles que não conhecia, pesquisava sempre a respeito, para saber um pouco do seu percurso e poder reconhecê-los mal os visse pessoalmente. Não fiz essa pesquisa com um deles, que nos tinha enviado previamente a sua fotografia para efeitos de comunicação. Achei que seria suficiente. O que eu não sabia era que a fotografia era antiga e mostrava uma pessoa totalmente diferente da que eu estava a ver. Dirigi-me ao seu assistente, pronta a quebrar o gelo e convicta que seria o chef, mas não era.” Rita Jorge conta que o assistente, “ainda mais atrapalhado” do que ela, “começou a fazer gestos e a falar quase em surdina para me dizer que estava errada, apontando para a pessoa certa”. Não sabe se o chef teria ficado satisfeito com a confusão, nem sequer sabe, até hoje, se o chef percebeu, mas continua “a achar piada à situação”.

Rita Jorge avança com outra história engraçada; esta, mais recente, que aconteceu na Essência do Vinho Porto. “Antes da abertura do evento, fazemos sempre um briefing de explicação sobre o evento ao staff; como funciona, o que vai acontecer, o que podemos ou não permitir. À equipa que controla a entrada nas salas de prova informamos que só entram as pessoas cujo nome consta da lista de inscritos, membros da organização devidamente credenciados e os oradores.”

Até aqui, tudo normal. Até que, durante uma dessas provas, liga o diretor da empresa. “Rita, fale aqui com o menino que está na porta da Sala do Tribunal, porque ele não me deixa entrar na prova”, cita. Rita Jorge estava perto e correu para perceber o que se passava. “Efetivamente, o nosso diretor não tinha a sua credencial e, como o rapaz que estava na porta não o conhecia, não permitiu a sua entrada. Achei piada à atitude e fiquei orgulhosa do seu comportamento, já que nem sempre conseguimos que cumpram as nossas indicações com tanta convicção.” Esta convicção deu frutos, já que lhe valeu “mais tarde, um estágio connosco e, hoje, é um dos membros da nossa equipa”.

Da caixa de memórias fazem também parte aqueles momentos que podiam não ter corrido bem. “Felizmente, não posso dizer que algo tenha corrido mesmo mal, mas houve uma vez, num serviço de catering que fui fazer para o 50º aniversário de uma tradicional empresa nacional, em que a carrinha frigorífica avariou antes da última viagem e tivemos que levar o que faltava nos carros pessoais da equipa”, lembra. “Foi um risco grande, mas era isso ou a não realização de um evento para mais de 250 pessoas”.

São mais de 20 anos a somar eventos, a guardar memórias, a acumular momentos memoráveis, e por isso “as histórias são imensas – das pessoas aos lugares, fica sempre algo para contar”. Como é natural, os primeiros eventos em cada área marcaram-na bastante.

“Nunca me vou esquecer do primeiro serviço de catering que fiz, numa tenda enorme na Alameda do Estádio do Dragão. O que ia ser um jantar temático sentado para 500 pessoas, com uma super animação, acabou com quase 700. Era um jantar de lançamento de produto de um laboratório farmacêutico”, indica. O que aconteceu é que “cerca de 200 convidados ‘se esqueceram’ de confirmar a presença do acompanhante, mas ninguém se ‘esqueceu’ de aparecer. Claro que a tenda não esticava e aumentar assim quase 200 pessoas tornou-se impossível”. E perante o desafio, a solução vestiu-se de azul e branco. “A sorte foi termos o Estádio do Dragão ao lado, onde também fazíamos eventos. Tínhamos uma cozinha e material disponível. Do nada, tivemos que improvisar um jantar para mais 200 pessoas, num espaço diferente, tudo para não deixarmos o cliente sem resposta.”

Outro evento “super especial” foi a primeira Essência do Vinho Porto. “Tive a sorte de ser a edição comemorativa do 10º aniversário. Estava na empresa há dois meses e fiquei logo com essa tremenda responsabilidade”, recorda Rita Jorge. “Além do tradicional evento no emblemático Palácio da Bolsa, fizemos uma gala na Casa da Música, com jantar, um concerto dos GNR e a entrega de prémios da nossa revista. Foi uma semana de muita tensão e emoção, mas correu da melhor forma”, remata.

© Maria João Leite Redação