Célia Caldas: “A vida é feita de desafios e eu gosto de os abraçar”

Entrevista

21-07-2025

# tags: Eventos , Vida de Eventos

Célia Caldas trocou o universo da enologia “por briefings e estratégias de vendas”, dando assim início à aventura no mundo dos eventos.

Célia Caldas cresceu “atrás de um balcão”, auxiliando os seus pais no negócio comercial e aprendendo, desde cedo, “o valor do trabalho, do atendimento ao cliente e da resiliência”. Apesar de tudo o que aprendeu com essa experiência, “sabia que queria seguir um caminho diferente” e entrou no mundo da hotelaria.

“O meu percurso começou onde começam muitas histórias: num restaurante, a equilibrar bandejas e a sonhar alto. Enquanto tirava a licenciatura em Gestão Hoteleira na ESTTM, em Peniche, trabalhava como empregada de mesa.

Rapidamente, apaixonei-me pelo mundo dos vinhos, especializei-me em enologia e tirei um curso de sommelier. Subi a chefe de sala, dei formação durante cinco anos e, em 2016, surgiu a oportunidade que mudou tudo: integrar o departamento comercial na área de MICE. Troquei os copos de vinho por briefings e estratégias de vendas, e assim começou a minha aventura no mundo dos eventos”, conta.

Toda a experiência operacional obtida quando tinha entre os 20 e os 30 anos de idade foi “a minha maior escola e a base do meu sucesso como executiva de Vendas, account manager e, mais tarde, como sales manager”. Célia Caldas trabalhou na Marriott ao longo de 19 anos, “uma jornada que me ensinou tudo sobre excelência, detalhe e resiliência”.

“Mas a vida é feita de desafios e eu gosto de os abraçar.” E, por isso, decidiu “dar o salto e abrir a minha própria agência de eventos”, a D&C Event Solutions, criada com o sócio Diogo Castanheira. “Foi, sem dúvida, a melhor decisão que podia ter tomado”, frisa.

“Quando tudo parece impossível… lá estamos nós a tornar possível”


Da indústria dos eventos, gosta de tudo, “até da parte de prospeção para captar clientes; da adrenalina, da criatividade, da loucura controlada”, refere. “Mas o que realmente me motiva todos os dias? O meu sócio Diogo. Somos uma dupla imparável, rimos muito a trabalhar e levamos diversão para cada projeto. Dizem que, quando fazemos o que gostamos, não trabalhamos um dia na vida – e eu sou a prova viva disso”, sublinha Célia Caldas, para quem “cada evento é uma nova aventura, um novo desafio e, acima de tudo, uma oportunidade de criar algo único”.

Por outro lado, gosta pouco do “já agora”. “Os pedidos de última hora que desafiam as leis da física e do tempo! Mas, no fundo, este caos organizado faz parte da adrenalina da profissão. Quando tudo parece impossível… lá estamos nós a tornar possível”, afirma.

Os desafios fazem parte de quem vive uma vida de eventos. E um dos eventos mais desafiantes do seu percurso foi “organizar um evento de uma semana para um laboratório americano que combinava corporate e lazer para as famílias”, aponta.

“Tínhamos de criar duas realidades dentro do mesmo espaço: de um lado, um ambiente formal e profissional; do outro, um parque de diversões para miúdos e graúdos. Foi um quebra-cabeças logístico, até porque o hotel não tinha espaços comuns para alocar a totalidade do grupo e foram várias tendas construídas à medida para cada festa temática. Mas ver tudo a correr bem e perceber que conseguimos criar um evento memorável para todos foi uma sensação incrível”, conta.

“Situações inesperadas fazem parte do espetáculo”


Célia Caldas não consegue escolher um momento mais hilariante que tenha passado num evento, porque todos “têm a sua dose de comédia”. É que “trabalhar nesta área é viver entre o planeamento e o caos, onde as situações inesperadas fazem parte do espetáculo”.

Afinal, há sempre imprevistos que acontecem: “um orador que continua a falar sem perceber que o microfone foi desligado; convidados a cumprimentarem desconhecidos como se fossem velhos amigos; casamentos onde a noiva trocou literalmente o futuro marido pelo padrinho; bolos de casamento desaparecidos antes do momento do corte...”. Para Célia Caldas, “há sempre um momento fora do guião e é exatamente isso que torna este mundo tão emocionante e apaixonante”.

E quanto aos momentos em que as coisas não correram exatamente como o planeado, recorda um que “merece um Oscar do caos”: “Um evento espetacular, um grupo entusiasmado e uma banda conhecida a atuar. Tudo perfeito... até que o teto da tenda cedeu e uma cascata de água caiu sobre a banda em plena atuação.”

Célia Caldas conta que “o pânico foi imediato, mas, como nos eventos não há tempo para lamentações, em segundos a equipa correu para salvar os instrumentos e reorganizar o espetáculo. O verdadeiro espírito de ‘the show must go on’”, adianta.

“Se houver paixão, tudo o resto se aprende!”


O universo dos eventos é dinâmico e Célia Caldas acredita que “os eventos vão ser cada vez mais imersivos, tecnológicos e sustentáveis”. “O digital está a transformar a experiência, mas nunca substituirá a magia do presencial. Acredito que o futuro será mais autêntico, com menos show-off e mais impacto real. Eventos que não são apenas vistos, mas sentidos”, explica.

Às novas gerações que estão a entrar na indústria dos eventos, Célia Caldas deixa o conselho: “Acima de tudo, apaixonem-se pelo que fazem. Se houver paixão, tudo o resto se aprende!”

© Maria João Leite Redação