Joana Andrade Nunes: “Uma ‘pessoa de pessoas’ que não conhece a monotonia

Entrevista

20-02-2023

# tags: Protocolo , Eventos , Vida de Eventos

Do Direito para o protocolo de eventos. O caminho pode não parecer o mais linear, mas para Joana Andrade Nunes foi o percurso natural de quem, além da paixão pela comunicação, gosta de dar vida a novos projetos e de estudar os comportamentos culturais diversos e o seu impacto.

Mestre e licenciada em Direito pela Faculdade de Direito de Lisboa, Joana Andrade Nunes é Consultora de Etiqueta, Protocolo e Comunicação. Uma atividade que, confessa, junta todas as áreas que a apaixonam: Direito (“não nos esqueçamos que o protocolo, per se, é direito”), comunicação, docência e a arte da diplomacia e de bem receber.

Para percebermos como se conjugam estas paixões, é necessário recuar às anteriores experiências, profissionais e pessoais. Após o curso, foi assistente convidada na Faculdade de Direito de Lisboa e advogada numa sociedade de advogados.

“O curso de Direito (ainda) é um curso com um pendor tradicional e em que a exigência no domínio da arte de saber estar e comunicar é condição sine qua non para ter sucesso”, relembra, sublinhando que “saber estar, saber comunicar, saber respeitar o ‘código silencioso’ que o contexto profissional e académico nos exige, é fundamental para vingar no contexto jurídico”. “Não é, como tal, de admirar que muitos diplomatas e embaixadores sejam licenciados em Direito”, exemplifica.

Um novo rumo

“Em 2017, e não obstante continuar apaixonada pelo mundo do Direito — “uma vez advogada, advogada para toda a vida” — , decidi tomar um novo rumo”, conta.

Nesta decisão terão também pesado algumas características pessoais (e até genéticas). Da mãe terá herdado “a paixão por comunicar e por criar / organizar eventos”: “É professora, mas o ‘bichinho’ por criar teatros, musicais, festivais, etc., falou sempre mais alto e dedicava o tempo livre a preparar os mesmos. Eu e o meu irmão rapidamente começamos a colaborar!”, recorda. Além disso, sendo beirã, admite gostar de “dominar a arte de bem receber”.

A esta conjugação de fatores juntou-se ainda “o gosto por dar vida a projetos ‘fora da caixa’ e de construir projetos à medida de cada cliente”: “Gosto de fazer diferença na vida das equipas; de dar aulas; de contribuir para o sucesso de cada equipa; de potenciar o melhor que cada profissional tem dentro de si, sedimentando a sua marca pessoal”.

Fazer a diferença no “serviço público”

É justamente essa perceção de que faz a diferença na vida dos colaboradores e das empresas que a motiva a continuar. “Tenho o privilégio de fazer o que me apaixona; de não sentir que trabalho um único dia na minha vida. Pode parecer um cliché, mas quando somos apaixonados pelo nosso trabalho, quando temos um propósito claro e somos reconhecidos, o nosso trabalho não é em vão”.

Uma história marcante contada na primeira pessoa

“Há uns meses, recebi um e-mail de uma finalista do curso de Direito a agradecer o conteúdo que publico no meu site e, principalmente, no Instagram. Partilhou que se considera uma jovem bem-educada e com valores, mas que vinha de um meio humilde e não teve oportunidade de conhecer as normas de conduta que, social e profissionalmente, são esperadas. Quando veio para Lisboa, sentiu um ‘choque cultural’, tendo alguma dificuldade em enquadrar-se no mesmo. Agradecia, de coração, a informação que tenho partilhado, pois já a ‘salvou’ em diversas ocasiões. (...) Não há, para mim, maior reconhecimento do que saber que faço a diferença na vida dos outros, muitas vezes não tendo contacto direto”.

À medida do cliente

Do que gosta mais na sua atividade? “Tal como um alfaiate constrói um fato à medida para cada cliente, saber que tenho o privilégio de criar um plano de consultoria e formação à medida do meu cliente”.

Já quanto aos aspetos menos positivos, apenas aponta “alguns espinhos” da vida de empreendedora: “As noites são muito longas; os fins de semana são tempo de trabalho e o conceito ‘férias’ sem trabalho tem sido uma miragem”. Mas isto, reforça, “é a outra face da moeda de quem gosta de dar vida aos seus projetos e de empreender”.

O comensal distraído e o caos em Lisboa

A vida de eventos é feita de risos, mas também de imprevistos. Joana Andrade Nunes partilhou alguns com a Event Point.

Um deles aconteceu num jantar profissional, onde, devido à ausência de cartões na mesa, um comensal que estava ao seu lado não a reconheceu: “Na sequência do tema que estávamos a abordar (a ausência de resposta aos contactos profissionais), comentou que tinha lido um artigo sobre o tema, no LinkedIn, de uma consultora de etiqueta e protocolo que se chama Joana Andrade Nunes. Que concordava com o artigo e que o tinha feito circular pela empresa. Comentava que a autora partilha artigos muito oportunos e aborda, sem receio, temas fraturantes. Dirige-se a mim e pergunta: ‘A Joana também concorda?’ Com um sorriso, respondi que sim e que agradecia o contributo”. O equívoco foi desfeito por outro comensal: “Dr. A., tem a autora dos artigos ao seu lado; pode sugerir próximos temas para reflexão”.

Já no que respeita a imprevistos, Joana Andrade Nunes teve recentemente a prova de que, “por mais organização, planos B, C e D, e empenho na organização de cada evento, é impossível controlar todas as variáveis”. Nesse dia, uma terça-feira, deveria ter estado no programa Praça da Alegria, RTP1, no Porto e, como habitual, tencionava viajar no Alfa das 7h00. “Por coincidência, foi o dia do ‘terror’ em Lisboa. Ao chegar à Gare do Oriente, pelas 6h00 da manhã, sou informada, na estação, que as linhas estavam inundadas e que não tinham data estimada para o início da circulação. Pensei, de imediato, deslocar-me de carro garantindo que chegaria ao estúdio da RTP, no Porto, a tempo. Quando chego ao parque de estacionamento, estava inundado e era impossível sair sem auxílio da proteção civil. O caos nas ruas de Lisboa impossibilitava, também, qualquer deslocação”.

Cancelamentos de voos que colocam em causa a realização do evento/formação são, para uma “perfecionista e muito organizada, uma realidade difícil de aceitar”. No entanto, “havendo bom senso entre as partes, seguramente que se encontrará uma solução”, conclui.

© Olga Teixeira Redação

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