Querem factor “uau”?

Opinião

10-01-2022

# tags: Briefing , Agências , Concursos , Clientes , Eventos

Vamos falar do factor “uau”? Vamos. Muitas das vezes descrito, também, como: tecnológico, futurista, “tchanan” ou até mesmo surpreendente.

Não tenho memória, desde que comecei o meu percurso nos eventos, de um briefing onde não aparecesse uma destas premissas. O significado delas é que ainda está por descobrir e algo me diz que ficará durante os próximos anos. Sabem porquê? Porque de uma maneira ou de outra, acabamos sempre por conseguir incutir esse factor.

Muitas agências de eventos acabam por ser (demasiado) permissivas, e de tudo fazem para conseguir “surpreender”, porque, efetivamente, hoje em dia, ninguém quer ou pode deixar de responder a um briefing, mesmo que esse briefing não diga rigorosamente nada, nem nos dê quaisquer linhas orientadoras.

Mas vamos analisar todo o processo até ao momento em que, finalmente, conseguimos descobrir aquele que nós, gestores de eventos, consideramos um fator distintivo para o evento em questão.

Primeiro momento: Cá vamos nós outra vez!

Assim que, num briefing, lemos qualquer um dos adjetivos que já mencionei, deparamo-nos, imediatamente, com o início daquilo que será um processo moroso. (Digo isto para ser simpática, porque, na realidade, o que acontece é um processo exaustivo, com um infinito bater de bolas, quais jogadores de padel).

Depois de respirarmos fundo e vermos o semblante da nossa equipa a mudar– vamos à parte em que perguntamos ao cliente o que é o factor “uau”.

É focar na cenografia do evento? É ter tecnologia topo de gama? É ter uma banda internacional? É ter um momento de stand up comedy? É ter um storytelling do início ao fim? O cliente não sabe e nós, numa primeira fase, também não. É aqui que pegamos no armamento pesado e vamos com tudo.

Agora perguntam vocês: “Mas, Catarina, nem tudo é mau. Podem não saber exatamente o que o cliente quer, mas garantidamente que com um briefing desses existe um budget avultado para fazer o evento, certo”?

Não, errado! Antes pelo contrário. O cliente quer um evento que pareça o Cirque du Soleil e dá-nos um orçamento para imprimirmos um painel 2x2 (sem iluminação) com a imagem de um circo que saiu de moda nos anos 40.

Conhecem a máxima da Expectativa vs. Realidade, não conhecem? É com isso que o nosso mercado lida diariamente.

Segundo momento: O Brainstorming!

Segue-se a parte da reunião da equipa, já com o devido armamento, onde juntamos ideias e chegamos a um alinhamento que tenha nexo para o evento, mas, adivinhem, por norma, nestes casos, encravamos sempre no factor “uau”.

Como não desistimos, voltamos a perguntar ao cliente o que é que ele acharia altamente distinto para este evento.

As respostas tendem a ser evasivas… Pedem-nos aquilo que faz activar o modo “bom senso de evento”, e para seguirmos o nosso feeling.

Terceiro momento: A proposta e o orçamento!

Normalmente é aqui que começamos a perceber que as ideias que temos de “uau” tendem a ser mais caras, porque nunca foram vistas, ou porque, simplesmente, precisam de tempo e recursos humanos para serem trabalhadas.

(É verdade: por muito surpreendente que seja, as ideias demoram algum tempo a serem desenvolvidas. Por isso, queria pedir, gentilmente, que os clientes “uau” ou não “uau” nos dessem um bocadinho mais do que três dias para trabalharmos as propostas).

É nesta fase que voltamos ao cliente e que explicamos que com o budget que tem disponível será difícil ter um holograma do CEO, mas que, ainda assim, vamos dar o nosso melhor para não defraudar as expectativas.

Quarto momento: A apresentação da proposta

Depois de uma longa luta a tentar perceber como iríamos tirar o coelho da cartola, lá vamos nós, confiantes, apresentar ao cliente aquela que consideramos ser a melhor proposta para aquele evento. Quando achamos que acertámos na mouche ouve-se um silêncio, quase constrangedor, e vem a célebre frase: “não era bem disto que estava à espera, achei que seria mais cativante”.

Bom, aqui escuso de me alongar, porque há poucas coisas a acrescentar, tendo em conta tudo o que já foi descrito.

Momento da conclusão:

Permitam-me que conclua este artigo invertendo os papéis e pedindo às marcas e aos clientes que também eles nos surpreendam. Sabem o que é que nós, gestores de eventos, consideramos O factor “uau”? Um bom briefing.

© Catarina Messias Opinião

Gestora de eventos na Desafio Global

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