APECATE alerta para prejuízos acima dos 300 milhões

16-03-2020

A associação do setor está a monitorizar o impacto económico.

A APECATE – Associação Portuguesa das Empresas de Congressos, Animação Turística e Eventos está a monitorizar o impacto económico provocado pela Covid-19 nas empresas do setor. Ana Fernandes, vice-presidente da APECATE, dá conta do que tem vindo a ser feito pela associação e quais as medidas propostas ao governo. Garante ainda que o setor está unido e solidário.

Qual é o impacto económico que está a ter esta situação no setor dos eventos e congressos?

A APECATE está desde o início do mês a monitorizar o impacto económico junto do sector através de questionário direto aos empresários. O que detetamos é que esta é uma situação em evolução constante, com tipologias de eventos a serem afetadas sequencialmente. Os cancelamentos/adiamentos iniciaram no setor das feiras e da saúde. Na ultima semana com o encerramento de espaços municipais, foram afetados o sector corporate e os eventos culturais. Contando que haja uma evolução da situação atual a partir de final de Maio, e contando que os eventos agendados para Junho ainda se realizem, podemos falar de um impacto atual na ordem dos 150/200 milhões de euros, que rapidamente poderão crescer para prejuízos acima dos 300 milhões de euros se não conseguirmos recuperar a atividade antes do Verão.

Nestes dados não estamos a contabilizar a animação turística que estava nesta fase a preparar a atividade de Primavera/Verão, período forte de atividade.

Estamos a falar de um universo de quantas empresas e trabalhadores afetados?

Agregados nos dados da APECATE temos mais de 200 empresas do sector dos eventos (não incluímos animação turística) e mais de 30.000 postos de trabalho na cadeia de valor.

Ainda não conseguimos ter dados para os trabalhadores ocasionais/prestadores de serviços em recibo verde, mas o impacto é enorme, principalmente no trabalho sazonal.

Que medidas práticas a APECATE propõe nesta altura?

As urgentes: acesso ao microcrédito para alimentar tesouraria das empresas e possibilitar a manutenção dos postos de trabalho, isenção de pagamento de impostos enquanto se mantiver a situação.

A médio prazo é necessário pensar a recuperação económica e o apoio ao sector do Turismo e às empresas vai ser fundamental. Esta crise mundial vai alterar certamente os hábitos de viagem e dos próprios eventos. Podemos encarar um novo paradigma que poderá afetar positiva ou negativamente o sector.

Entre as medidas estarão as questões da promoção interna e externa, a presença em feiras, os fundos de captação de eventos, novos espaços para eventos, entre outras.

Em relação às medidas já anunciadas, qual é a posição da APECATE?

Hoje enviamos ara a SET e para o Ministro da Economia as nossas observações sobre a Portaria 71 A-2020. Apesar das medidas se enquadrarem nas principais reivindicações do sector, as condições de acesso afastam muitas das empresas.

É urgente olhar para as condições específicas deste setor e permitir o acesso imediato às medidas.

Este era um setor que apresentou crescimento em janeiro e fevereiro. O ano de 2020 apresentava-se com um ano de grandes expectativas e as empresas estava dimensionadas para isso. De repente março há uma quebra abrupta, ainda não acompanhada de questões contratuais e fiscais. Isto faz com que grande parte das medidas desta portaria só seja possível o acesso em abril ou maio, o que pode ser muito tarde para muitas empresas.

Estamos a lutar por novas e mais específicas medidas, e contamos ter novidades em breve.

Sendo um setor com muitos trabalhadores que passam recibos verdes, que medidas concretas podem ser tomadas para apoiar também esses trabalhadores?

Os recibos verdes têm de ser enquadrados nestas medidas. Sabemos que o Governo está atento. Isto significa que têm de ter também acesso ao microcrédito, à isenção fiscal e à formação.

Temos que conseguir manter estes recursos em Portugal e prontos para entrar no ativo, logo que as empresas comecem a trabalhar.

Como é que as empresas estão a reagir neste primeiro momento?

Existe uma grande solidariedade do setor. Negociar adiamentos e cancelamentos são o topo da hierarquia, pois só com esta negociação é possível ter uma visão para a manutenção das empresas e do emprego.

A segunda medida prende-se com os recursos humanos. E aí cada empresa tem tido a sua opção. Neste momento 90% dos recursos humanos do setor estão em casa, em teletrabalho, a cuidar dos filhos ou em férias. Sabemos que muitos vão aderir ao layoff e outras à opção de Formação. Mas só o prazo que durará esta crise poderá garantir o evitar de medidas mais drásticas.

Qual é a expetativa em termos de cancelamento de eventos? Inclui maio, Junho?

Numa visão otimista junho ainda continua com eventos agendados. Tudo vai depender da capacidade do país e do mundo conter a propagação do vírus.... na realidade não depende do sector. As empresas estão prontas para começar a trabalhar.

O facto de este ser um setor sem dados, estatísticas de quanto vale, quantos postos de trabalho garante, pode levar a uma subvalorização dos impactos? E na sequência disso a apoios em montantes insuficientes?

É neste momento de crise que percebemos que a batalha da APECATE para conseguir o Registo do Sector, e um estudo anual de impacto económico e emprego faz sentido.

Os apoios poderão ser sempre insuficientes, pois os recursos são naturalmente escassos e nestes processos há sempre empresas que possam não conseguir sobreviver. Daí termos aberto a nossa base de comunicação a todo o mercado, associados ou não, para termos um espelho claro da realidade. Nunca será perfeito, mas estamos a trabalhar arduamente para fazer o trabalho que já deveria estar feito de monitorização do sector,

 

Cláudia Coutinho de Sousa